Em 9 de junho de 1954, o governador Bento Munhoz da Rocha Netto convocava a população de Cascavel para resolver, em praça pública, qual deveria ser o nome definitivo da cidade: “Cascavel”, “Aparecida dos Portos” ou “Aparecida do Oeste”.
Era o ponto culminante de uma longa controvérsia iniciada quando o major Oscar Ramos Pereira advertiu que poderia haver dificuldade para manter o nome da cidade por já haver duas outras com o mesmo nome. Por ser mais antigas elas teriam preferência se as autoridades decidissem descartar uma ou duas delas para não haver nomes duplicados.
A vantagem, por antiguidade era da cidade cearense. A vila de Cascavel começou quando o capitão português Domingos Paes Botão e seu cunhado, João da Fonseca Ferreira, evitando ser atacados pelas tribos indígenas que dominavam a região próxima aos rios Choró e Piranji, nos arredores de Fortaleza, encontraram um ponto defensável, que consagraram a Nossa Senhora do Ó, em 1694.
O local foi batizado de Sítio Cascavel porque, reza a lenda, a capela dedicada à Nossa Senhora do Ó foi construída em 1710 em área que tinha por baixo uma caverna onde viviam cobras cascavéis gigantes.
Na igreja que depois foi erguida havia uma torre encimada pela imagem da santa para que ela impedisse a cobra gigante de sair da caverna e destruir a vila. Para sepultar a lenda e a vinculação da cobra com a santa, as autoridades mudaram o nome do lugar para São Bento, que protege contra picadas de cobra.
A população, no entanto, preferiu que a santa não fosse descartada. No imaginário popular, ela era a garantia de proteção eficaz para a vila não ser atacada pela serpente gigante, com raiva por estar sufocada por baixo da torre da igreja.
Como até então a santa havia contido a serpente em seu cativeiro, a população decidiu manter os nomes dela para proteger a todos e da cidade para não desagradar à cobra, pois foi assim que a cidade se tornou uma das mais importantes do Ceará, palco da Feira de São Bento, a segunda maior feira ao ar livre do Brasil.
Já a Cascavel paulista se originou nos primórdios do século XVIII, quando as famílias Alves e Tangerino se apossaram de campos transferidos depois de sucessivas vendas ao capitão Joaquim Gonçalves Vallim.
Seus herdeiros formaram um pequeno povoado ao redor de um potreiro onde foi encontrada uma grande cobra cascavel, entre os rios Moji-Guaçu e seu afluente Jaguari-Mirim, no município de São João da Boa Vista.
O local se tornou a Estação Cascavel da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que instalou no local em janeiro de 1887. A estação e a passagem do trem motivaram o interesse de várias famílias a fixar residência e casas de comércio ao redor, considerando suas perspectivas de desenvolvimento.
No Paraná, em 1944, as autoridades refletiram que não seria possível manter o nome da Cascavel paranaense porque a cidade cearense era mais antiga. Foi por isso que em 1945 a Cascavel paulista recebeu o nome definitivo de Aguaí.
A vila da Cascavel paranaense começou a se formar na chamada Encruzilhada dos Gomes, cujos arredores foram arrendados em 1923 pelo comerciante e criador José Silvério de Oliveira junto ao proprietário da área, Antônio José Elias, o Antônio Diogo.
A família de Elias residia desde 1922 no antigo Cascavel Velho, um pouso ervateiro desativado pela Companhia Barthe. A família desmentiu a falsa história de que a cidade de Cascavel já existia em 1924, durante a Revolução Paulista.
Quando foi criado o Território Federal do Iguaçu, em 1943, as autoridades territoriais tentaram mudar o nome da vila para “Guairacá”, mas o deputado federal Bento Munhoz da Rocha Neto conseguiu na Assembleia Nacional Constituinte de 1946 a reversão da área para o Estado do Paraná, impondo a volta dos nomes anteriores à criação do TFI.
Com isso, a cidade de Iguaçu, capital do Território, voltou a ser Laranjeiras do Sul, e a sede distrital renomeada para Guairacá manteve a denominação “Cascavel”.
Quando o Território do Iguaçu trocou o nome de Cascavel para “Guairacá”, em 1944, havia certeza de que a mudança era definitiva, porque até a Cascavel paulista, mais jovem que a nordestina, teve que mudar o nome para Aguaí ao virar Município, nesse mesmo ano.
A Cascavel paranaense só se manteve por conta da decisão maior da Constituição de 1946, determinando que as denominações dadas pelos chefes do Território do Iguaçu do Paraná no Iguaçu fossem anuladas, retornando toda a região à situação anterior a 1943, com os nomes originais de volta.
De outra forma não seria possível à Cascavel paranaense manter seu nome frente à cidade mais antiga do Ceará.
