Cada José tem sua própria história

A passagem do tempo mistura as biografias de homônimos, mas nesse caso são três personalidades totalmente diferentes

Cada José tem sua própria história

A passagem do tempo mistura as biografias de homônimos, mas nesse caso são três personalidades totalmente diferentes
José de Oliveira Schiels, o primeiro. José Silvério de Oliveira (Tio Jeca). Zezinho da Inspetoria. Comendador José de Oliveira
José de Oliveira Schiels, o primeiro. José Silvério de Oliveira (Tio Jeca). Zezinho da Inspetoria. Comendador José de Oliveira

 

O sobrenome Oliveira está presente em grande parte das famílias brasileiras e no Oeste do Paraná tem como destaque o iniciador da cidade de Cascavel, José Silvério de Oliveira, líder político regional com uma história recheada de eventos extraordinários.

Sua biografia não deixou paralelos com outros dois Josés de Oliveira também inscritos na história da região: o Zezinho da Inspetoria e o comendador José de Oliveira, com histórias menos conhecidas que a do fundador da vila inicial de Cascavel, mas já apresentadas parcialmente em “Os mundos paralelos de Pompeu e Silvério” (https://x.gd/FneI0) e “Os mordedores de gorjetas” (https://x.gd/D6gmK). 

José Silvério de Oliveira era paranaense de Candói, filho de pais comerciantes, nascido em março de 1888. Seguindo os negócios da família, trabalhou no safrismo, o plantio de milho para engordar suínos e vendê-los em feiras. 

Nessa atividade, conheceu em 1923 a Encruzilhada dos Gomes, encontro de trilhas localizado na propriedade rural de Antônio José Elias, iniciada um ano antes. Nesse local, em março de 1930, Silvério começou a formar a vila de Cascavel (https://x.gd/mOvXR).

Por sua vez, Zezinho da Inspetoria e o comendador José de Oliveira eram paulistas e, para confundir ainda mais suas histórias, os dois tinham propriedades no Parque São Paulo. 

As duas vidas de Zezinho  

Inicialmente conhecido como o inspetor de Terras do Estado que lidava com jagunços, posseiros, grileiros e colonos que chegavam à região ansiosos para obter boas terras, Zezinho da Inspetoria fazia negócios vantajosos usando o cargo, na lei ou no “jeitinho”.

Nascido em 18 de setembro de 1927 em Bernardino de Campos (SP), Zezinho veio para Cascavel em 1956, onde começou uma biografia que se divide praticamente em duas vidas. 

A primeira, como inspetor de terras, anterior ao golpe de Estado que derrubou o presidente João Goulart, em 1º de abril de 1964, é uma história da qual ficaram apenas alguns poucos registros.  

A segunda vida de Zezinho veio após ser denunciado aos inquisidores da ditadura civil-militar, da qual ele emergiu inocentado e comprometido com o novo regime, ganhando força e riqueza.

Com o sucesso de seus negócios com terras e empresário agropecuarista ele se elegeu para a Câmara de Cascavel em cinco mandatos consecutivos, ao longo de 22 anos. Elegeu-se pela primeira vez em 1960, pelo PSD, o partido do governador Moysés Lupion, reelegendo-se em 1964, quando caiu em desgraça.

Reabilitado pelo partido do governo ditatorial, a Arena, reelegeu-se em 1968 e por fim em 1976, para um mandato ampliado de seis anos, até 1982. Foi presidente e primeiro-secretário da Câmara.

A perda dos Bartnik

Zezinho ficou foragido por algum tempo, denunciado aos ditadores como favorável ao jaguncismo por famílias como a de Vitor Bartnik, que perdeu as terras para grileiros favorecidos pela Inspetoria de Terras.

Era um cenário comum na época: os grileiros roubavam as terras dos pioneiros – a família Bartnik foi uma das primeiras a chegar – e as vendiam aos colonos que vinham ao Oeste depois de vender as propriedades nas regiões de origem. 

Os pioneiros esbulhados tentavam recuperar as terras pela força, mas enfrentavam a reação dos novos ocupantes, que haviam investido suas economias e recorriam à polícia para se manter nas propriedades.

Quem conta esse episódio é Janine Bartnik Gonçalves, sobrinha de José e Ana Bartnik, casal de hoteleiros dos tempos iniciais da colonização, filha do colono Vitor e da costureira Inês Bartnik. 

Vitor Bartnik plantava na área que depois viria a ser desapropriada à força por Zezinho da Inspetoria, apoiado por Marins Belo, tido como chefe de um bando de jagunços. Marins também teve duas vidas: inicialmente hostilizado pelos ditadores, depois passou a trabalhar para o governo. 

O caso do teodolito

Foi o vereador e presidente da Câmara de Cascavel, Alir Silva, quem acusou Zezinho de pertencer à Gangue da Terra. Após uma troca de ameaças de morte, o inspetor foi denunciado em 1963 pelo desaparecimento de um teodolito, instrumento para medição de terras, que estaria sob sua guarda. 

O caso foi abafado pelo engenheiro Ludovico Axel Surjus, de Paranavaí, ao contar que Zezinho lhe havia emprestado o aparelho sob compromisso de devolução, o que efetivamente ocorreu. 

O teodolito foi o ponto de passagem da primeira vida de Zezinho para a segunda. Quando o líder estudantil Luiz Picoli começou uma campanha pela criação de uma Casa do Estudante em Cascavel para abrigar os jovens da região que viessem estudar nas escolas de Cascavel, Oliveira fez a primeira ação que positivou sua trajetória comunitária.

