.

Caús, a família veloz

Grandes nomes do automobilismo, Saul Caús e Delci Damian combinaram técnica e espírito de equipe
Picture of Por: Tissiane Merlak

Por: Tissiane Merlak

Todos os Posts

Caús, a família veloz

Grandes nomes do automobilismo, Saul Caús e Delci Damian combinaram técnica e espírito de equipe
 Alves e Delci Damian desafiaram o chefe do Detran. Saul Caús: Cascavel de Ouro e o S de Saul no Autódromo

Como raras outras no mundo, a família Caús foi um ninho de vencedores. Delci Damian e Saul Caús formaram um clã familiar que saiu das gambiarras para potencializar carros inferiores ao maior nível de qualidade na preparação para competições.

Esta saga de tirar o fôlego começa em 1927, com o nascimento de Alves Damian em Sarandi (RS). A exemplo de muitos gaúchos, ele migrou ao Paraná atraído pela propaganda de Toledo, onde criou sua primeira empresa, a Auto Mecânica Toledo, com foco em caminhões.

Depois veio a Vulcanizadora São Jorge, em sociedade com Nilo Prada e Nelson Galafassi, trabalho com a DKW Vemag e as empresas com o nome da família: Vulcanizadora Damian e o Auto Posto Damian – que veio depois a ser Pra Frente Brasil.

🚨 Receba as notícias em primeira mão!
Entre no nosso grupo no WhatsApp ou canal no Telegram!

Seu irmão Delci Damian nasce em 1941, também em Sarandi, e chega a Cascavel com apenas dez anos pelas mãos de Alves, que fez história ao participar da primeira prova automobilística de Cascavel, em 1964, que era de resistência e ele pretendia cumprir em dupla com Delci.

O carro escolhido era um potente Ford 38, mas Delci foi barrado pelo zeloso chefe do Detran, Ildefonso Vicente Mocelin (1926–1975), dado a rigores espalhafatosos, como invadir a Câmara Municipal com espingarda.

Nacionalista radical, Mocelin não admitia que a competição envolvesse veículos fabricados no exterior. Alves, ousado, testava todos os limites, como quando montou um Simca com duas caixas de câmbio, com a vantagem competitiva de andar até a décima marcha e bater os 300 quilômetros.

Alguém avisou Mocelin. Sabendo que seria desclassificado, Damian às pressas retirou uma das caixas de câmbio, mas na corrida a bateria estourou e o carro pegou fogo, forçando-o a abandonar.

Emerge uma estrela

Os dissabores de Alves não desestimularam o irmão Delci e em 1971 se deu o que ninguém esperava: de nariz sempre enfiado em motores, discretamente, sem jamais participar de competições nas ruas ou autódromo, um novo astro do automobilismo surgia.

Era Saul Mário Caús, o Seco, irmão de Terezinha, esposa de Delci. Dirigindo um Fusca de Damian, Saul foi correr em Guaraniaçu. Para a família não era surpresa. A ligação de Saul com as máquinas vinha desde menino, acompanhando as corridas do cunhado Delci e auxiliando o irmão Celso Italiano Caús, seu mestre e inspiração.

Filhos de João Antônio Caús e Adelina Ferronatto, Celso nasceu em Rondinha (RS), em 1941, e Saul em Nonoai (RS), em 1957. Bem mais velho, Celso teve Saul como aprendiz até que, contratado como auxiliar de mecânico na revenda Chrysler, da família Bresolin, o interesse de Saul em correr foi despertado por um carro ao qual a oficina dava assistência: o Simca de Jaci Pian.

Desde a prova inicial em Guaraniaçu o jovem piloto não parou mais de competir e em 1975 sagra-se campeão paranaense, feito que repetiria mais vezes.

O campeão “Saul Wypych”

A conquista do título paranaense surpreendeu até especialistas e dirigentes do setor, que pela paixão ao esporte eram também torcedores de seus pilotos preferidos.

