O Programa Renova Paraná, do Governo do Estado, oferece subvenção dos juros para financiamento de sistemas de geração de energia renovável no campo. As taxas de desconto variam: agricultores familiares podem zerar os juros, enquanto médios e grandes produtores recebem abatimentos proporcionais. O impacto é imediato – a economia na fatura de energia costuma ser suficiente para cobrir as parcelas do financiamento.
Desde 2021, mais de 35 mil sistemas de geração de energia renovável foram instalados no meio rural paranaense, fruto dessa nova visão para o setor, entre iniciativas isoladas e que contam com apoio público. Ao todo, foram investidos R$ 5,5 bilhões. Os financiamentos (cerca de R$ 1,54 bilhão) atingiram quase 10 mil projetos aprovados com apoio do Renova Paraná (RenovaPR), voltados principalmente para painéis solares e sistemas de biodigestão, com aporte de R$ 260 milhões do Governo do Estado para equalização dos juros.
O financiamento, com juros cobertos pelo Estado, tem prazo de até dez anos. Os sistemas de placas solares, no entanto, têm vida útil de pelo menos 30 anos. “É como se o produtor comprasse 20 anos de energia com desconto, e com um retorno garantido”, explica Herlon Almeida, coordenador estadual do programa RenovaPR no Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR).
A subvenção dos juros para a instalação de geradores de energia limpa é feita com recursos 100% do Governo do Paraná. O benefício é operacionalizado por meio do Banco do Agricultor Paranaense (BAP), com recursos do Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE).
“Esse é um programa fundamental para garantir a produção sustentável e o crescimento da nossa agricultura e pecuária. O Estado entendeu a sua vocação e aposta cada vez mais em programas de apoio à produção do campo, como o Banco do Agricultor, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), que serão uma alternativa barata ao Plano Safra, e os investimentos em irrigação e estradas rurais”, complementa o secretário de Agricultura e Abastecimento, Márcio Nunes.
ECONOMIA – A produção de proteína animal e de produtos hortifrutigranjeiros requer grande gasto de energia. São refrigeradores que conservam a carne, ventilação para os animais ou bombas de água para irrigação de legumes e vegetais. Os produtores que aderem a produção de energia com fontes renováveis pagam apenas a taxa mínima de energia, que varia entre R$ 24 a R$ 82.
Com o dinheiro que deixou de gastar na conta de luz, Idemar Dalberto, da cidade de Nova Prata do Iguaçu, passou a investir na manutenção da produção e no conforto da família. “Antes era difícil, a energia vinha muito cara, mal dava para irrigar o pasto. Agora deu até para instalar um ar-condicionado na casa e dar mais conforto para a família. Deu para melhorar bem o padrão de vida”, celebrou.
Segundo ele, com a economia feita mês a mês, é possível fazer uma série de melhorias na propriedade. A principal foi a compra de uma carreta basculante, que auxilia no processo de transporte de silagem de milho, que serve para alimentação das vacas leiteiras. “Conseguimos investir mais na conservação do solo para a pastagem, comprando mais adubo e calcário para recuperar a terra. Também compramos um pulverizador automático, que facilita a aplicação de produtos como inseticidas, fungicidas e fertilizantes”, conta.
Já Iranei Donizete chega a economizar R$ 25 mil por mês com criação de porcos na cidade de Mamborê, na região Centro-Oeste. São 2.500 porcas matrizes na propriedade com a venda de até 1.700 leitões por semana. Além das placas solares, o produtor instalou o biodigestor que transforma o dejeto dos animais em produção de biogás, que pode ser usado como fonte de energia.
A maior parte da energia é consumida no aquecimento dos leitões e na climatização dos barracões de maternidade, o que diminui o estresse animal e aumenta a produção. Outro custo alto de energia é o sistema automático de alimentação, que também possibilita uma diminuição no custo de mão de obra.
“Com o dinheiro que deixo de pagar na conta de luz, posso pagar as parcelas do financiamento e reformar a minha propriedade. Neste momento, estou fazendo mais um barracão para mais espaço para os animais, reformando as baias mais antigas das porcas matrizes e refazendo 240 celas parideiras”, diz.
O cultivo de hortaliças também demanda muita energia com irrigação. A produtora Lais Sary tem cultivo hidropônico na colônia Murici, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, e instalou placas solares na sua propriedade. Para irrigar a rúcula, agrião, espinafre, salsinha e cebolinha, as bombas de água precisam ficar ligadas durante 12 horas por dia.
“Eu gastava em torno de R$ 1.000 por mês de energia. Com o investimento das placas solares, pagamos só o valor mínimo de R$ 100”, explicou Lais, que é agricultura familiar e tem o juros zerado por meio do programa do Renova PR.
Marlei Dias Borges também é agricultora familiar na região de São José dos Pinhais. Ela faz a ordenha de leite na propriedade e produz queijo e iogurte. As vendas dos produtos chegam a R$ 800 por semana. Graças ao desconto na conta de luz, passou a ter mais conforto e bem-estar.
