Atualmente a política é dominada pelos partidos do chamado Centrão e se baseia em prometer soluções para os assuntos que assustam a sociedade, como a insegurança e o desemprego. Na década de 1950, em plena Guerra Fria, os eleitores eram pressionados a escolher entre os EUA e a União Soviética. A política já estava desmoralizada e o patriotismo ficava só no futebol.
No período semidemocrático 1946–1964 os partidos não tinham penetração no interior desabitado e eram controlados pelas colonizadoras, que colocavam seus dirigentes e empregados nos comandos partidários locais.
O país vivia, como agora, uma séria crise política e econômica no fim da década de 1950. Os efeitos positivos do desenvolvimentismo, como o avanço industrial e a expansão do comércio, eram apropriados pela classe alta, sob forte reclamação dos trabalhadores. Hoje é a classe média que mais reclama.
O presidente Juscelino Kubitschek enfrentava a oposição de quem tinha necessidades insatisfeitas, considerando que os recursos da União tirados de programas sociais foram concentrados na construção de Brasília, inaugurada em 21 de abril de 1960.
No Paraná, o governador Moysés Lupion acenava com a retomada do projeto de construir a sempre prometida ferrovia para ligar Paranaguá a Foz do Iguaçu, mas as colonizadoras pretendiam criar novos polos no interior e para viabilizá-los precisavam mais de estradas de rodagem abertas com urgência para plantar núcleos de serviços em suas margens.
Marechal só em 1955
Foi nesse quadro de política dominada pelas colonizadoras que surgiram em 25 de julho de 1960 importantes municípios desmembrados de Foz do Iguaçu e Toledo: Marechal Cândido Rondon (parte de Foz do Iguaçu e parte de Toledo), Matelândia, Medianeira, Palotina (parte de Guaíra e parte de Toledo), Umuarama (de Cruzeiro do Oeste) e Catanduvas (desmembrando-se de Guaraniaçu), com a lei 4.245. Com a mesma lei, Céu Azul passou a pertencer a Matelândia.
Marechal Cândido Rondon, comunidade iniciada uma década antes com a vinda das primeiras famílias, colonos de origem alemã vindos de Panambi (RS), era o desenvolvimento de um projeto da colonizadora Maripá. O primeiro a chegar foi Osvaldo Heinrich, mandado pelo pai no fim de 1949.
A ele se juntaram Erich Ritscher e Antônio Rockenbach, o trio que deu início à formação da Vila Flórida, localizada na chamada Zona Bonita, entre Toledo e os limites da propriedade da Companhia Maripá, no Rio Paraná. A primeira árvore foi derrubada em 7 de março de 1950, data que o Município instituiu como o Dia do Pioneiro.
O local foi batizado pela colonizadora em abril de 1951 com o nome de General Rondon, em homenagem ao estimado militar que pediu a união do povo brasileiro acima de qualquer divergência, testemunha das desastrosas aventuras armadas provenientes da desunião nacional em 1924, 1932 e 1935.
Em 6 de julho de 1953, ainda com o nome de “General Rondon”, foi criado o distrito administrativo pertencente a Toledo. Cândido Rondon, ao completar 90 anos, em 5 de maio de 1955, recebeu o título de marechal, e por isso, em 1960, o novo Município já surgiu com o nome de Marechal Cândido Rondon.
Matelândia, por sua vez, começou quando o Paraná, com base na Lei de Terras de 1892, ofereceu a famílias nacionais e estrangeiras concessões para formar colônias agrícolas.
Antes dos problemas de terra
Uma das concessões coube ao colonizador Miguel Matte, que obtendo uma vasta área de terras para colonização, em 1918, formou a Companhia Florestal do Paraná S/A, com sede em Foz do Iguaçu.
A família Matte chegou a trazer alguns migrantes gaúchos, mas quase ninguém ficou por faltar estrutura. O projeto enfrentou sérios problemas e a família Matte hipotecou parte da propriedade. O colonizador gaúcho Alberto Dalcanale levantou a hipoteca e ficou com as terras, organizando as empresas Gaúcha e a Pinho e Terras Ltda.
Dirigiam a Pinho e Terras os empresários Alberto Dalcanale, Luíz Dalcanale e Alfredo Paschoal Ruaro, com vasto conhecimento no ramo: haviam colonizado, entre outras, as cidades de São Miguel D’Oeste e Concórdia em Santa Catarina.
Para a venda de terras, criaram ainda a Colonizadora Matelândia, nome em homenagem à família Matte também passado à vila formada com a venda dos primeiros lotes urbanos.
Os primeiros a chegar, em meados de 1950, foram Benjamin Luiz Biazuz, que veio de Flores da Cunha (RS), e mais as famílias de Francisco Donadel, Antonio Menoncim, Avelino Molon e Gentil Picolli.
Em julho de 1952, o povoado foi elevado a distrito administrativo pertencente a Foz do Iguaçu e oito anos depois surge o município de Matelândia, com território desmembrado de Foz do Iguaçu.
