Por Silvio Matos
Em agosto de 2024, Cascavel iniciou a operação da maior frota de ônibus elétricos da região Sul do Brasil. Quinze unidades, 13 do modelo padron de 13 metros e duas do modelo articulado de 18 metros, começaram a rodar pelas linhas troncais: 001 (Leste/Oeste), 005 (Nordeste/Oeste), 008 (Leste/Sudoeste) e 009 (Oeste/Sudoeste), passando pelas principais avenidas: Brasil, Barão do Rio Branco e Tancredo Neves.
Desde então, esses veículos já percorreram 1,1 milhão de quilômetros, o que representa 12,45% do total do sistema, que rodou 8,6 milhões de quilômetros em um ano. A frota elétrica deixou de emitir 1,4 milhão de quilos de CO₂ (dióxido de carbônico) na atmosfera, o equivalente ao plantio de 10,2 mil árvores.
Os ônibus foram adquiridos pelo Município, por meio de pregão eletrônico, junto à fabricante chinesa Higer Bus, representada no Brasil pela TEVx Motors Group. O investimento de R$ 43,2 milhões foi financiado pelo BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul). A entrega, prevista contratualmente para 15 de maio de 2024, sofreu atraso de quase três meses e ocorreu apenas em 5 de agosto.
Economia de R$ 1,2 milhões
O levantamento feito pela Transitar (Autarquia Municipal de Mobilidade, Trânsito e Cidadania) apontou que foram consumidos 1,2 milhão de quilowatts, ao custo de R$ 1,3 milhão ou R$ 1,29 por quilômetro rodado. A média mensal, por ônibus, é de R$ 92.437,59. Na comparação com o diesel, combustível dos demais veículos do sistema, o Município economizou R$ 1,2 milhão. Para percorrer a mesma quilometragem, seriam necessários 537 mil litros de diesel, ao custo de R$ 2,5 milhões (R$ 2,42 por quilômetro rodado).
Custos extras e manutenção
Os ônibus a diesel utilizados nos corredores exclusivos contam com 28 poltronas pós-catraca. Já os elétricos do modelo padron foram entregues com 15 assentos na parte traseira, redução de 50%. Como o maior volume de passageiros embarca nos terminais, conforme a Transitar, meio ônibus ficava ocioso enquanto outra metade lotada. Para resolver este problema, a autarquia teve que desembolsar mais R$ 130 mil para mudar as catracas, colocando-as na porta central, de modo a possibilitar que todo o ônibus ficasse com o interior livre para receber os passageiros dos terminais.
Já a substituição dos pneus exigiu nova licitação de R$ 750 mil. O custo foi assumido pelo Município porque, segundo a Transitar, a atual concessão não prevê manutenção pelas operadoras, que devem apenas fornecer motoristas e realizar a limpeza. No próximo contrato, ainda sem previsão de lançamento, as empresas ficarão responsáveis por todos os custos inerentes a frota, exceto o carregamento elétrico, que continuará sob responsabilidade do poder público.
A mesma companhia fornecedora dos ônibus elétricos é a responsável pela manutenção. Contratada com inexigibilidade de licitação, o valor máximo para manter as revisões preventivas e reparos é de R$ 1,3 milhão por 12 meses de serviços. O valor em questão é o teto de gastos para toda frota elétrica, já que os veículos podem, eventualmente, passar por pequenas manutenções e não gerar custos extras como, por exemplo, de peças e componentes.
Os gastos adicionais à aquisição da frota podem superar a economia com combustível em cerca de R$ 900 mil. Isso porque, ao somar os custos com a realocação de catracas, a compra de novos pneus e o teto máximo de manutenção dos 15 veículos, o valor pode chegar a aproximadamente R$ 2,1 milhões em um ano, contra a economia de R$ 1,2 milhão.
Problemas
A reportagem constatou problemas nos veículos como painéis de LED defeituosos, questões estéticas como mal funcionamento de iluminação decorativa externa, falta de pega-mão em uma das portas e até ônibus rodando com a dianteira amassada, marcas originárias de acidentes de trânsito. Questionada por usuários do sistema, a Transitar respondeu que, nos casos de colisões, a responsabilidade é de terceiros e que já acionou judicialmente os envolvidos. Sobre os outros problemas, informou que resolveu com suporte da TEVx.
A TEVx, por sua vez, foi procurada pelo Preto no Branco e afirmou que modificou protocolos, após o questionamento da reportagem, para trazer mais agilidade à resolução de problemas. “Para evitar que episódios como esses voltem a acontecer, todos os veículos serão vistoriados com mais recorrência de acordo com um check-list básico. Além disso, há uma central técnica 24 horas para que esses casos sejam levados pelo poder público”. O novo check-list inclui: sistema elétrico e baterias; pneus e rodas; componentes mecânicos; iluminação e sinalização; interior do veículo e segurança.
Promessa de campanha, ampliação da frota elétrica ficou para depois
Promessa da gestão anterior e reforçada pelo atual executivo de Cascavel é de que 100% da frota seja renovada por veículos elétricos em um período de até 10 anos. Para o projeto funcionar, na velocidade que começou, 15 ônibus deveriam entrar por ano para que em 2034 os 150 veículos estejam disponíveis com a tecnologia. No entanto, até agora, não houve lançamento de novo processo de aquisição.
Em 2024, a cidade foi habilitada no Novo PAC (Programa de Aceleramento de Crescimento) Seleções do Governo Federal, por meio de emenda do deputado federal Elton Welter (PT), solicitada pela ex-vereadora Professora Liliam (PT), para receber R$ 52,7 milhões para compra de mais 15 ônibus do tipo básico e os carregadores equivalentes.
Na época, o Preto no Branco questionou o IPC (Instituto de Planejamento de Cascavel), que repassou que a única modalidade disponível para os municípios selecionados era via financiamento, que dependia de autorização da Câmara Municipal, análise pela Secretaria do Tesouro Nacional e contratação com banco credor. Até o momento, o processo não foi adiante. Neste mês, o IPC informou que após a avaliação dos critérios, objetivos e requisitos para a aquisição e as condições do financiamento, “o Município optou por aguardar, mantendo-se atento a novas oportunidades e alternativas de investimento que tragam benefícios sustentáveis para o transporte coletivo da cidade”, diz a nota.
A Transitar também se pronunciou sobre o assunto: “É mantido pela gestão o desejo em realizar a substituição completa da frota no prazo de 10 anos, no entanto, o desafio principal, nesse momento, é oferecer um serviço de qualidade e com tarifa justa, visto que a realização de novos investimentos reflete em aumento de custos no sistema que devem ser suportados pelo Município através de subsídio, cujo orçamento é limitado, ou da tarifa, cujo aumento afasta e reduz o número de usuários. Na nova concessão está prevista a possibilidade de renovação da frota por tecnologias mais limpas, o que não está necessariamente atrelado somente ao uso de ônibus elétricos”.