A grandeza dos primeiros vereadores

Atualmente as câmaras municipais são dominadas pelos partidos do Centrão. No passado, por trabalhistas e social-democratas

A grandeza dos primeiros vereadores

Atualmente as câmaras municipais são dominadas pelos partidos do Centrão. No passado, por trabalhistas e social-democratas
Mäder, a grande personalidade oestina. O inglês George Samways, Jeca Silvério, Guerino Viccari e Érico Pruner, vereadores que honraram os mandatos unindo suas comunidades

Há muitas queixas sobre a atuação dos vereadores nas câmaras municipais, por debates irrelevantes, polarização ofensiva e excesso de bajulações. Um olhar ao passado mostra que os primeiros vereadores eleitos no Oeste paranaense tinham a qualidade de ótimos deputados estaduais e, de fato, alguns chegaram à Assembleia Legislativa, como Fidelcino Tolentino, à Câmara Federal, a exemplo de Paulo Marques, e até ao Senado.

Em 1914, quando ainda não existiam nem Cascavel (1930) nem Toledo (1946), o Município de Foz do Iguaçu abrangia toda a região Oeste e seus primeiros legisladores eram chamados de “camaristas”.

Os primeiros nove camaristas foram reduzidos a seis em 1916. Dos primeiros legisladores municipais se sabe pouco, pela inexistência de imprensa local nos primeiros anos e por falta de assessores para o arquivamento de informações. Mais parlamentavam que escreviam.

A primeira Sessão da Câmara Municipal de Vila Iguaçu, como a cidade era denominada na época, foi realizada pelos camaristas em 13 de junho de 1914. Sem um local próprio para o funcionamento do legislativo municipal, o prédio da antiga Colônia Militar foi requisitado para a realização das sessões até que a Câmara tivesse uma sede.

Uma Câmara de parentes

O primeiro presidente da Câmara, eleito e empossado em 15 de outubro de 1914, foi Ignácio de Sá Sottomaior Ramos (1884–1969), depois nomeado fiscal do Tesouro (Mesa de Rendas), precursora da Receita Federal, em 1929. No atual prédio da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu, a plenária leva seu nome.

Nesse início, o Legislativo parecia uma reunião familiar. Outros vereadores da primeira legislatura eram o major Fulgêncio Pedroso de Almeida e seu irmão Accácio Pedroso, por sua vez cunhado de Sottomaior.

Destacado para servir na Colônia Militar em 1906, Fulgêncio mais tarde abriu uma casa comercial na vila. Accácio, além de vereador, comerciante, professor e inspetor regional de ensino do Território Federal do Iguaçu, foi nomeado prefeito em 1944.

Também militar, Fidélis Alves, operador da estação telegráfica da antiga Colônia do Iguaçu, era o secretário da Câmara e substituiu Pedroso Ramos na Presidência em 1916.

Uma das principais figuras históricas da região, George Samways (1867–1951), conhecido como “Jorge Inglês”, pois efetivamente nasceu em Dorset, no Sul da Inglaterra, foi vereador e depois prefeito. Era muito respeitado por sua cultura e inteligência.

Estrangeiros, mas patriotas brasileiros

Um dos mais lembrados vereadores dos primeiros tempos, o comerciante Marcelino Risden (1891–1945), foi precursor de Itaipu, o primeiro oestino a ter luz em casa, proveniente de um gerador elétrico instalado junto ao Rio Monjolo. Aliás, era dele o primeiro caminhão a circular na região – um Ford a manivela.

Nessa época não havia restrições a estrangeiros em funções de autoridade. Como o inglês Samways, que foi vereador e depois prefeito, na segunda legislatura o ervateiro argentino Jacinto Palacín, que chegou a ser sócio do francês Domingo Barth, dono de grande parte do velho Oeste das obrages estrangeiras, foi vereador e presidente da Câmara Municipal até 1920.

O mais destacado dentre todos os primeiros vereadores do Oeste, o engenheiro Othon Mäder (1895–1974), ao assumir a Prefeitura de Foz do Iguaçu favoreceu a Jeca Silvério iniciar a formação da cidade de Cascavel.

Sua biografia, porém, é muito maior. Ele antes de ser vereador e prefeito de Foz do Iguaçu em 1931, Mäder atuou como delegado de Terras da Região Oeste (1920/24). Depois foi prefeito de Ponta Grossa (1932), secretário de Estado da Agricultura (1934) e senador de 1950 a 1959, além de tentar o governo do Estado em 1955.

Idioma espanhol e peso argentino

Mäder se destacou nacional e internacionalmente por denunciar a corrupção que deu origem aos conflitos de terras no Sudoeste e Oeste do Paraná.

Seu papel na região não parou nas funções administrativas. Além de criar Cascavel com terras e ações governamentais, sua atuação à frente da Prefeitura de Foz do Iguaçu foi considerada a melhor do Brasil.

Ao assumir, vendo que só se escrevia e falava em espanhol, determinou que todos os ofícios, requerimentos, abaixo-assinados etc dirigidos à Prefeitura municipal somente seriam despachados se estivessem redigidos em língua nacional.

Como no comércio a moeda circulante era o Peso argentino, determinou que todos os anúncios comerciais e listas de preços precisariam ter os mesmos indicativos sobrepostos em idioma nacional e todas as taxas e impostos arrecadados pela Prefeitura só seriam cobrados e quitados em moeda brasileira (o antigo Real, que tinha o plural “réis”).