O experiente Delso Carvalho, secretário executivo do Automóvel Clube e mestre de cerimônias encarregado de chamar o campeão da temporada para receber sua premiação, cometeu um ato falho que deixou o público intrigado: “Chamamos agora o campeão de hoje, Saul Wyyyypch!”

Nessa ocasião, episódio contado no livro Cascavel em Alta Velocidade, do Projeto Livrai-Nos!, alguém o avisou que confundiu Saul com Beto Wypych. “Ah, desculpem! Mas acredito que todos aqui presentes torciam por uma vitória do Wypych, por isso é que me enganei!”
Carvalho teve dificuldades para explicar que a falha não foi sinal de desprezo ao novo campeão estadual e seu modesto patrocinador – a Auto Escape Interlagos, pequena empresa de um irmão de Saul.

Vice-campeão paranaense de 1981 na Divisão 1 Chevette, abrindo caminho para a plena vitória no ano seguinte, Saul vence o Torneio Paraná/São Paulo Divisão Chevette e a glória nacional chega em 7 de setembro, quando, em parceria com Leônidas Neguinho Fagundes Junior, vence os Mil Quilômetros de Brasília, na classe até 1.600cc.

O tricampeonato paranaense de Stock Car com seu Opala completa uma trajetória invejável, mas a vida de um automobilista é também pontilhada de dificuldades e sofrimentos. Após sofrer grave acidente nos treinos livres para uma prova de Hot Dodge na Terra, em Laranjeiras do Sul, em março de 1985, Delci Damian teve interrompida em definitivo sua carreira nas pistas.

A Copa mais triste

A partir daí, Delci passa a ser um dos principais dirigentes automobilísticos do Paraná. Ganhou a confiança de todos na função de “homem-placa” no poeirão que os carros levantavam na pista de terra do Parque São Paulo:

“Eu ficava em cima de uma caminhonete, num barranco, com uma vara de taquaruçu de mais de quatro metros de altura. Era o jeito de os pilotos ver a placa que mostrava a chegada da curva naquela poeira” (depoimento a Clovis Grelak, 29/10/2006).

No mesmo ano da grande tristeza de Delci, Saul o compensou vencendo a prova Cascavel de Ouro, sonho dos dois, com seu tradicional Opala número 5. Dez anos depois, mesclando vitórias e tristezas eventuais, Saul viveria na tumultuada Copa Corsa Paranaense, em Cascavel, um de seus piores dias.

Houve uma sucessão de choques, capotagens e ultrapassagens com bandeira amarela. Saul liderava a prova quando o irmão Celso Italiano protestou energicamente contra uma decisão polêmica da direção da prova.

Como se não bastasse, o piloto José Edison Bento se desentendeu com os londrinenses Aloísio e Ricardo Moreira e um estabanado policial-militar deu um tiro a esmo.

Ao final da etapa, Celso Caús cumprimenta o irmão Saul pelo belo desempenho na pista e diz a uma sobrinha que sente dores no peito. Cai e é socorrido imediatamente por três médicos: Jefferson Margarida e Marcos Antônio, de Cascavel, e Marcos Valarini, cardiologista londrinense que disputava a Speed 1.600.

Mais lutas e vitórias

Encaminhado ao hospital, Celso não resiste e morre uma hora e meia depois. Não foi o disparo do policial-militar que matou o estimado construtor e mecânico: Celso Italiano Caús era a vítima fatal de uma prova dramática, abatido pelo ataque cardíaco decorrente do acúmulo de tensões.

Em 2001, Saul Caús anuncia o propósito de não voltar a competir e se dedicar apenas à preparação de veículos para outros competidores. Mas sua história de sucesso ainda não estava encerrada: em novembro de 2003, na cobiçada prova Cascavel de Ouro, parecia que Saul havia se multiplicado por sete – o número de carros que ele preparou e estavam inscritos na competição.

Mas a morte de Celso e a retirada de Saul não afastaram a família das pistas. Marlon Caús Bastos, um dos sobrinhos de Saul, nascido em 1980, estreou nas pistas em 2001 e participava de uma corrida complicada em 2002, quando largou em oitavo e bateu o carro.

