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Turistas, colonos e demandas jovens

Pauta dos anos 1950: atrair visitantes ao lado brasileiro das Cataratas, atender às necessidades dos colonos e criar vagas no ensino médio 

04/08/2024 às 08h59
Por: Time de redação Fonte: Alceu Sperança
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Réplica do primeiro avião a pousar em Foz do Iguaçu. Beneméritos da educação oestina: Alceu Barroso, Aurélio Feijó e Antônio Cid 
Réplica do primeiro avião a pousar em Foz do Iguaçu. Beneméritos da educação oestina: Alceu Barroso, Aurélio Feijó e Antônio Cid 

A imprensa no Oeste paranaense se consolidou em Foz do Iguaçu na primeira metade da década de 1950 pela necessidade de enfrentar os restolhos do Estado Novo. Mesmo depois do fim da ditadura, em 1946, já com a democracia constitucional reconquistada, as autoridades brasileiras ainda impunham severas restrições ao ingresso de estrangeiros no país.

Os turistas tinham acesso fácil ao lado argentino das Cataratas, mas quando queriam ingressar no Brasil eram barrados. As autoridades alegavam que as restrições se destinavam a combater o contrabando, onipresente na fronteira.

Os comerciantes iguaçuenses se uniram em torno de um grupo de autodefesa do qual resultaram a Associação Comercial e Industrial de Foz do Iguaçu (Acifi), em 1951, a imprensa pregando o fortalecimento do turismo e instalações aeroportuárias adequadas ao esperado aumento no fluxo de turistas ao fim das restrições severas à entrada de visitantes nacionais e estrangeiros.

Pouco trabalho, muito futebol

Já havia aeroporto em Foz do Iguaçu desde 1935 (https://x.gd/eyiWQ), mas o movimento aéreo se reduzia a episódicos voos de interesse militar ou governamental.

Quando André Lichacovski, aos 19 anos, chegou para servir à Força Aérea Brasileira, em fevereiro de 1954, enfrentou mais tédio que trabalho.

“Passávamos a maior parte do tempo jogando futebol. Uma das primeiras coisas que o sargento me perguntou era se eu jogava, para, então, treinar com o time dele, o Industrial Madeireira” (depoimento à neta Letícia Lichacovski).

A Industrial Madeireira do Paraná (Imapar), de Renato Festugato, era na época uma das grandes forças da comunidade iguaçuense. Mais tarde transferiu a sede para Cascavel, em cujo interior ficavam suas madeireiras Central e São Domingos.   

Nesse 1954 de estiagem e dificuldades gerais na economia nacional, havia muita preocupação com o preparo de ações estruturais para atender às famílias dos colonos, que chegavam às centenas atraídos pelo excelente projeto da colonizadora Maripá e suas associadas na Rota Oeste. 

Paisagem transformada 

Ao mesmo tempo em que no interior de Toledo surgiam os núcleos urbanos de Pato Bragado e São Roque, junto ao Rio Tigre, em Corbélia, estabelecia-se a família Frare, cuja contribuição para o desenvolvimento da área foi estruturalmente inestimável, construindo estradas e pontes. 

Por essa época eram demarcadas as ruas de Corbélia, obedecendo a um plano urbanístico traçado pelo engenheiro Paulo Trauczinski.

Cuidados com a urbanização também orientaram em Toledo uma lei que vai se tornar o divisor de águas entre a total presença das construções de madeira e o incentivo a obras em alvenaria no centro da cidade.

O autor da proposta, vereador Clécio Zenni, deixava claro, em abril de 1954, que era uma política de transformação urbana: “Já é tempo de incrementar as construções de prédios modernos, pois o Toledo já ultrapassou a época de acampamento de pioneiros”. 

Para Foz do Iguaçu, modernizar era um verbo ligado à atração de turistas, que todos sabiam prestes a vir em volume crescente assim que as antigas restrições fossem abrandadas. 

Profissionalizar a hotelaria, proporcionar serviços em toda a linha, desde consertos em veículos automotores e carroças à sapataria, costura, olaria e muito mais, as famílias tradicionais de Foz do Iguaçu se desdobravam para atender a cada necessidade manifestada pelos colonos, cujas famílias cresciam e precisavam de quase tudo, sobretudo na Rota Oeste, até Medianeira.   

Estudar, um privilégio

Entre os colonos e as famílias de Foz do Iguaçu, Cascavel e Toledo, as crianças nascidas durante a colonização cresciam e se tornavam adolescentes. Os meninos jogavam, bola, as meninas se divertiam com petecas, ouviam muito rádio e sabiam o que motivava a juventude no eixo Curitiba-RJ-SP.

Desde julho de 1953 já estava em atividade a Escola dos Trabalhadores Rurais Dr. Ernesto Luiz de Oliveira (atualmente Centro Estadual de Educação Profissional Manoel Moreira Pena), o desejado Colégio Agrícola, mas a exemplo das demais escolas da região também não dispunha do curso ginasial.  

O juiz Aurélio Feijó, designado para a Comarca de Cascavel, disse que só viria se a cidade tivesse escolas de nível ginasial para seus filhos. Não havia, mas a Prefeitura cedeu uma área para a obra e o juiz convidou o professor paulista Antônio Cid para cuidar do projeto. 

Cid chegou a Cascavel em abril de 1954 e Feijó assumiu sua função na Comarca em junho.

