Um dos extratos que acaba de ser divulgado pelo Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fez um retrato religioso dos municípios, estados e do Brasil.
Esta foi a primeira vez que o levantamento fez a consideração por município, mas outros levantamentos em censos anteriores já faziam uma apuração em âmbito nacional.
Das 301.524 pessoas ouvidas pelos recenseadores em Cascavel que possuem dez anos ou mais de idade, 193.650 se disseram católicos, mais de 60% dos ouvidos. “No Sul, como no Brasil, o catolicismo é predominante e vemos isso com mais efervescência em municípios colonizados por descendentes de italianos, como muitas cidades do Oeste do Paraná”, reforça o cientista político, Marcelo Almeida.
Outros 74.989 disseram ser evangélicos, que é a segunda maior predominância de fé no município, respondendo por cerca de 25% dos ouvidos pelo Censo. “Isso tem uma explicação muito clara e nos próximos censos certamente isso ficará ainda mais evidente com novos extratos municipais. O número de evangélicos vem aumentando significativamente no país nos últimos anos e em Cascavel isso não é diferente”, destaca Almeida.
Os espiritas representam 3.548 cascavelenses, 992 pessoas dizem praticar religiosos de matrizes africanas como umbanda e candomblé, 56 seguem tradições indígenas 7.997 pessoas dizem seguir outras religiões, enquanto 18.440 disseram não seguir nenhuma religião. “A fé e uma crença religiosa se mostram importantes para muitas pessoas em um propósito de vida, em acreditar em um ser supremo, mas também temos visto que um número significativo de pessoas que se diz sem religião. Isso é um retrato que precisa ser analisado”, avalia o cientista político.
Doze pessoas em Cascavel disseram ainda não saber se seguem alguma religião específica e 1.841 prefeririam não declarar.
Toledo, Foz e Marechal: as diferenças regionais da religião
No retrato regional, a condição de Cascavel é similar a de Toledo. Dos 130.798 ouvidos por lá, com dez anos ou mais, 32.230 se disseram católicos, 32.230 evangélicos, 1.154 são espiritas, 198 seguem religiões de matrizes africanas, 3.035 outras fés, 6.132 sem religião, 11 não souberam e 95 não declararam.
O retrato muda um pouco em Foz do Iguaçu, a segunda maior cidade do Oeste. Cerca de metade da população local ouvida se diz católica. Dos 247.225 ouvidos pelo censo, 127.834 são católicos, 72.735 são evangélicos e mais de 17 mil praticam outras religiões. “Em Foz temos muitos árabes e pessoas que seguem a fé muçulmana, temos ainda muitos judeus. A pesquisa não mostrou esse retrato, mas certamente o trará nos próximos levantamentos”, lembra o cientista político.
Chama a atenção, no entanto, que na cidade 21.377 pessoas disseram não seguir nenhuma religião, o maior número entre as maiores cidades do Oeste.
Em Marechal Cândido Rondon, a quarta maior cidade da região atrás de Cascavel, Foz do Iguaçu e Toledo, 48.392 pessoas com dez anos ou mais responderam ao questionário religioso. Apesar da predominância do catolicismo na cidade, com 25.831 se declarando católicos, trata-se da cidade da região onde o número de evangélicos mais se aproxima dos católicos: 19.441 pessoas. A justificativa estaria na colonização de origem alemã com religião protestante. Pelo menos 2.089 pessoas disseram na cidade não seguir nenhuma religião.
Retrato da religião no Paraná
No Paraná, foram ouvidas quase dez milhões de pessoas com dez anos ou mais. Deste total, 6.275 milhões se dizem católicos, 2.602 milhões evangélicos, 104,5 mil são espiritas, 58.530 seguem religiões de matriz africana, 3.601 seguem rituais indígenas, 319,2 mil seguem outras religiões, enquanto 602,5 mil não seguem quaisquer crenças religiosas.
Outros 7.196 paranaenses não sabem se praticam alguma fé e 12.581 não quiseram responder à pesquisa. O estado se mantém dentro de uma tendência nacional de apuração, revelando predomínio do catolicismo e avanço dos evangélicos.
No Brasil, católicos ainda são maioria, mas vêm perdendo espaço para os evangélicos
O Censo Demográfico 2022, divulgado pelo IBGE, revela mudanças significativas no panorama religioso do Brasil como um todo. Em comparação com 2010, quando o catolicismo concentrava 65,1% da população com dez anos ou mais (equivalente a 105,4 milhões de pessoas), esse percentual caiu para 56,7% (100,2 milhões) em 2022 — uma redução de aproximadamente 8,4 pontos percentuais. No mesmo período, observou-se crescimento expressivo no número de evangélicos: de 21,6% (35 milhões) para 26,9% (47,4 milhões), um aumento de 5,2 pontos percentuais.
O levantamento também mostra crescimento nos grupos “sem religião” (de 7,9% para 9,3%) e nas religiões de matriz africana, como Umbanda e Candomblé (de 0,3% para 1,0%), bem como nas “outras religiosidades” (de 2,7% para 4,0%). A religião espírita teve leve declínio, passando de 2,2% para 1,8%, enquanto religiões indígenas mantiveram-se em 0,1%.
De acordo com Maria Goreth Santos, analista responsável pelo tema no IBGE, “em 150 anos de recenseamento religioso, muita coisa mudou no país e na sociedade como um todo”. Em 1872, apenas “católico” ou “acatólico” eram opções válidas no questionário — e a população escravizada era automaticamente considerada católica, conforme a declaração do “senhor da casa”. Hoje, a coleta de dados reflete maior pluralidade, com códigos específicos para diferentes grupos religiosos.
Regionalmente, o catolicismo ainda predomina em todas as grandes regiões, com maior adesão no Nordeste (63,9%) e Sul (62,4%) — e menor, no Norte (50,5%). Já os evangélicos são mais presentes no Norte (36,8%) e menos no Nordeste (22,5%). Espíritas têm maior presença no Sudeste (2,7%), enquanto Umbanda e Candomblé se concentram no Sul (1,6%) e Sudeste (1,4%). Aqueles sem religião são mais numerosos no Sudeste (10,5%), assim como adeptos das “outras religiosidades” (4,9% nesse mesmo cenário).
Entre os 27 estados, 13 possuem percentual de católicos acima da média nacional. O Piauí lidera, com 77,4% de católicos e apenas 15,6% de evangélicos. Já no Rio de Janeiro, Roraima e Acre, o catolicismo representa menos de 39% da população. Quanto aos evangélicos, o Acre apresenta maior percentual (44,4%), e o Piauí, o menor (15,6%). Espírito Santo e Rio Grande do Sul destacam-se nas religiões de matriz africana, com 3,5% e 3,2%, respectivamente.
“O estudo reflete que o Brasil segue intensamente plural e em transformação religiosa: um país aonde o catolicismo perde terreno, os evangélicos avançam”, completa Almeida.