Mäder recolheu todo o dinheiro argentino que encontrou no cofre da Prefeitura (5.200 pesos), foi a Posadas e os converteu em dinheiro nacional. Além disso, determinou que todas as repartições públicas e entidades civis receberiam gratuitamente jornais de Curitiba, para manter a população informada sobre o que se passava na capital paranaense e no país em geral.

A tocha vermelha

Depois dele, na transição do Estado Novo para a semidemocracia instalada pela Constituição de 1946, houve muitas brigas entre os prefeitos nomeados e os vereadores. A situação só se normalizou após as primeiras eleições diretas municipais, em 16 de novembro de 1947.

O pleito pelo voto da população sepultava de vez as nomeações de prefeitos feitas pela vencida ditadura do Estado Novo. A União Democrática Nacional (UDN), cujo símbolo era uma tocha de fogo vermelho, foi na época um respeitado partido de oposição à ditadura, reunindo intelectuais e juristas.

Curiosamente, o primeiro prefeito que se elegeu pelo voto na região, Júlio Pasa, havia sido prefeito de Foz do Iguaçu nomeado pelo ditador Getúlio Vargas que a UDN combatia.

Pasa renunciou à nomeação como prefeito, encaixou-se bem na UDN, foi eleito pelo voto e manteve harmonia com o PTB e o PSD. Teve uma vida política de causar inveja, raramente vista em outros líderes no país, marcados por brigas, incompetência e corrupção.

Para sorte de Cascavel e Toledo, que na época faziam parte do vasto Município de Foz do Iguaçu, ele se preocupava com o desenvolvimento geral do Município e seu interior.

Pruner, Silvério, Viccari, Bordin

A União Democrática Nacional, além de eleger o prefeito de Foz do Iguaçu, elegeu o presidente da Câmara Municipal, Paulo Montanari, e os vereadores Washington Pereira Lacerda, Salomão José Zagury e Érico Francisco Pruner, quatro do total de seis.

Pruner foi um dos formadores da Rota Oeste e orientador do desenvolvimento do turismo em Foz do Iguaçu. Em 1949 o número mínimo de vereadores passou a ser ímpar (nove) e foram então empossados os vereadores Augusto Araújo (PTB), Balduíno Weirich e Jeca Silvério (PSD).

Silvério, de Cascavel, por dificuldades de transporte até Foz do Iguaçu para participar das sessões legislativas, pôde comparecer a poucas reuniões, sendo definido como subprefeito distrital.

Em 1952, com a criação dos municípios de Cascavel, Toledo e Guaíra, a Câmara de Foz do Iguaçu deixou de ser a Câmara do Oeste. Nesses três municípios, foram primeiros vereadores destacados Helberto Schwarz, eleito para a Prefeitura de Cascavel quatro anos depois, e Guerino Viccari, presidente da Câmara de Toledo.

Ligado ao Partido Libertador, Viccari, iniciador do movimento que deu origem às Comarcas de Toledo e Cascavel, assumiu a Prefeitura quando o prefeito Ernesto Dall’Oglio (PTB) foi cassado.

Em Guaíra, o vereador Antônio Bordin (https://x.gd/pEH8v), além de ser um dos fundadores de Palotina, teve um papel importante no combate aos conflitos de terras na região.

Os trabalhistas e os social-democratas, distanciando-se da tocha vermelha da elitista UDN, elegiam a maioria dos políticos até o fim do século XX. Atualmente, os eleitos se dividem principalmente em liberais e conservadores distribuídos pelos diversos partidos que compõem o chamado Centrão.

100 anos da revolução: Permissão para invadir

“Para atravessar os 400 m de largura do Rio Paraná e enfrentar a forte correnteza contavam os revolucionários com apenas o vapor Assis Brasil. Aprisionaram então para esse serviço o vapor paraguaio Bell. O grande problema passou a ser o destacamento paraguaio estacionado em Porto Adela. Como reagiria?

No dia 28 de abril, com 150 homens, João Alberto cruzou o Rio Paraná a bordo do Assis Brasil em direção a Porto Adela. Como a correnteza era muito forte e os motores do barco eram fracos o vapor demorou muito tempo para atravessar os 400 metros do curso d’água. Isso deu tempo ao oficial paraguaio que comandava aproximadamente 50 homens a tomar posição de defesa (Ruy C. Wachowicz, Obrageros, Mensus & Colonos).

João Alberto foi encarregado de apresentar ao comandante da guarnição paraguaia de Puerto Adela uma carta na quais os revolucionários expunham as suas razões:

“Por circunstâncias excepcionais e inapeláveis entramos armados no território de vossa Pátria. Não nos move, neste passo extremo a que nos impelem as vicissitudes de uma luta leal, porém intransigente, pela salvação das liberdades brasileiras, nenhuma ideia de violência contra nossos irmãos da República do Paraguai”.

Datado de 26 de abril, o documento levava as assinaturas do general Miguel Costa; coronel Luiz Carlos Prestes; tenentes-coronéis João Alberto, Juarez Távora, Cordeiro de Farias, João Cabanas; majores Coriolano de Almeida, Paulo Kruger da Cunha Cruz, Virgílio Ribeiro dos Santos; capitães Djalma Dutra, Ricardo Holl, Ary Salgado Freire, Lourenço Moreira Lima e Emídio Costa Miranda.

Cordeiro de Farias sobreviveu à revolução

 

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