Cascavel conquistou um lugar de destaque nacional e estará na final do Prêmio Sebrae Startups, que ocorre na próxima semana, nos dias 27, 28 e 29 de agosto, durante o Startup Summit, em Florianópolis (SC) — o maior evento de inovação e tecnologia do país.
Das quase três mil startups inscritas no prêmio, mil foram selecionadas e nove são de Cascavel. Seis delas incubadas na Fundetec, instituição municipal de apoio à inovação. Esse resultado posiciona Cascavel como a cidade do interior paranaense com o maior número de startups selecionadas, consolidando o município como referência nacional em empreendedorismo inovador e demonstrando a força do ecossistema local, que une universidades, cooperativas, entidades de classe e poder público. Quem fala desse avanço em inovação e tecnologia é o coordenador da incubadora da Fundetec, Frederico Lovato.
Preto no Branco: Cascavel foi destaque nacional no Prêmio Sebrae. O que isso significa para o município?
Frederico Lovato: O Prêmio Sebrae Startups seleciona mil startups do Brasil inteiro para compor o seu ranking “top 1000”. As startups são convidadas a participar e seguem critérios bem rigorosos de avaliação, precisando responder a questionários, enviar vídeos explicando suas soluções e defendendo seus negócios. De quase três mil inscritas, mil são selecionadas na primeira etapa. Na semana que vem, no Startup Summit em Florianópolis, o maior evento de inovação e tecnologia do Brasil, essas mil startups são convidadas a expor. Desse grupo, são selecionadas as top 100 e, depois, as top 30, que participam de uma banca presencial no estilo “Shark Tank”. Os prêmios chegam até R$250 mil.
Preto no Branco: E qual foi a participação de Cascavel nesse cenário? Quantas startups da cidade se destacaram?
Frederico: O Paraná teve um total de 55 startups no ranking das top 1000, e nove dessas são de Cascavel. Para se ter uma ideia, Curitiba teve cerca de 25. Isso significa que, entre as cidades do interior, Cascavel foi a mais bem colocada em número de startups no top 1000.
Preto no Branco: Poderia dar uma dimensão da importância que isso é para um ecossistema de tecnologia e inovação e explicar o que é uma startup?
Frederico: Diferente de um negócio tradicional, uma startup se caracteriza por alto risco. Vive risco diariamente, com uma alta taxa de mortalidade. Tem um ciclo de errar e aprender e é muito rápido. É um modelo de negócio inovador, com um ritmo acelerado de testes e adaptações. Tem escalabilidade. A capacidade de crescer de forma mais fácil e com custos que não aumentam proporcionalmente ao número de usuários ou clientes. Se você tem uma padaria e quer dobrar a produção de pães, precisa dobrar farinha, fornos, turnos; uma startup busca que o gasto para atender um ou quinhentas pessoas seja muito pequeno. Tem ainda a repetibilidade. Para ganhar escala, os processos precisam ser muito padronizados, não muito personalizáveis.
Preto no Branco: E o que isso representa para Cascavel?
Frederico: A importância desse destaque para Cascavel é imensa. Para nós, enquanto Fundetec e município, é muito recompensador e mostra que nosso trabalho está dando resultados. Mas, mais do que isso, ganhamos protagonismo e os olhares do mercado se voltam para cá. Nosso objetivo primordial é reter talentos na cidade. Hoje, é comum startups que começam a crescer pensarem em ir para São Paulo ou Florianópolis. Queremos transformar Cascavel em um ambiente onde as pessoas queiram ficar e desenvolver seus negócios aqui, atraindo também investimentos e novos olhares.
Preto no Branco: Falando em Fundetec e startup, talvez algumas pessoas possam pensar: “Mas o que que tem a ver uma coisa com a outra?’ Isso porque das nove que foram selecionadas, seis estão incubadas com vocês, não é?