“Antes eu gastava uma média de R$ 500, agora vem apenas R$ 20. Hoje eu uso o aquecedor para aquecer o leite, para fazer os queijos, para secar a roupa. Fico com o ar-condicionado ligado, quentinha”, diz.
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JUROS ZERO – Existe um enorme potencial de crescimento do programa de financiamento de energia limpa para os agricultores familiares. De acordo com levantamento do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Paraná conta hoje com 310 mil unidades produtivas, ou estabelecimentos rurais. Deste total, cerca de 82% se categorizam como agricultores familiares.
Para agricultores familiares, que contratam crédito pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), a taxa de juros é de 5% ao ano. Para projetos de energia solar e de biogás ou biometano, o Estado cobre os 5%, o que na prática torna o juro zero.
Médios produtores, que acessam o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) com juros de 10% ao ano, recebem subvenção de 3% para energia solar e de 5% para biogás e biometano. Já os grandes produtores, com taxa de 14% ao ano, têm direito a subvenção de 3% para solar e de 5% para biogás e biometano.
Essas subvenções são válidas para financiamentos de até R$ 500 mil no caso da energia solar e de até R$ 2 milhões para sistemas de biogás e biometano.
A subvenção de taxas de juros funciona mediante contrato bancário. Quando o produtor rural ou cooperativa, pessoa física ou jurídica rural, contrata o financiamento no sistema financeiro do crédito rural, o Estado, por meio da Fomento Paraná, entra como partícipe e garante que parte ou a totalidade do juro, dependendo da modalidade de produtor, é assumida pelo Estado.
No vencimento da parcela do financiamento, o produtor paga a integralidade do juro e o banco informa a Fomento Paraná que a parcela foi paga no prazo. Em até 20 dias, o valor do juros volta para a conta do produtor.
CICLO VIRTUOSO – No Paraná, são mais de 700 empresas prestando serviço na área de energia solar e outras 25 especializadas em biogás. A cadeia também gera emprego, recolhe tributos e impulsiona a economia local.
A tecnologia viabiliza um modelo de sustentabilidade econômica: primeiro, o produtor investe para reduzir custos com energia. Depois de quitar o financiamento, o que era gasto com a fatura mensal passa a ser incorporado como lucro.

ENERGIA SOLAR – De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Paraná conta hoje com mais de 43 mil propriedades rurais com energia sustentável. Destas, 99% utilizam o sistema de placas solares. As cidades paranaenses que mais se destacam no uso de energia solar são Toledo, com 1.233 propriedades, Santa Helena, com 1.185, e Marechal Cândido Rondon, com 938.
O montante da energia produzida por estes geradores em propriedades rurais chegam a aproximadamente 880 megawatts. É energia suficiente para abastecer uma grande cidade do Paraná, como Londrina ou Maringá.
Os produtores com maior demanda energética e maior adesão ao programa são aqueles ligados às cadeias da proteína animal, como leite, suínos, aves e peixes. Nessas atividades, o consumo de energia é constante e elevado, o que torna mais vantajosa a geração própria de energia no campo.
“Você pode ter um grande produtor de soja que, na propriedade, tenha apenas a casa dele e dos operários. Isto é, ele tem baixa demanda de energia, não demanda energia para produzir. Por isso, quem mais procura e se beneficia do programa são os produtores de proteína animal”, afirma Herlon, coordenador do RenovaPR.
BIOGÁS – O avanço do biogás e do biometano no campo está diretamente ligado à necessidade de tratamento ambiental dos dejetos gerados pela produção animal. A ampliação dos rebanhos depende da capacidade do produtor em tratar adequadamente esses resíduos.
O licenciamento ambiental para novos lotes de animais no Paraná, geridos pelo Instituto Água e Terra (IAT), exige que o empreendimento comprove tratamento adequado dos dejetos, conforme a legislação ambiental. A gestão correta dos resíduos é uma das condicionantes para a obtenção das licenças ambientais, como a Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO).
O diferencial do biogás está justamente no retorno econômico que o tratamento ambiental pode oferecer. “É um dos poucos tratamentos ambientais que geram retorno financeiro. O que antes era um passivo ambiental, passa a ser um ativo econômico chamado energia – que pode ser consumida na propriedade ou comercializada”, explica Herlon.
NOVA FASE – Se o sol virou aliado na economia, os dejetos da produção animal estão se transformando em uma nova fonte de renda e energia no campo. Com o avanço da energia solar, o RenovaPR agora amplia seus objetivos. O foco para os próximos anos será ampliar a produção de biogás nas cadeias da proteína animal, estimular o uso de baterias para armazenamento de energia e melhorar a infraestrutura elétrica no campo.
A ideia é incentivar a migração das redes monofásicas e bifásicas, que ainda atendem 92% das propriedades, para sistemas trifásicos – mais estáveis e capazes de suportar a automação da agroindústria.
Além disso, o programa discute com parceiros a criação de uma nova linha para estimular o uso de baterias, que hoje têm custo mais acessível. O objetivo é garantir segurança energética diante de apagões causados por eventos climáticos ou falhas na rede.
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