Doou uma quadra no Parque São Paulo para construir a Casa do Estudante, terrenos depois desperdiçados pelos sucessores de Picoli à frente da Associação Cascavelense dos Estudantes. 

O posseiro e os militares

O agricultor Afonso Accordi, de Cafelândia, esteve no centro dos embates entre os colonos que chegavam e os agentes do governo mancomunados com grileiros. “Era uma panela só, que atuava em conjunto na grilagem de terras por toda esta região”, disse ele à revista Oeste (n° 21, 1987). 

Accordi planejou um atentado dos posseiros contra policiais a serviço dos grileiros, mas foi impedido por um pelotão do Exército alertado pelos líderes regionais do PTB, entre os quais o ex-prefeito José Neves Formighieri. 

Mas assim que os militares deixaram Cafelândia a polícia atacou os posseiros de surpresa. “Quem não conseguiu escapar, apanhou feito cachorro leproso”, lembrou Accordi, jogado ao chão aos chutes e imobilizado.

A casa dele foi crivada de balas. Preso com mais onze colonos, acusados pela polícia de serem “jagunços de alta periculosidade”, Accordi ficou mais de um mês detido. A situação dos colonos, presos sem condenação, chamou a atenção do Exército, que requisitou Accordi para prestar um depoimento reservado.

“Não perdi a oportunidade. Alcaguetei todos eles: o juiz Alvim Messias, o Zé da Inspetoria, o delegado Aroldo Cruz, o sargento Dito – que era o carrasco da Delegacia. Entreguei todo mundo. Contei das perseguições, das grilagens de terras, das mortes… Não deixei nada pra trás: rasguei o pala”.

Segunda vida foi exemplar 

Mesmo jurado de morte pela Gangue da Terra, Accordi só foi morrer naturalmente, aos 99 anos, em 2010. Suas declarações foram confirmadas por outras pessoas prejudicadas. Jairo Fabrício Lemos, por exemplo, trabalhou com o médico Wilson Joffre e constatou a ação dos grileiros.

Joffre possuía vários terrenos na Avenida Brasil e duas chácaras no Parque São Paulo. “Conseguiram tomar tudo dele. O que puderam fazer para acabar com ele, fizeram”, afirmou Lemos. “O pessoal responsável era da Inspetoria de Terras. Existia um comandante, o José de Oliveira, e outras pessoas, que titulavam as terras para quem bem entendessem, principalmente mediante bom pagamento” (Prisma Cascavel, 4/11/1994).

Já em sua segunda vida, ordeira e participativa, Zezinho foi também proprietário da Rádio Colmeia, diretor do Tuiuti Esporte Clube e iniciador do movimento pelo ensino superior em Cascavel. Morreu em 7 de maio de 1990.

Histórias que se misturam

Por sua vez, foi o comendador José de Oliveira e não Zezinho da Inspetoria quem criou o bairro Parque São Paulo, em 12 de maio de 1964, em sociedade com o advogado Paulo de Abreu, embora muitos acreditem que o bairro foi criado por Zezinho, também com muitos imóveis naquela área.

O bairro surgiu porque o comendador Oliveira e Abreu pretendiam criar uma colônia de imigrantes japoneses em Cascavel. Experiente colonizador, Paulo de Abreu, já ligado à colonização de Nova Aurora, associou-se no empreendimento ao comendador, vindo de longa trajetória de sucesso em empreendimentos no interior paulista.

Ofereciam terras no campo e lotes na cidade a imigrantes japoneses que tinham interesse em expandir suas atividades pela nova fronteira agrícola. A convite deles, veio a Cascavel em 10 de agosto de 1965 uma comitiva de membros do governo japonês para avaliar o potencial do Oeste.

Antes de todos eles, José de Oliveira Schiels nasceu em 1933, sobrinho do primeiro morador oficial do território da atual Cascavel, Antônio José Elias, filho do casal Ernesto e Laurentina Schiels, com história bem discreta a serviço do Exército. 

100 anos da revolução: Forma-se a Coluna

O encontro decisivo entre os oficiais da Divisão São Paulo e Divisão Rio Grande se deu em 12 de abril de 1925, com a presença do marechal Isidoro Lopes, que retornara da Argentina após a queda de Catanduvas. 

O comando das forças paulistas estava sob a responsabilidade do general Miguel Costa. Ele e Luiz Carlos Prestes defenderam a necessidade de deslocamento imediato para o Mato Grosso. O resumo das decisões desse dia foi relatado por Juarez Távora:

1. Considerar frustradas as tentativas de pacificação começadas por iniciativa dos chefes do governismo em 16 de fevereiro.

2. Prosseguir as operações de guerra de acordo com as diretrizes baixadas pelo general Miguel Costa.

3. Grupar numa divisão, sob o comando do general Miguel Costa, os remanescentes das forças paulistas, sob comando do tenente-coronel Juarez Távora, e os elementos chegados do Rio Grande do Sul, sob o comando do coronel Luiz Carlos Prestes.

Por motivos de idade e abatimento físico, as dificuldades da próxima etapa tornaram necessário que o marechal Isidoro Lopes, o general Padilha e o coronel Estillac Leal – tendo sofrido um ferimento por estilhaço de granada no pescoço – ficassem no estrangeiro para se recuperar “até que fosse possível retornarem ao exercício revolucionário”.

 

Tudo indicava que Miguel Costa seria o comandante da Coluna

 

Fonte: Alceu Sperança

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