O ano de 1954 foi excelente para o Oeste do Paraná, mas se revelou um dos mais infelizes para a nação. Os presidentes do Brasil, Getúlio Vargas, e da Argentina, Juan Perón, depois de entendimentos secretos em torno do projeto ABC (integração entre Argentina, Brasil e Chile), ficaram sob forte ataque dos interesses dos EUA entranhados no Brasil.
Em abril já estava em movimento a articulação para derrubar o presidente brasileiro. Ironicamente, o plano ABC, velha ideia do Visconde do Rio Branco (1819–1880), depois daria origem ao Mercosul.
Mas, na época, em plena Guerra Fria, os acordos entre os três países foram considerados pelos adversários de Vargas como sua rendição ao nacionalismo peronista, depois de ter seu próprio nacionalismo caudilhesco vencido em 1946.
A tensão política no Brasil começava época a escalada que já antevia uma tragédia, mas no Oeste do Paraná os ventos eram progressistas, como, a partir de abril, uma bem-sucedida experiência de colonização em Nova Santa Rosa.
Dentre os pioneiros do lugar estavam Reimbold Schuwig, que viria a ser subprefeito no futuro distrito; o madeireiro Roberto Waldow, o ferreiro Erwin Eitel, o carpinteiro Arnold Ropke e Theofil Libert, o dono do moinho, além dos primeiros professores, Armindo Schwingel e Asilda Ropke.
Eram colonos provenientes sobretudo da cidade gaúcha de Santa Rosa, origem da denominação do novo povoado.
“Além de nacionalizar as fronteiras, existia o interesse político. Na época – para Getúlio Vargas – ampliar a sua base eleitoral através da migração de indivíduos vindos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina para o Paraná simbolizava um passo estratégico” (História de Nova Santa Rosa).
A atração prioritária de colonos sulinos para a região não era exatamente o que interessava ao governador paranaense, Bento Munhoz da Rocha Neto, que privilegiava os paulistas.
Seu antecessor e principal adversário, Moysés Lupion, havia criado em outubro de 1947 o Departamento do Oeste para compensar os prejuízos causados ao Paraná pela implantação do frustrado Território Federal do Iguaçu. O DO favoreceu a atração de colonos do Sul
Diante do cenário nacional de forte antagonismo ao presidente Getúlio Vargas, insuflado pelos EUA, que tinha a união dos países do Cone Sul como desafio à doutrina panamericana, Bento Munhoz optou por desfazer o excelente arranjo lupionista do Departamento do Oeste, criando em 6 de maio de 1954 em seu lugar o Departamento de Fronteiras, diretamente subordinado ao governador.
A habitual prática de desfazer as soluções dos governadores anteriores será vingada pelo próprio Lupion quando retornar ao poder estadual, em 1956. Maior ainda será o castigo futuro de Munhoz: um projeto modelo com seu nome – Cidade Munhoz da Rocha – acabou alterado para o nome de seu ex-cunhado e desafeto Ney Braga (Braganey).
A cidade, planejada para ser o principal polo regional oestino, acabou desmantelada e seus equipamentos urbanos mais importantes retirados pelo prefeito José Neves Formighieri, de Cascavel (https://x.gd/BBfou).
O café foi introduzido no Paraná como um substituto mais viável economicamente que a erva mate, a partir de 1880, quando agricultores paulistas começaram seu plantio no Norte do Estado com sucesso.
O bom desempenho se devia a um elemento fundamental: o avermelhado solo do terceiro planalto paranaense é muito fértil e dotado de vários minerais importantes. O apelido de “terra roxa” vem da palavra italiana rossa (vermelha).
Em 1920 o Estado possuía, contadas, 1.215 posses cafeeiras e já na época da Revolução Paulista, em 1924, despontavam as primeiras plantações no Oeste do Paraná:
“Entre [Central] Santa Cruz e Porto 1, morou por muitos anos naquelas imensidões um paulista de nome Joaquim Guilherindo de Carvalho. Foi o primeiro a plantar alguns pés de café para seu uso pessoal” (Sandálio dos Santos, Memórias).
A fama do Paraná como grande produtor de café começou no ano seguinte, quando a rubiácea passou a ser plantada em grande escala, motivando a abertura da Estrada de Ferro São Paulo-Paraná.
