Os negócios do café permitirão ao governador Bento Munhoz da Rocha Neto comemorar o centenário de emancipação do Paraná, em 1953, com obras monumentais como o Centro Cívico e o Teatro Guaíra, transformando definitivamente Curitiba em metrópole.
O interior, no entanto, virou um barril de pólvora. Depois da morte de Manoel Ribas, suas promessas de proteger os posseiros foram ignoradas e Bento tratou, ele próprio, de descumprir os compromissos assumidos com os lavradores.
Houve paz dos novos municípios criados pelo governador em 1951, que tiveram eleições em 1952 e a posse dos prefeitos em dezembro de 1952. Nesses municípios, a expectativa recaía sobre os prefeitos e suas câmaras de vereadores, casos de Cascavel, Guaíra e Toledo.
Foz do Iguaçu, Município do qual os três novos municípios se emanciparam, viveu um período de míngua. O Município precisou atender às múltiplas necessidades de seus novos distritos – Medianeira, Matelândia e Gaúcha (depois renomeado para São Miguel do Iguaçu https://x.gd/2s9aC), – e não conseguia servir melhor à sua população histórica.
A cobrança da população não cabia mais na Câmara Municipal iguacuense, até porque o presidente, vereador Érico Francisco Pruner, foi um dos astros da colonização do interior e tinha mais relação com os novos distritos que com a população tradicional.
Vindo de Brusque (SC), Pruner se casou em 1944 com Irma Rios, filha de Antonio Nunes Rios e Elfrida Engel, casal que em 1916 hospedou o inventor do avião, Alberto Santos-Dumont, quando esteve em visita às Cataratas e iniciou a campanha para criar o Parque Nacional do Iguaçu.
Supostamente ligado aos interesses ingleses já desmobilizados na região, Pruner partiu de Foz do Iguaçu com uma turma de trabalhadores paraguaios abrindo cerca de 50 quilômetros na mata fechada em direção ao Leste (https://x.gd/9aOCa).
Começava com ele a “República dos Catarinas”, a concatenação de personalidades e ações que levaram à formação da Rota Oeste – o trecho Foz do Iguaçu-Cascavel da futura BR-277.
Pontificaram na “República dos Catarinas”, além de Pruner, nomes influentes como Silvino Dal Bó (1920–1974), proveniente de Urussanga, e Írio Manganelli (1922–1980), ligados à Colonizadora Criciúma, que fez a primeira atração de colonos provenientes de SC para a Rota Oeste.
Dal Bó criou a Colonizadora Criciúma, nome da cidade onde nasceu Manganelli, agrimensor da empresa, para colonizar 5.500 alqueires de terra adquiridos para este fim e que no futuro resultariam em comunidades importantes como Santa Terezinha de Itaipu e São Miguel do Iguaçu.
Nesse sentido, embora tenha sido um chefe de Legislativo atuante, a memória mais marcante de Pruner está ligada sobretudo à formação de São Miguel do Iguaçu (https://x.gd/Y4pj1).
Com tanto movimento nas matas, a população que se espalhava nas colônias superou rapidamente a da cidade de Foz do Iguaçu, tornando natural o predomínio de vereadores do interior na Câmara Municipal.
O presidente Érico Francisco Pruner era ligado aos colonizadores. Em 1949 foi instituída a vice-presidência, que antes não havia, entregue ao vereador Balduíno Weirich, que também representava o setor rural.
Silvino Dal Bó também viria a ser vereador, presidente da Câmara e |prefeito de Foz do Iguaçu. Manganelli foi vereador, presidiu a Câmara e assessorou a Prefeitura na gestão de Emílio Henrique Gomez, um dos grandes colonizadores da Rota Oeste, prefeito de Foz do Iguaçu e Céu Azul e fundador de Medianeira.
Uma particularidade importante da Colonizadora Criciúma é que não se limitava a vender terras aos colonos que chegavam. Seguindo a noção corrente de que o solo do Oeste era o mais fértil do mundo, similar às terras da Ucrânia e do Vale do Rio Mississipi (EUA), supôs que as terras da região seriam propícias ao plantio do café, cultura que enriquecia o Paraná nessa época.
A Criciúma apontava aos colonos que acreditaram em seu projeto um paraíso produtivo na combinação da exploração da madeira, com a derrubada florestal pagando a lavoura do café.
“Estas famílias almejavam transformar a região Oeste, ainda coberta pela mata virgem, em cafezais, a exemplo da região Norte do Estado” (Adilson Pasini, História de Santa Terezinha de Itaipu).
O cultivo do café, de acordo com os estudos da Criciúma, seria feito no esquema “sombreado”, técnica utilizada nos países de colonização espanhola caracterizada por uma produção menor que em áreas desmatadas, de baixo impacto ecológico.
A retirada de madeira, de venda imediata, bancaria os investimentos de médio prazo na cafeicultura. A experiência, entretanto, foi desastrosa.
