O censo realizado em 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fez um extrato de pessoas com deficiências. Além disso, houve um fator histórico e inédito. Os recenseadores também mapearam as pessoas diagnosticadas com autismo.
Os dados acabaram de ser divulgados pelo governo federal e revelam que, Cascavel é a segunda cidade do oeste e a 5ª do Paraná com o maior número de pessoas com deficiência, um total de 17.821, ou seja, 7,7% da população, e a 3ª no estado com maior número de diagnósticos de autismo, com 4.655 diagnosticados. “Cascavel é uma cidade com uma rede de atendimento à saúde muito forte e expressiva, isso facilita muito os diagnósticos. Então podemos relacionar o acesso ao diagnóstico como um dos fatores que contribui aos números elevados”, destaca a neuropsicopedagoga, Ivonete Kuquer.
Ela também reforça que, com diagnóstico preciso, o caminho e o acesso ao atendimento acabam seguindo um fluxo mais natural, apesar de ainda não estar disponível a todos. “Sobretudo quando se trata de atendimento ao autismo. Muitas escolas ainda não possuem o professor de apoio e a inclusão ainda é uma barreira”, reforça.
Extrato das deficiências: deficiência visual lidera relação em Cascavel
Segundo o IBGE, os dados dos resultados preliminares da amostra, estimados a partir de áreas de ponderação preliminares consideraram pessoa com deficiência aquela que respondeu, em ao menos um dos tipos de dificuldades funcionais, que “tem muita dificuldade” ou “não consegue de modo algum” para “grau de dificuldade funcional”.
Os tipos de dificuldades funcionais captados foram: de enxergar, mesmo usando óculos; de ouvir, mesmo usando aparelhos auditivos; de andar ou subir degraus, mesmo usando prótese; de pegar objetos pequenos, como botão ou lápis, ou abrir e fechar tampas de garrafas, mesmo usando aparelho de auxílio; de se comunicar, realizar cuidados pessoais, como trabalhar e estudar devido a alguma limitação nas funções mentais.
Entre os que disseram ter deficiência permanente parta enxergar em Cascavel estão 8.771 pessoas. para ouvir são 3.572. As pessoas que têm dificuldades para andar ou subir degraus são 6.749; para pegar pequenos objetos outras 3.315 pessoas. Para se comunicar foram 3.718 cascavelenses.
O registro de pessoas com deficiência em Cascavel fica atrás apenas de Curitiba com 94.181, Foz do Iguaçu com 18.059, Londrina com 37.135 e Maringá com 20.409 pessoas.
Cascavel é a terceira do estado em registro de autismo
Entre as pessoas diagnosticadas com autismo, Cascavel ocupa a terceira colocação com 4.655, atrás de Curitiba com 24.998 e Londrina com 7.403. Isso significa que há um autista diagnosticado para cada 70 moradores.
Segundo o IBGE, considera-se pessoa com autismo aquela que respondeu que já foi diagnosticada com o transtorno por algum profissional de saúde, ou seja, possui efetivamente um diagnóstico. O pequeno André Lucas de 11 anos tem diagnóstico há cinco anos. A mãe, Eliziane Dutra, conta que foi uma saga até chegar ao mapeamento.
“Os médicos diziam que não era nada, nos atendimentos com terapeutas se cogitava que ele era apenas um menino tímido e as vezes com um perfil mais agressivo. Em 2020, no meio da pandemia, surgiu um profissional que enfim chegou ao diagnóstico. O que mudou nossa vida. Autismo não é criança mal educada é algo sério e toda a família sofre com isso”, alerta.
Segundo a psicoterapeuta Ivonete Kuquer, ter o diagnóstico e um acompanhamento adequado faz toda a diferença. “isso auxilia na escola, em casa, na qualidade de vida. Pessoas com autismo, sobretudo em grau mais severo, precisam de um atendimento e olhar diferenciados. A sociedade precisa estar preparada para isso”, reforça.
Cascavel tem selo de Empresa Amiga do Autista
Em Cascavel, estabelecimentos comerciais podem contar com o selo “Empresa Amiga do Autista”, lançado pela Acic, Amac (Associação de Mães de Autistas de Cascavel) e Centro de Apoio, Convivência e Defesa dos Interesses dos Autistas de Cascavel (Caut) como parte de uma campanha inédita de sensibilização, iniciada em 2024. “Estamos trabalhando na construção de uma nova cultura em nossa cidade, para melhorar a recepção do autista e de sua família pelo comércio”, afirmou Silvana Borghelot Cordeiro da Acic.
O selo pode ser solicitado por qualquer empresa, que também recebe materiais gratuitos de divulgação e orientações sobre boas práticas, como reduzir o volume do som e a intensidade da luz, conforme explicou Edilsa Fermo, presidente do Caut. Para Samantha Sitnik, presidente da Amac, a iniciativa representa “o auge de um sonho antigo” e já mostra frutos com o crescente envolvimento da comunidade.
Cidades mais acessíveis e sociedade sensibilizada
A construção de cidades mais acessíveis e inclusivas é fundamental para garantir o pleno exercício da cidadania por pessoas com deficiência (PcD) e pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). De acordo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro com status constitucional pelo Decreto nº 6.949/2009, é dever do Estado e da sociedade adotar medidas que promovam a acessibilidade e eliminem barreiras físicas, comunicacionais e atitudinais.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei Brasileira de Inclusão – LBI, nº 13.146/2015) reforça esse compromisso, estabelecendo que ambientes urbanos devem ser planejados e adaptados para assegurar autonomia e segurança às pessoas com deficiência. Entre as recomendações, estão o desenho universal nos espaços públicos, a comunicação acessível e o atendimento especializado em serviços essenciais, incluindo o comércio e o transporte.
Especificamente em relação ao autismo, a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Lei nº 12.764/2012) estabelece que pessoas com TEA são legalmente consideradas pessoas com deficiência, com direito a medidas de inclusão e proteção. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda ainda que políticas públicas levem em conta a necessidade de ambientes sensoriais adequados, respeitando aspectos como redução de ruídos, luzes suaves e atendimento acolhedor, medidas fundamentais para evitar crises e promover o bem-estar dessas pessoas.
Preparar cidades e serviços para acolher adequadamente pessoas com deficiência e com autismo não é apenas uma exigência legal, mas um passo essencial para a construção de uma sociedade mais justa, humana e democrática, que valoriza e respeita as diferenças.