Frederico: Exatamente! Das nove startups classificadas, seis estão incubadas dentro do ambiente da Fundetec. A Fundetec, enquanto fundação pública e municipal, trabalha com o desenvolvimento de negócios inovadores. Isso traz um retorno benéfico para a população e, economicamente, para o setor produtivo a médio e longo prazo. Nós temos programas específicos que fomentam o desenvolvimento dessas startups:
Preto no Branco: Poderia nos dar alguns exemplos?
Frederico: Claro. Temos o radar de Inovação. Um programa de pré-incubação que seleciona 20 ideias por ano e dura cerca de nove meses. É voltado para pessoas que têm apenas uma ideia (mesmo com CPF, sem empresa formal) e querem transformá-la em negócio, trabalhando em uma trilha estruturada de validação de problemas, testes e aprendizado. Há ainda o programa de Incubação que dura três anos e foca na escalabilidade e venda dos negócios já estruturados, ajudando-os a ganhar mercado e gerar receita.
“Nosso papel é que as mentes brilhantes permaneçam aqui. Queremos mostrar para a população que a inovação é possível para todos”
Preto no Branco: Mas existem parceiros, certo?
Frederico: Com certeza. Não estamos sozinhos em Cascavel. Existe um ecossistema de inovação, que carinhosamente chamamos de “Vale do Iguaçu”. Esse ecossistema envolve a Fundetec e muitos parceiros:
Preto no Branco: E quem são os outros parceiros?
Frederico: As universidades, as cooperativas como a Coopavel, que tem o Espaço Impulso a Associação Comercial e Industrial de Cascavel com o Acic Labs. Essa cooperação e a capacidade de conectar os diferentes atores são cruciais, permitindo que as startups recebam apoio especializado e a gente consiga ajudar na conexão entre eles.
Preto no Branco: Essas nove startups que estão em Cascavel, elas atuam em que áreas?
Frederico: Tem de todos os ramos possíveis e isso é muito legal. Não é só agro, embora nosso potencial no agronegócio seja muito forte. Estão surgindo soluções bem diferentes. Por exemplo, conexões entre pesquisadores. Uma solução que facilita a ligação entre pesquisadores da área de educação, conectando quem precisa de ajuda com mentores ou especialistas em metodologias específicas (como testes estatísticos), mesmo que estejam em diferentes regiões do país.
Preto no Branco: Mas existem outros exemplos também, não é?
Frederico: Com certeza. Tem atendimento automatizado com Inteligência Artificial. Uma startup desenvolve soluções de atendimento automatizado, como assistentes virtuais para agendamento de consultas médicas via WhatsApp, fornecendo informações sobre médicos e horários disponíveis. Há ainda sistema voltado à produtividade industrial. Uma solução inovadora que substitui cadernos de anotações por um sistema móvel, aonde operadores podem registrar paradas de máquina por áudio. Isso permite que gerentes recebam informações em tempo real sobre o funcionamento da produção, tempo de inatividade e perdas, otimizando a produtividade industrial.
Preto no Branco: Você tem ideia de quantas startups a gente tem em Cascavel? Conseguimos ter uma dimensão?
Frederico: Olha, chutaria um número aproximado, mas em torno de 200 a 300 startups somente em Cascavel. Só incubadas conosco na Fundetec, são 45. Muitas delas estão vinculadas às universidades, que fazem um trabalho muito legal no desenvolvimento de startups. A Unioeste, a FAG, a Univel, todas têm programas de desenvolvimento de startups, mostrando a força do nosso ecossistema.
Preto no Branco: E Cascavel tem alguma história de sucesso já consolidada no cenário de startups?
Frederico: Sim, temos um exemplo de muito orgulho: a startup Prova Digital. Ela nasceu em Cascavel, e o primeiro cliente dela, sem custo, foi a própria Prefeitura de Cascavel, aonde testaram e digitalizaram o sistema de licenças e alvarás. Hoje, a Prova Digital já fechou contratos milionários com prefeituras do Brasil inteiro. Eles inclusive já se deslocaram para São Paulo, o que, lamentavelmente, é um ciclo natural, mas é motivo de muito orgulho para nós.
