Em 17 de setembro de 1978 a Seleção de Beisebol de Cascavel sagrou-se campeã paranaense. Conforme o critério da época, a equipe, reforçada com outros jogadores da região, representou o Estado na competição nacional, obtendo logo a seguir também o título brasileiro.
Por desorganização do esporte nacional não ficaram registrados os dados dessa conquista. Só há registros completos do Campeonato Brasileiro de Beisebol Interclubes, várias vezes vencido por equipes paranaenses.
Hoje se conhece bem as trajetórias de Juliano Beletti, campeão mundial de futebol em 2002, como também de Ávalos e Preto Casagrande, campeões brasileiros pelo Santos F.C., em 2004, mas o beisebol de Cascavel nunca foi devidamente valorizado por ser modalidade com poucos praticantes, ficar no interior do país e depender exclusivamente das famílias dos jogadores.
Segunda força do beisebol brasileiro, só atrás de São Paulo, o Paraná desde 1933 tem equipes competitivas, começando a partir de Cornélio Procópio. Antes de vencer com a formação de Cascavel, a Seleção do Paraná já havia sido bicampeã brasileira nos anos 1950, logo após a Fundação da Federação Paranaense de Beisebol e Softbol, em 1955.
Esporte muito praticado no Japão, EUA, Cuba, México e Coreia do Sul, o beisebol foi trazido a Cascavel com a formação da colônia nipônica.
Brasil-Japão, sólida interação
Conquistar o campeonato paranaense e brasileiro como Seleção do Paraná em 1978 era o ponto culminante da presença ativa e influente da comunidade japonesa na região de Cascavel, iniciada em 1954 com a cartorária Aracy Tanaka Biazetto, filha de imigrantes japoneses nascida em Morretes (PR).
Esposa do contabilista Algacyr Biazetto, que veio para Cascavel substituir o secretário geral da Prefeitura, Celso Sperança, Aracy era professora normalista e prestou serviços ao Fórum até ser nomeada para gerir o Cartório do Distribuidor da Comarca de Cascavel.
As tradições nipo-brasileiras começaram em 5 de novembro de 1895, quando os embaixadores Arasuke Sone, pelo Japão, e Gabriel de Toledo Piza e Almeida, pelo Brasil, assinaram em Paris o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre os dois países.
A imigração japonesa no Brasil teve início oficialmente em 18 de junho de 1908, quando o navio Kasato Maru aportou no porto de Santos trazendo 781 japoneses para trabalhar nas fazendas de café do interior paulista.
Progressivamente eles se espalharam pelo Estado de São Paulo. Da região da Alta Mogiana foram em direção a Bauru e, posteriormente, ao Norte do Paraná, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa (SBCJ).
Integração com o Paraná
A tradição japonesa no Paraná começa entre 1913 e 1915, a partir de Cambará. Muitos japoneses passaram a se fixar no interior do Estado pelas mãos do vendendor Hikoma Udihara, que comercializava terras da companhia inglesa Paraná Plantations.
Filho de agentes do Correio, nascido em 1882 no Japão, Udihara estudou comércio, línguas estrangeiras e agrimensura, ensinamentos que empregou amplamente ao vir para o Brasil, aos 27 anos.
Para definir sua atuação no Norte paranaense, Udihara tomou o cuidado de coletar amostras de água da região e mandar para análise de qualidade, em São Paulo. A água era ótima e a partir dessa conclusão começa a trajetória dele como a mola propulsora da colonização japonesa no Norte do Paraná.
Até 1921, ano em que São Paulo suspendeu os subsídios que dava à imigração, chegaram cerca de 30 mil japoneses ao país. Em 1925, quando o governo japonês decidiu financiar a imigração, já havia no Brasil 40 mil nipônicos, a grande maioria na lavoura do café.
Em dezembro de 1929 a primeira caravana de oito compradores de terras japoneses chegava ao Patrimônio Três Bocas (atual Londrina), orientada pelo corretor Udihara.
Já presentes em vários pontos do Norte do Paraná, em 1956 os japoneses começam a se estabelecer em Ubiratã. No ano seguinte chegava a Toledo o torneiro mecânico Kenzo Takemori.
Mais tarde veio do Norte do Estado um pequeno grupo solicitando à colonizadora Maripá que destinasse uma área de várias colônias para diversas famílias de japoneses que pretendiam se estabelecer na região. Willy Barth liberou uma parte de um perímetro nas proximidades da recém iniciada vila de São Luiz. Surgia ali a Colônia Sol Nascente.
Governo japonês monitorou a vinda
Por essa época, a presença nipônica se acentuava em Cascavel, após a chegada de Hirosuke Nagasawa (1923–1906), o primeiro japonês nato a vir para a cidade, em 1956. Ele trabalhou em chácara, foi taxista e comerciante com bar, mercearia e sorveteria.