A partir de 1953 iniciou-se em Matelândia o cultivo do café, atraindo famílias da região Norte paranaense, profundos conhecedores dessa cultura.
Ao chegarem, a maioria se empregava nas fazendas de café, mas uma parcela de migrantes optou por invadir terras consideradas devolutas ou de situação jurídica indefinida, motivando futuras situações de violência.
Casos de sucesso
Matelândia foi um sucesso ao instalar um novo polo de venda de terras e prestação de serviços, essencial à formação da Rota Oeste. O mesmo sucesso foi alcançado com Medianeira, cuja colonização foi empreendida pela Companhia Industrial Agrícola Bento Gonçalves, também dos irmãos Dalcanale associados a Alfredo Ruaro.
O núcleo urbano de Medianeira, nome em homenagem à santa padroeira, consolidou-se rapidamente. Em 31 de julho de 1952 foi elevado à categoria de Distrito Administrativo de Foz do Iguaçu, tornando-se Município em julho de 1960.
Palotina começa no final do inverno de 1953, quando as colonizadoras Pinho e Terra e Maripá trouxeram os primeiros moradores, vindos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul: Domingos Francisco Zardo, João Bortolozzo, Luís de Carli, Benardino Barbieri, João Egidio Clivatti, Eugenio Leczinski, Eurico Nenevê, Amado Vilaverde e Francisco Studzinski.
Em janeiro de 1954 foi rezada a primeira missa em um altar montado no que hoje é a Granja Possan, por padres Palotinos O nome da cidade vem da participação dos padres na formação do novo núcleo de colonização. Tornou-se distrito administrativo de Guaíra em abril de 1954 e judiciário em junho de 1957.
Quando parecia não haver mais obstáculos ao rápido crescimento de Palotina, em 4 de junho de 1958 o governador Moysés Lupion mandou a polícia cercar a cidade, cujas terras estavam em disputa judicial entre o colonizador Ruy Castro e o Estado.
Invasão e badernas
Indo além do cerco, os policiais invadiram a cidade e promoveram badernas. Com isso, boa parte dos dramáticos episódios ligados à luta pela terra na região estão ligados ao incrível caso de Palotina, em que um projeto de colonização perfeito no arranjo e na execução foi repentinamente atingido por uma situação na qual a Polícia Militar do Paraná foi mandada para reprimir a população palotinense.
Corajosamente, o colonizador Antônio Bordin correu para denunciar ao Exército as atividades criminosas que ocorriam contra os palotinenses e no dia 5 de junho de 1958 um pelotão de soldados do Exército ocupou a cidade e expulsou os policiais invasores.
Correndo processo na Justiça, em novembro de 1958 os colonos obtiveram no Supremo Tribunal Federal o reconhecimento unânime da posse daquela região para o colonizador Ruy Castro.
O Estado recorreu, mas se não fosse a providencial decisão do STF estaria inviabilizado um modelo positivo de ocupação territorial e imediata produção de alta qualidade.
Em movimentação política bem-sucedida, o Município de Palotina foi criado em julho de 1960, com a lei estadual 4.245, desmembrando-se de Guaíra e Toledo, ainda em meio a incertezas quanto ao futuro, pois restava confirmar os títulos de posse dos colonos.
A insegurança em Palotina só acabou em agosto de 1972, quando, depois de angustiante espera de muitos anos, os títulos de propriedade dos colonos foram confirmados pelo STF.
A primeira família: A iniciativa do barão
A extraordinária alta dos preços do café na Europa em 1823, pressionada pela ameaça de guerra entre França e Espanha, estimulou as plantações no Brasil. A possibilidade de expandir as lavouras de café para regiões férteis valorizava os amplos espaços inexplorados.
Entre Guarapuava e o Paraguai, espaço vazio era o que mais havia, em terras fertilíssimas na mesopotâmia dos rios Paraná, Piquiri e Iguaçu.
Ocupar essas terras requeria, mais que a presença militar, a ação produtiva a cargo de colonos interessados não só em erva-mate (que não era preciso plantar) e criar gado nos campos.
O Conselho de Província de São Paulo, em 10 de novembro de 1824, atendeu a um apelo de João da Silva Machado, futuro Barão de Antonina, aprovando a instalação de um povoado na Estrada da Mata, essencial para a circulação de pessoas e gado, que precisava de estruturas de apoio.
A povoação prevista, a futura Colônia de Rio Negro, foi projetada para colonos com vocação para a agricultura. Plantar povoações para produzir alimentos e prestar serviços aos viajantes ao longo do caminho era uma proposta sensata.
Rio Negro foi a origem da primeira família que viria adquirir terras e fixar moradia em Cascavel: Antônio José Elias, que não tinha filhos com a esposa Constantina Schiels, enviou de lá o cunhado Ernesto Schiels, que viria a ter uma vasta descendência.
O sobrenome da família teve diversas grafias em cartórios diferentes: Schiessl, Schilles e variações. Aqui todas elas serão definidas como Schiels, por homogeneidade e eufonia.
