“É preciso se encaixar para ser feliz?” Esse é o lema de uma cartilha inédita lançada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, do Adolescente e da Pessoa com Deficiência (CRIA), como forma de garantir mais visibilidade e informações sobre educandos com altas habilidades/superdotação (AH/SD) no Paraná. A cartilha é uma das ações previstas pela CRIA durante a semana em que se comemora o Dia Estadual das Altas Habilidades/Superdotação (10 de agosto).
O material é destinado a educadores, profissionais da área, famílias e à sociedade em geral, e traz informações sobre o que são AH/SD, como identificar, quais são as características intelectuais e emocionais, o que fazer após uma identificação de AH/SD, além de dados sobre os direitos e garantias legais para esse público e suas famílias.
“Desde que começamos a tratar desse tema, percebemos uma escassez de informações, o que deixa essa população vulnerável e invisibilizada. Conversamos com especialistas, famílias e estudantes nessa condição e desenvolvemos essa cartilha, com linguagem acessível, para que essa discussão ganhe espaço e essas pessoas tenham a proteção que precisam para desenvolver suas capacidades”, explicou o presidente da CRIA, deputado estadual Evandro Araújo (PSD).
A cartilha foi construída com base em evidências científicas e contou com a contribuição voluntária de especialistas na área: a professora Laura Ceretta Moreira, doutora em neurociência na educação e docente da UFPR; Solange Klinger, neuropsicopedagoga com ampla atuação no atendimento a crianças com AH/SD; e Lucinéia Menezes Meister, mãe de uma criança identificada com altas habilidades, que trouxe o olhar da vivência familiar.
Embora estimativas como a da National Association for Gifted Children, de 2022, apontem que 10% da população mundial apresenta traços de altas habilidades ou superdotação, os números de identificação ainda estão muito abaixo. No Brasil, os dados mais recentes do Censo Escolar 2024 indicam que apenas 44.171 estudantes com AH/SD foram identificados em instituições de ensino, o que representa apenas 0,09% dos 47,1 milhões de alunos matriculados em todas as etapas educacionais.
No Paraná, são 10.135 estudantes oficialmente identificados com AH/SD, um número expressivo em relação ao total nacional, mas ainda distante da realidade estimada pela ciência. Cidades como Curitiba (1.330), Londrina (1.110) e Maringá (898) se destacam nos números dos atualmente identificados.
“Levar esse conhecimento aos educadores, famílias e à sociedade ajuda a escancarar essa realidade. Existe, na sociedade, um estereótipo de que pessoas com altas habilidades/superdotação têm vantagem sobre as demais, que podem fazer tudo sozinhas. No entanto, essas crianças e adolescentes, quando não têm um acompanhamento adequado, tendem a desenvolver depressão, isolamento social e ansiedade, o que leva à evasão escolar”, disse Araújo.
Lei Estadual
O Paraná foi um dos estados pioneiros em criar uma legislação específica para tratar do tema. Em novembro de 2023, foi criada a Lei Estadual 21.743/2023, proposta pelo deputado Evandro Araújo, com as diretrizes gerais para ações e políticas públicas voltadas ao desenvolvimento das potencialidades de educandos com AH/SD na rede pública de ensino e à capacitação de educadores para ajudar na identificação dentro das salas de aula.
A mesma lei instituiu o dia 10 de agosto como o Dia Estadual das Altas Habilidades/Superdotação.
“Essa cartilha, portanto, faz parte do cumprimento dessa lei, que prevê também a conscientização, a formação e a capacitação. Só vamos alcançar isso com informação de qualidade, informação séria e técnica”, completou Araújo.