Preto no Branco: Quando pensamos em inovação, tecnologia, startup, vem muito à cabeça os jovens. Mas para quem já está mais maduro, tem espaço também?
Frederico: Com certeza, tem espaço para todo mundo. O mais importante é encontrar o problema certo para resolver. A primeira etapa em qualquer trilha de inovação é a validação do problema. Muitas pessoas vêm apaixonadas pela solução que idealizaram, mas a pergunta chave é: “Que problema específico você quer resolver, e um problema pelo qual as pessoas pagariam para ser resolvido?”. Muitas vezes, a pessoa que vivencia a dor do problema tem uma compreensão mais profunda e, com o apoio do ecossistema, pode desenvolver uma solução escalável.
Preto no Branco: Precisa ser um expert em tecnologia?
Frederico: De forma alguma! Não é preciso ser um expert em tecnologia ou saber programar. É preciso ser um bom resolvedor de problemas. Hoje, existem muitas formas de contratar ou de ter como sócio alguém que faça a parte tecnológica. O importante é estar aberto a escutar e a colaborar.
Preto no Branco: E para chegar até vocês, quem tem uma ideia, não tem como começar, não sabe por onde começar. Como vocês podem auxiliar nesse processo?
Frederico: A gente abre editais tanto para incubação quanto para pré-incubação, mas eu sempre falo: não espere o edital abrir! O Fundetec está de portas abertas. Pode ir a qualquer momento, conversar com a gente. Se não conseguirmos atender na hora, marcamos um horário para escutar a sua ideia. Nem todas as ideias podem se encaixar no que a gente se propõe a fazer, mas como temos um ecossistema muito forte, podemos encaminhar para o parceiro certo – seja o Sebrae, uma universidade, ou outro parceiro que possa ajudar. Nosso papel é criar conexões e direcionar. Às vezes, numa primeira conversa, já ajudamos a “botar os pés no chão”, lapidar a ideia e apresentar os programas que temos.
Preto no Branco: E pelo que se vê então, isso só funciona se for numa teia interligada?
Frederico: Não tem outra forma! Se a gente disser “é a Fundetec sozinha” ou “é a Unioeste sozinha”, não funciona. É o ecossistema mesmo. Como na biologia, cada um sabe o seu papel para que todo o sistema sobreviva. A Acic, a Fundetec, as universidades – todos sabem seus papéis, mas estamos entrelaçados, nos falamos e nos ajudamos. Se não houver cooperação, a coisa não funciona. Isso é a base mundial de inovação.
Preto no Branco: E quem quer conhecer o ambiente de inovação da Fundetec, quer conhecer a estrutura. Como se faz isso? Precisa agendar horário?
Frederico: Não precisa agendar horário! A estrutura de inovação da Fundetec fica na Avenida Brasil, no antigo Terminal Oeste, ao lado da estação de ônibus elétricos. Muita gente ainda passa na frente, vê o ambiente colorido, mas não sabe o que é. É só entrar, conhecer os espaços. Recebemos visitas técnicas de escolas, mas para quem quiser, é só chegar, conversar. Se precisar de uma conversa mais aprofundada sobre uma ideia, a gente marca um horário com mais calma. Estamos de portas abertas de segunda a sexta, das 8h às 17h, sem intervalo.
Preto no Branco: Para encerrar, qual a mensagem principal para Cascavel e para o futuro da inovação na região?
Frederico: Estar nesse número entre as mil startups, para um ecossistema jovem como o nosso, já é um ganho muito significativo e um motivo de orgulho para a Fundetec e para as próprias startups. Nosso papel é que as mentes brilhantes permaneçam aqui. Queremos mostrar para a população que a inovação é possível para todos, e não é um assunto para poucos. Mesmo em um comércio tradicional, inovar pode trazer muitos resultados e benefícios. Inovação não é necessariamente tecnologia propriamente dita; todas as pessoas podem ser inovadoras e protagonistas. A inovação, muitas vezes vem de imitação, o que é natural. Acreditamos que inspirar os próprios concorrentes por meio da inovação faz parte do jogo.