A produção de trigo na região de Cascavel e no Oeste do Paraná enfrenta um cenário desafiador nesta safra de inverno, com a área cultivada atingindo uma das menores extensões dos últimos anos. Dados do Departamento de Economia Rural da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Deral/Seab) indicam para uma redução de quase 60%, comparado há três anos, em 2022.
A cultura, embora especial e muito necessária para a dieta diária brasileira, presente em pães, biscoitos e massas, tem perdido espaço para outras culturas mais rentáveis, como já vinha se intensificando nas últimas décadas, perdendo espaço para o milho.
De acordo com Guilherme Busnello, engenheiro agrônomo da Coopavel, a área de atuação da cooperativa em trigo neste ano é de cerca de 3,8 mil hectares, uma queda expressiva em relação aos nove mil hectares cultivados em 2022.
Em dados globais, na regional, são menos de 60 mil hectares destinados à cultura, enquanto, há três anos, havia sido mais de 110 mil hectares. A redução reflete uma tendência observada, além da região, também pelo Paraná.
A principal razão para essa diminuição é a maior competitividade e rentabilidade do milho safrinha (segunda safra) que, apesar de uma cultura de risco, tomou conta das lavouras da região.
Vantagens do milho sob o trigo em produtividade e custos de produção
Para cobrir os custos de insumos e da produção em geral, o milho exige de 120 a 130 sacas por alqueire, mas oferece uma produtividade esperada muito acima dos 300 sacos por alqueire. Em contrapartida, o trigo demanda de 70 a 80 sacas por alqueire em custo de produção, com produtividades médias muito mais baixas. Por exemplo, a média entre produtores cooperados da Coopavel foi de 96 sacos por alqueire em 2022, 103 em 2023, e 88 em 2024. “Essa diferença torna a margem de lucro do trigo muito apertada ao produtor que tem postado neste ano mais no milho, com mercado garantido”, avalia o agrônomo.
Além da questão financeira, a ausência de políticas públicas direcionadas e a falta de subvenção nos seguros agrícolas para o trigo desestimulam os produtores a investirem nesta cultura. O trigo é considerado uma “cultura de risco”, suscetível a geadas e, principalmente, chuvas no momento da colheita, que podem comprometer severamente a qualidade do grão e a remuneração ao produtor. Em contraste, o milho safrinha tem apresentado um “risco climático menor” e “altas produtividades” nos últimos anos, tendo em vista que neste momento de frio mais intenso, a maior parte das áreas deste cereal já foi colhida, enquanto o trigo foi semeado há poucas semanas e tem praticamente toda sua área em germinação e desenvolvimento vegetativo.
A dependência do trigo no Brasil e ainda longe da autossuficiência
Historicamente, o Brasil nunca foi autossuficiente na produção de trigo, dependendo largamente da importação, especialmente da Argentina e do Leste Europeu.
Segundo o diretor presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, nos melhores cenários, como o alcançado há poucos anos, se chegou a produzir mais de dez milhões de toneladas no Brasil, enquanto a demanda interna gira em torno de 12 a 13 milhões de toneladas/ano.
Para este ano o Brasil estima produzir em torno de oito milhões de toneladas, mais de 80% somente no Sul do país, nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Vale destacar que algumas regiões começaram a se dedicar mais ao cultivo, com cultivares específicas ao solo e clima, como na região do serrado brasileiro, mas por lá o cultivo ainda é insipiente.
No Paraná, apesar da redução da área, há uma perspectiva de produtividades melhores do que no ano passado – quando houve perdas, com trigos de qualidade muito alta e sanidade elevada, impulsionadas por cultivares modernas e melhoramento genético que pretendem atender ao mercado dos moinhos e em diferentes regiões do país.
Mercado que também exporta
Apesar de ainda estar longe da autossuficiência e depender do mercado externo para abastecer o consumo, mesmo assim o Brasil também tem exportado trigo para mercados específicos, especialmente após a guerra entre Rússia e Ucrânia, dada à produção deficitária da Ucrânia. Historicamente o país era um gigante produtor e abastecia o mercado internacional, mas desde o início dos conflitos, em 2022, produção e escoamento ficaram comprometidos.
Enquanto isso, no Oeste do Paraná, produtores que ainda optam pelo trigo o fazem também pensando na rotação de culturas e diversificação, mesmo diante do alto investimento e risco acabam se beneficiando nas safras futuras, porque o trigo representa uma excelente opção de diversificação e rotação.
Por este motivo, o planejamento antecipado é crucial para assegurar insumos e enfrentar os desafios logísticos. “Não se pode decidir o que e como plantar de uma hora para a outra. Então nossa safra, neste momento, já está consolidada com toda a área cultivada”, alerta o agrônomo.
Para o próximo ano, aos que desejam investir na cultura, o conselho para os produtores é buscar cultivares com um pacote sanitário mais completo para reduzir custos com defensivos e explorar práticas como o uso de plantas de serviço para disponibilizar nitrogênio. O objetivo é alcançar produtividades altas com o menor custo possível, garantindo um retorno para o agricultor.
Trigo no Paraná sofre redução de área de 25%
No Paraná, o cultivo do trigo avançou durante o mês de junho com o apoio das chuvas no início do mês.
A área estimada para o cereal neste ciclo é de aproximadamente 850 mil hectares, representando uma redução de 25% em relação ao ciclo anterior, quando foram cultivados cerca de 1,1 milhão de hectares.
Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), até meados de junho cerca de 90% da área prevista já havia sido semeada.
A expectativa é de que, mesmo com a redução da área, a produtividade seja mantida em níveis mais elevados, se as boas condições sanitárias e baixo índice de pragas se mantiverem. O Paraná espera colher próximo de 2,7 milhões de toneladas.