O tio Saul apostou com ele que rasparia o tradicional bigode se não desistisse. Marlon continuou, venceu e Saul, eufórico, perdeu o bigode. Outro sobrinho, Edoli Pedro Caús Junior, nascido em 1977, gerente da Auto Mecânica da família, começou ainda antes, em 2000, na categoria Marcas e Pilotos.

Vice-campeão brasileiro de Marcas e Pilotos em 2012, seu carro foi preparado por mais um sobrinho de Saul – João Manoel Caús. Juliano Bastos, igualmente sobrinho-piloto de Saul Caús, nascido em 1986, começou a correr em 2004.

Na pista celestial

Em dezembro de 2008, no ato de premiação aos campeões da temporada, promovido pelo Automóvel Clube, Delci Damian aproveitou para anunciar seu afastamento das atividades de dirigente automobilístico.

Era também um adeus à vida. A morte veio em 10 de fevereiro de 2009. Para homenageá-lo, o Kartódromo de Cascavel, inaugurado em 1992, ganhou seu nome. Assim que Delci morreu, alguém disse: “Foi correr na pista do céu, onde Celso Italiano também já corre”.

Alguns meses depois, em 27 de julho, Saul foi lhes fazer companhia, sucumbindo a uma cirurgia, aos 57 anos. Como em homenagem ao tio que foi seu grande exemplo, Edoli Caús Junior conquistou o título de campeão do Regional de Marcas e Pilotos na temporada de 2009. Em seu Corsa havia a inscrição “Saul Caús eterno campeão”.

A estima que os cascavelenses tinham por Saul era tanta que não teve o velório em capela mortuária, mas na Câmara Municipal, tratamento reservado aos cidadãos mais importantes. Por lei proposta pelo vereador Paulo Bebber, a Curva do S do Autódromo de Cascavel foi oficializada como “S do Saul Caús”.

A primeira família: Ações preparatórias

Aa Colônia Militar do Iguaçu, hoje Foz do Iguaçu, instalou-se ainda em novembro de 1889.
A regra para se estabelecer na região da Colônia Militar era prestar serviços aos militares em troca da propriedade.

Por ação do Barão do Rio Branco , a imigração se ampliava nos primeiros anos da República, que logo entrou em crise, resultando na queda do presidente Deodoro da Fonseca em 1891.

A Lei n° 1 do Paraná criou, em abril de 1892, a Secretaria de Estado de Obras Públicas e Colonização do Paraná, um reforço importante na documentação das terras ocupadas.

Em 6 de junho de 1893 ocorreu o primeiro registro de acontecimento que, no futuro, teria relação direta com a formação de Cascavel.
Decreto promoveu na ocasião a transferência de todos os direitos concedidos ao engenheiro João Teixeira Soares (1848–1928 ) para a Companhia Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande.

Essa empresa possuía, via concessão, terras na região da futura cidade de Cascavel, mais tarde transferidas à Empresa Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco ). Essas terras abrangiam o atual centro da cidade até o Rio Cascavel

Mapa de 1929 assinala a Encruzilhada dos Gomes, parte da propriedade adquirida pela família Elias junto à colonizadora Braviaco

*Os comentários são de responsabilidade exclusiva dos leitores e não representam a opinião do site.
Reservamo-nos o direito de aprovar ou remover comentários que considerarmos inadequados ou que violem nossas diretrizes.

Podcast

Podcast

Edição impressa

Edição 287
Última edição

Edição de 15/08/2025

Publicada em 15/08/2025

Edição impressa

Edição 287
Última edição

Edição de 15/08/2025

Publicada em 15/08/2025

Usamos cookies e tecnologias para melhorar sua experiência, personalizar anúncios e recomendar conteúdos.
Ao continuar, você concorda com isso. Veja nosso novo Aviso de Privacidade em nosso Portal da Privacidade.