“Em julho de 1953 caiu sobre a região uma geada muito forte, a qual destruiu os cafezais e o sonho dos colonos que haviam investido no plantio do café sombreado. Mas a terra era fértil e constatou-se a viabilidade do cultivo de outras culturas como milho, feijão, hortelã e, posteriormente, soja” (Adilson Pasini).
A estrutura assegurada pela colonizadora facilitou a transição rápida de cultivo e logo as pequenas vilas que brotaram desde o pós-guerra na Rota Oeste progrediam, recebendo mais colonos. Com eles, mais eleitores para reforçar o poder político da “República dos Catarinas”
A prioridade de Pruner pela estruturação dos novos distritos e as ligações familiares com os pioneiros mais respeitados de Foz do Iguaçu lhe deram um papel determinante na formação tanto da Rota Oeste quanto da estruturação do turismo em Foz do Iguaçu.
O apoio irrestrito da comunidade aos agricultores e a necessidade de educar seus filhos uniu a comunidade iguaçuense em torno da criação, em 12 de junho de 1953, da Escola dos Trabalhadores Rurais Dr. Ernesto Luiz de Oliveira (Colégio Agrícola), futuro Centro Estadual de Educação Profissional Manoel Moreira Pena.
Ernesto Luiz de Oliveira (1874–1938), nascido na Lapa, foi secretário da Agricultura do Paraná e se notabilizou por condenar as queimadas e derrubadas florestais, exigindo sua proibição. Tenente na Revolução Federalista, dedicou-se à educação até ser nomeado secretário da Agricultura pelo governador Carlos Cavalcanti.
Para as famílias tradicionais de Foz do Iguaçu, a reduzida representação da Câmara Municipal não bastava para pressionar em favor da concentração de recursos na sede. Era preciso abrir uma frente importante de pressão.
Com a imprensa livre, fortalecida após a ditadura, e a disseminação da radiofonia pelo interior, surgem em 1953 o jornal A Notícia, de João Lobato Machado, Acelino de Castro e Inácio Sotto Maior, com equipamento vindo do jornal Correio d’Oeste, de Cascavel, e a base inicial da Rádio Cultura, que seria oficializada em 1956.
Os veículos de comunicação abriram um foco de debates sobre a necessidades de estruturar a cidade para a atração e recepção de turistas. O Parque Nacional, criado em 1939, tinha um público estritamente regional. Irma Rios Pruner levava pequenos grupos de turistas para ver as Cataratas.
Foz do Iguaçu já contava com um aeroporto para voos comerciais desde 1941, mas não havia ainda um fluxo intenso de turistas. A imprensa motivou a união da comunidade local tendo como foco o fortalecimento do turismo regional, mas o projeto sofreu um baque em abril de 1946, quando o marechal Eurico Gaspar Dutra, presidente da República, mandou fechar todos os cassinos no Brasil, decretando o fim do Hotel Cassino de Foz do Iguaçu e de outros 70 no Brasil.
Era preciso estimular o turismo interno, portanto, e não só para visitação às Cataratas e ao Parque Nacional, mas para conhecer as anunciadas terras mais férteis do mundo. Milhares de folhetos de projetos coloniais no Oeste do Paraná circulavam em SC e RS.
Com padre Luiz Luíse conseguindo levar a aviação a Cascavel, abriu-se a perspectiva de mais voos também a Foz do Iguaçu, favorecendo uma nova ofensiva da comunidade na estruturação do turismo local.
Enquanto isso, no interior de Toledo, que também receberá linhas regulares de aviação, sua antiga Vila Flórida, formada com a presença crescente de colonos de origem alemã desde 1949, tornava-se distrito com o nome de Vila General Rondon. Em 1960 ela será promovida a Marechal Cândido Rondon, já na condição de Município.
Frente à indiferença e truculência do governo elitista e o agravamento da situação social, os rebeldes decidiram em junho de 1924 tomar o poder para encaminhar as reformas que não vinham. Os preparativos iriam se desenrolar ao longo desse mês.
“Se são militares que formam na vanguarda dos movimentos de regeneração política do Brasil, é que suas armas lhes davam a possibilidade de agir; e não estava ainda em condições de substituí-los a ação das massas populares, desorganizadas e politicamente inativas. Os ‘tenentes’ assumirão por isso a liderança da revolução brasileira” (Caio Prado Jr, prefácio ao livro A Coluna Prestes, de Lourenço Moreira Lima).
“Pregava-se a revolução em toda parte: nos lares, nas fábricas, nas repartições públicas, nas casas de comércio generalizado, com frases incompreensíveis de patriotismo confuso. A culpa era dos governos. O mal era dos governos. E ninguém se lembrava da queda apavorante do algodão e do açúcar, na deblateração demagógica em favor do voto secreto, tido como remédio salvador da República” (José Maria dos Santos, A Política geral do Brasil).