As autoridades do Iguaçu também alteraram o nome da Avenida Brasil de Cascavel para “Avenida Frederico Trotta”, nome do segundo governador do TFI, mas com sua extinção por força constitucional a principal via pública de Cascavel retomou o nome de Avenida Brasil, reafirmado em 1953 na lei municipal que definiu a nomenclatura das ruas centrais da cidade.
Sendo a Cascavel cearense a mais antiga, em 1944 a Cascavel paulista perdeu o nome histórico, passando a se chamar Aguaí (guiso da cobra cascavel), mas em 1946, pela Constituição, a Cascavel do Paraná recuperou seu nome e o teve assegurado, ganhando assim uma batalha antes considerada impossível de vencer.
Em Cascavel, a população se dividiu em relação ao retorno ao nome antigo. Parte da população considerou melhor manter a denominação tradicional, proveniente do nome do rio, mas os religiosos preferiam retomar o nome de “Aparecida dos Portos”, dado pelo monsenhor Guilherme na primeira missa rezada na vila, em 1931.
A história da batalha entre os defensores do nome Cascavel e da mudança para Aparecida dos Portos é contada no livro “Cascavel: uma Santa na Encruzilhada” (https://x.gd/62rMf).
Na consulta em praça pública, na Grécia antiga chamada de “ágora”, o governador Bento Munhoz assistiu a uma renhida disputa verbal entre os tradicionalistas da cidade e os religiosos.
Convocada pelo bancário Rubens Nascimento, presidente do Lions Clube de Cascavel, “a chamada fina flor da sociedade local estava representada ali” (Histórias Venenosas, https://x.gd/lARAQ). “O que fosse discutido seria um modo de balizar o pensamento geral”, escreveu Nascimento.
“Mas mal terminei de falar começou um ouriçamento total, como nunca vira em minha vida, mormente em uma reunião de Lions Clube. Quem não se levantou, levantou pelo menos um braço, todos falando ao mesmo tempo ou indicando que queriam falar. Para acalmar a reunião, tive que usar com vigor o símbolo da autoridade leonística, que é o sino”.
Depois de serenar os ânimos, Rubens Nascimento seguiu uma praxe habitual em seu clube de serviço: passar a palavra ao Leão mais idoso, que nesse encontro era Dimas Pires Bastos, titular do Cartório do Registro de Imóveis, vereador e presidente da Câmara Municipal.
“Homem um tanto sisudo, que raramente usava da palavra, Pires falou curto e grosso: – Realmente, começou ele, Cascavel é o nome de uma cobra repelente. Mas, por outro lado, impõe respeito. E graças à coragem e à pujança de seu povo a cidade está sendo conhecida não só no Paraná, mas no Brasil inteiro. Quanto a atribuírem a Cascavel muitas histórias de violência, casos que aconteceram e acontecem fora dos nossos limites, deixem que falem. Pois certo está o ditado – falem mal, mas falem de mim”.
“E mais ele não precisou falar. As palmas que se seguiram indicavam que ele interpretara exatamente o pensamento de todos. E como ninguém ousou falar mais a respeito, ficou praticamente assentada uma pá de cal sobre o assunto. E assim, para o bem geral, Cascavel continuou sendo Cascavel, com muito orgulho”.
Por influência do major Oscar Pereira, em 3 de julho de 1980 a lei municipal 1.505/80, sancionada pelo prefeito Jacy Miguel Scanagatta, declarou coirmã de Cascavel (PR) a cidade do mesmo nome no Estado do Ceará.
Deixando Guarapuava, a coluna legalista seguiu para Colônia Mallet, hoje Laranjeiras do Sul, onde o comandante Dilermando Cândido de Assis decidiu marchar na direção de Santa Helena.
Até Laranjeiras havia mapas e roteiros indicativos, mas as notícias telegráficas vindas de Foz do Iguaçu indicavam dificuldades para cumprir a estratégia de alcançar a fronteira e prender os chefes rebeldes, dando fim à revolução.
Até chegar a Mallet, a intenção de Dilermando era alcançar Catanduvas e daí seguir até Foz do Iguaçu, segundo o plano inicial.
Informado de que os revolucionários estavam na iminência de chegar ao Noroeste do Paraná, Dilermando decidiu sair da rodovia estratégica e penetrar pelo desconhecido sertão paranaense.
Optou por se deslocar a Santa Helena depois de receber um telegrama do prefeito de Foz do Iguaçu, Jorge Schimmelpfeng, que o deixou muito preocupado.
Avisava que a Picada Benjamin estava intransitável para automóveis depois das últimas chuvas: “Como conhecedor terreno permito-me liberdade opinar que caminho Santa Helena além estar melhor estado encurtaria viagem”.
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