“Vim para cá com a finalidade única e exclusiva de fundar um ginásio, pois o dr. Aurélio, quando veio para cá, tinha dois filhos em idade escolar. E ele disse que só ficaria aqui se houvesse um ginásio ou escola equivalente para dar estudo aos filhos” (Antônio Cid, https://x.gd/ArLdw).

Como uma escola não surge do nada, só por haver um terreno à disposição, Feijó despachou por algumas semanas e pediu remoção para outra Comarca. Antes de se despedir de Cascavel, porém, deixou um presente valioso: a escola que ele idealizou já contava com terreno, garantia de material de construção, cedido por Florêncio Galafassi, administrador da Industrial Madeireira do Paraná, e um professor titular. 

Temor aos jagunços 

O magistrado foi deslocado em julho, a pedido, para a Comarca de Pato Branco. Há quem suponha no episódio uma fuga, como ocorreu com o primeiro juiz designado para Cascavel, Inácio Pinto de Macedo (https://x.gd/cFMOO), espantado pelo clima de faroeste que viu na cidade.

A menina Alzira, filha do oficial de justiça Olímpio Gomes da Silva, que morava em cima do Fórum, justificava o temor:

“Vi muita gente morrer na Avenida Brasil, na Churrascaria Maracanã. Quando meu pai viajava para os matos fazer intimações, dormia nos troncos das árvores para que os grileiros de terras não o matassem” (Alzira Gomes Jacubowski, https://x.gd/Bp66s). 

Feijó, porém, ao sair de Cascavel deixou o professor Cid entrosado com a comunidade, já sabendo que tramitação para criar a escola não seria simples. Antes de tudo, era preciso edificar a escola no terreno oferecido, na esquina da Rua Paraná com a futura Travessa Padre Champagnat.

Grande escola para pequena cidade 

Enquanto orientava a obra, Antônio Cid não conseguia acreditar no que fazia: criava um grande colégio em uma pequena cidade. Para ele, era o auge de uma vida que começou na pacata Santa Cruz do Rio Pardo (SP), onde nasceu, em 28 de janeiro de 1924. 

Formado em Filosofia e Teologia, Cid lecionava em Santo Antônio da Platina desde o início da década de 1950 quando foi consultado pelo juiz Feijó.

Ao partir de lá, rumo a Cascavel, convencido pelo juiz e ciceroneado por Alceu Barroso, gerente do Banco Agrícola Vale do Rio Piquiri (Banquiri),

Cid não sabia o que iria encontrar, mas foi menos do que supôs enquanto viajava ouvindo as projeções otimistas do banqueiro Barroso sobre Cascavel.  

“Quando cheguei, notava-se, além dos poucos moradores que aqui existiam, um aglomerado de 80 a 100 casas, ali por volta da atual Praça Getúlio Vargas, que era considerada o centro da cidade. O que mais se via por aqui era gente mal-encarada”. 

Era um tempo de conflitos agrários. “Justamente por causa da procura das terras e da defesa dessas terras é que se via por aqui muito jagunço, muita gente armada”.

Homenagem ao Barão

Ao terminar a construção das primeiras salas, inauguradas em 25 de agosto de 1956, Cid abriu matrículas e teve como um dos primeiros professores, além dele mesmo, o ex-secretário municipal da Educação, Celso Formighieri Sperança.

Enquanto construía, Cid se convenceu de que Cascavel tinha de fato o potencial imaginado pelo banqueiro Barroso. Logo na inauguração ele fez à Diretoria de Ensino Comercial do Rio de Janeiro, então a capital da República, o regulamentar pedido de verificação prévia da sua Escola Técnica de Comércio Rio Branco, que funcionaria alternada com o curso ginasial.

Em 12 de março de 1957 o Ministério da Educação e Cultura autorizou o funcionamento da Escola Técnica. O estabelecimento homenageava o mais importante brasileiro de todos os tempos – o Barão do Rio Branco, diplomata que garantiu ao país a posse de boa parte da Amazônia e do Sul paranaense. 

100 anos da revolução:  Mercenários “patriotas”

Em 14 de julho de 1924, os combates se acirram em São Paulo. Ao atacar o 5º Batalhão da Força Pública, no bairro da Liberdade, o capitão Joaquim Távora foi gravemente ferido, morrendo quatro dias depois.

Um dia após a queda de Távora, em 15 de julho, o governador paranaense Caetano Munhoz designou ao capitão Dilermando Cândido de Assis a missão de cortar a descida dos rebeldes ao Paraná, pondo-o à frente do Regimento Provisório.

Formado por elementos civis, cedidos pelo gerente da Brazil Railway Company, Geraldo Rocha, preposto do Sindicato Farquhar, o Regimento se completaria com soldados da Força Militar do Paraná, comandada pelo capitão Joaquim Antônio de Moraes Sarmento.

Os civis “patriotas”, na verdade mercenários recrutados pela empresa, eram poucos. Dilermando foi à Sociedade de Tiro de Ponta Grossa e não encontrou ninguém disposto a combater os revolucionários.

Quis obrigar donos de carros e caminhões a se incorporar ao Regimento, mas foi sabotado: os motoristas fugiam ou tiravam peças dos veículos para não precisar combater.

Mesmo boicotado, Dilermando partiu de Ponta Grossa com 60 homens, 38 veículos e mais de cem cavalos em direção a Foz do Iguaçu.

Joaquim Távora: o descuidado herói da revolução

 

 

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Alceu Sperança
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