Mães e pais se reúnem para falar sobre a perda de seus filhos na Assembleia Legislativa do Paraná

Parlamento sediou roda de conversa sobre luto parental, iniciativa que faz parte da programação do Julho Âmbar

Mães e pais se reúnem para falar sobre a perda de seus filhos na Assembleia Legislativa do Paraná

Parlamento sediou roda de conversa sobre luto parental, iniciativa que faz parte da programação do Julho Âmbar
Mães e pais se reúnem para falar sobre a perda de seus filhos na Assembleia Legislativa do Paraná

“Tornar uma dor que nunca vai passar em algo um pouco mais aconchegante” é o objetivo de uma roda de conversa sobre luto parental, resume Verônica Chimanski, tesoureira da organização Dando Voz ao Coração (DVC). Na tarde desta quinta-feira (10), a entidade realizou o evento nas dependências da Assembleia Legislativa do Paraná. A iniciativa integra a programação do Legislativo referente ao Julho Âmbar, dedicado à conscientização do luto parental. Previsto pela Lei nº 22.331/2025, proposta pelo deputado Luiz Claudio Romanelli (PSD) a partir de uma sugestão da DVC, o mês é dedicado a dar visibilidade e fomentar políticas públicas de apoio aos parentes enlutados.

Esta foi a sétima edição do Café das Estrelas, nome dado em referência às “estrelinhas” entregues ao céu. No entanto, desde 2021, é a primeira vez que o encontro é realizado em um espaço público como o da Assembleia Legislativa do Paraná. “É importante trazer isso para dentro de uma Casa de Leis, onde há um cunho político. É para deixar claro que é para todo mundo”, refletiu Verônica. Normalmente os encontros ocorrem em locais reservados, onde os pais podem se sentir à vontade para falar do que sentem.

Pelo menos nove inscritos, dentre mães e pais que já tiveram de se despedir dos seus filhos, compareceram ao Salão Nobre Acioly Filho. O quórum dos encontros varia bastante – a entidade já registrou desde rodas de conversa com duas pessoas, enquanto outros eventos ultrapassaram dez presentes. Sentados em cadeiras dispostas em círculo, eles abriram o coração sobre as memórias e o peso da despedida. A DVC também promoveu, ao longo da conversa, um exercício simbólico que convida os pais a escreverem uma mensagem aos filhos que partiram em pedaços de papel. Depois, foram guiados a transformar essa mensagem em uma estrela, por meio de dobraduras.

“A ideia é trazer um acalanto para o nosso coração. Falar dos nossos filhos é tão gostoso, não é?”, questiona Verônica, que conduziu a conversa. Mãe enlutada há seis anos, quando se despediu de Pedro no seu segundo ano de vida, ela complementa com uma segunda reflexão: “Por que eu não poderia falar do meu, só porque ele partiu?”. “Temos que desmitificar o fato de as pessoas falarem da perda dos seus filhos. Todo mundo tem que entender que o filho partiu, mas a mãe continua e a mãe gosta de falar dele. Eu penso no meu todos os dias”.

“Talvez por não saber como lidar com as próprias emoções, as pessoas acabam evitando tocar no assunto porque a mãe [enlutada] pode se emocionar. Então, essa mãe não consegue encontrar um espaço de fala, um espaço de escuta e guarda essa dor”, opina a bióloga Fernanda Góss Braga, fundadora e presidente da DVC. “Chega um momento em que essa dor represada vai ter que transbordar de alguma forma”.

Além da carência de apoio psicológico aos pais enlutados na saúde pública, denunciada pelas organizadoras, há dentro do luto parental perdas que sequer costumam ser reconhecidas como luto. É o caso da perda gestacional, que ocorre quando as mães sofrem um aborto espontâneo antes de 20 semanas de gestação. Fernanda passou por essa situação dez vezes, mas só reconheceu a sua importância anos depois, durante terapia.

“As famílias ouvem muito ‘você é nova, vai engravidar de novo, você não viu a carinha, nunca pegou no colo, então está tudo bem’. Mas a partir do momento que recebe um positivo de gravidez, você já imagina a faculdade que o filho vai fazer”, relembra. “É muito difícil para essas mães encontrarem o acolhimento da sociedade. Muito mais do que um apoio para as famílias, o Julho Âmbar também busca conscientizar a sociedade do quanto é importante a gente ser empático e ter um olhar compassivo”.

Programação

A roda de conversa integra uma a programação promovida pela Assembleia Legislativa do Paraná que busca dar voz à dor de pais e mães. Até esta sexta-feira (11), o Espaço Cultural da Assembleia recebe a exposição “Julho Âmbar: Retratos do Luto Parental”, com curadoria da artista visual Katia Velo e co-curadoria de Fernanda Góss Braga. A mostra reúne fotografias pessoais de 27 famílias que vivenciam o luto parental.

Celebrado pelo menos desde 2013 em todo o mundo, o Mês de Conscientização do Luto Parental (Bereaved Parents Awareness Month, em inglês) busca honrar os filhos que morreram e homenagear sua memória, fomentando o apoio social às famílias que tentam sobreviver após a morte de um filho. A iniciativa é atribuída aos americanos Peter e Deborah Kulkkula, que perderam seu filho Peter John aos 19 anos.

A escolha do mês deve-se ao 3 de julho, data marcada internacionalmente como o Dia dos Pais Enlutados. Já a cor é uma referência ao nascer do sol e à esperança necessária a esses pais.

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