Nesse período, quando o Brasil começava a atrair um novo segmento de imigrantes, que vinha fornecer técnicos e mão-de-obra especializada para a implantação de fábricas no país, o loteador e colonizador Paulo de Abreu, associado ao comendador José de Oliveira, com uma longa trajetória de sucesso em empreendimentos no interior de São Paulo, resolveu oferecer terras no campo e lotes na cidade a imigrantes japoneses que tinham interesse em expandir suas atividades por uma nova fronteira agrícola.
Surgiu assim o Parque São Paulo em Cascavel. Por influência deles, demonstrando o interesse do governo japonês pelo destino de seus compatriotas no Brasil, chegou a Cascavel em 10 de agosto de 1965 uma comitiva de membros do governo daquele país para avaliar o potencial do Oeste paranaense.
Famílias japonesas se destacaram
Junto à comunidade de origem nipônica, as famílias Kimura e Inomata se destacaram, ao lado dos Fujihara, Oishi, Shizuno, Tanabe, Ishizaki, Murofuse, Kinoshita, Assakura, Beppu, Sato, Kato, Shintani, Matsuda e Yokoyama.
Em 1966 foi criada a Associação de Moradores de Cascavel Nihonjin-Kai, cujo primeiro presidente foi Tomáz Hiroschi Kimura. Ainda em 1966, o grupo de jovens iniciou a construção do campo de beisebol, a primeira atividade esportiva da associação.
Em julho de 1968 a Associação Nihondin-Kai mudou de nome para Associação Cultural e Esportiva de Cascavel (Acec). A sociedade, que se reunia no Ferro Velho Kimura, logo em seguida teve sua sede na Rua Natal e depois na Avenida Piquiri. O campo de beisebol ficava ao lado da estrada entre Cascavel e Espigão Azul.
Com presença ativa em todos os setores, no campo jurídico se destacou a atuação do advogado Mário Katuo Kato (1943– 1985), foi assessor jurídico da Acic (1975–1976) e presidente da OAB/Cascavel (1977–1978). Professor da Fecivel (Unioeste), fundou e foi o primeiro presidente da Aduc (Associação dos Docentes da Unioeste de Cascavel), de 1983 a 1984.
Takashi e Helena
Surpreendentes como o título brasileiro de beisebol obtido pela Seleção de Cascavel representando o Paraná em 1978 foram as conquistas de Takashi Uyeda na natação. Filho de imigrantes vindos ao Brasil em 1918, Takashi nasceu em Cafelândia (SP) e em 1962 inaugurou o primeiro estúdio fotográfico de Cascavel – o Foto Paulista, próximo ao Colégio Eleodoro Ébano Pereira.
Estava longe de imaginar que 40 anos depois de chegar a Cascavel, escapando de uma situação difícil no Norte do Paraná, ele se tornaria um multicampeão e o nadador master número 1 do Brasil.
Takashi já estava com 75 anos e com a saúde abalada quando foi orientado a praticar a natação como recurso fisioterápico. Incentivado por um entusiasta da natação, Hélio Ideriha, em 2003, Takashi foi campeão paranaense dos 100 metros em nados peito, costas e livre. Nesse mesmo ano venceu a Copa do Brasil Máster de Natação nos 100 metros de nado peito e costas.
Como se não bastasse, foi ainda campeão sul-americano dos 100 metros nado peito e campeão da Copa Mercosul Master nos 50 e 100 metros de costas e 100 e 200 metros de peito.
Em 2006, Takashi foi campeão da Copa Mercosul nos 100 metros nado costas e em maio de 2007, em uma competição dos Correios, venceu nos 1.000 e 2.000 metros do nado livre. Aliás, a esposa Helena Watanabe também foi campeã brasileira, subindo ao topo do ranking da Associação Brasileira Master de Natação.

A primeira família: Encruzilhada era a referência
Os primeiros moradores da futura cidade de Cascavel chegaram em setembro de 1922 para se estabelecer no antigo pouso ervateiro conhecido como Cascavel Velho. A referência da família em viagem era chegar à Encruzilhada dos Gomes e a partir daí trilhar o caminho rumo ao Sudeste para alcançar o Rio Cascavel.
A Encruzilhada dos Gomes se tornou uma referência no Médio-Oeste, com a crescente movimentação de empregados das obrages, colonos em trânsito, expedições demandando à Colônia Militar e as passagens quinzenais dos estafetas.
Até surgir a trilha da família Gomes de Oliveira rumo a Lopeí, a Encruzilhada não passava de uma elevação junto a um banhado com muitas samambaias ao redor, um lugar sem os atrativos do pouso às margens do rio em torno do qual a Companhia Domingo Barthe criava, em fins do século XIX, seu pequeno rebanho de gado.
Ainda não havia construções em torno do pouso naquela época – 1895 –, nem mesmo as moradias dos peões da empresa. Também ao redor da invernada, o sertão e as imensas clareiras cobertas de samambaias constituíam a marca registrada do lugar.
Com o mate, brotaram na região da futura Cascavel diversos núcleos mais “densamente” povoados. Em Rio do Salto, por exemplo, existia na época um grande estabelecimento ervateiro, ligado por uma estrada carroçável à Central Barthe, outro local de grande importância, onde se instalava a sede administrativa da empresa.