Depois de forte estímulo pelo primeiro governo Lupion (1947/51), no governo Munhoz os colonos que chegavam em grande número à região eram aconselhados a fazer a diversificação.
No entanto, na onda do Ouro Verde, muitos decidiram se dedicar só ao café, atendendo ao eixo da propaganda colonial – terras esplêndidas para cafezais. Mas já chegaram ouvindo dos colonos mais antigos que a produção não passava da primeira geada.
O imigrante ucraniano Alexandra Kachuba fazia transportes com sua carroça quando foi abordado por uma senhora cujo marido foi assassinado.
Sem saber o que fazer com a terra, ela propôs a Kachuba cuidar da sua lavoura de café na região de Nova Aurora, então interior do Município de Cascavel
Kachuba trabalhou ali durante seis anos, até acontecer a grande decepção: 2,5 mil pés de café torrados pela geada.
O governo Munhoz procurou afirmar a diversificação de culturas, mas Lupion ao retornar ao governo retomou o foco central nos cafezais. Em sua edição de 6 de junho de 1954, o jornal Correio d’Oeste, de Cascavel, favorável a Lupion, noticiava que já havia 15 milhões de cafeeiros na região do Piquiri.
Enfrentando a eventualidade das geadas, muitos cafeicultores tentaram o milagre de fazer o Oeste do Paraná se destacar na produção cafeeira.
Os esforços apresentaram resultados efetivos, a ponto de fazer da rubiácea um ciclo intermediário entre a fase inicial e a explosão do ciclo madeireiro.
Depois disso as geadas asfixiaram a cultura, de fato, mas o café trouxe avanços estruturais importantes: desbravamento de novas fronteiras agrícolas, melhores estradas, construção de pontes e avanços na extensão rural. Antes do café, as atuais e populosas cidades da região eram pequenas vilas
Foi devido ao café que surgiu o Banco Agrícola Vale do Rio Piquiri (Banquiri), dirigido por Alceu Barroso e Alceu Barroso Filho, sob a presidência de Djalma Rocha Al Chueyr.
O café não deu apenas o primeiro Banco de Cascavel, mas também provocou a implantação de uma unidade da Companhia Paranaense de Silos e Armazéns (Copasa), mais tarde colocada à disposição das crescentes safras de cereais.
Embora fosse uma excelente fonte de renda, sua transformação em monocultura era temida pelo líder toledano Willy Barth. No entender do colonizador da Maripá, isto seria uma tragédia para o modelo policultural e diversificado que sua empresa projetava como a alternativa mais sábia para a região.
Apesar de todos os alertas feitos por Barth em sua cruzada contra a monocultura, também a região de Marechal Cândido Rondon se deixou contaminar pela febre cafeeira.
“Contudo, a plantação de café não trouxe resultados positivos devido a fatores climáticos, pois o fenômeno de geadas, embora esparsas e de baixa incidência, prejudicava os produtores, que abandonaram esta cultura, depois de duas colheitas” (Projeto Memória de Marechal Cândido Rondon).
É emblemático dessa época o exemplo do pioneiro Abel Nono Paludo, que, no embalo geral da propaganda, chegou a Toledo com a intenção de plantar café empolgado com a qualidade do solo paranaense.
“Cheguei a plantar pouco mais que um alqueire. Na primeira safra o café estava bonito, colhi 550 sacas, só que neste ano o produto não valia nada, o preço era muito baixo. Logo depois veio a geada e praticamente acabou com a plantação. Aí resolvi tirar tudo fora e plantar milho e mandioca”.
Foi a virada. O nome de Paludo veio a ser sugerido pelo deputado José Carlos Schiavinato para o viaduto da BR-163 que dá acesso ao distrito de Vila Ipiranga (Toledo).
Integrado ao esforço geral para cercar os revolucionários, o governador Caetano Munhoz em 1º de agosto de 1924 determinou que um contingente formado por oito oficiais e 150 praças seguisse para o Norte do Paraná.
Comandado pelo capitão José de Souza Miranda, o contingente pretendia “cobrir o Município de Jacarezinho, evitando que os sediciosos, na sua retirada ao longo da fronteira paulista, fizessem incursões na região paranaense limítrofe” (Governador Caetano Munhoz da Rocha, mensagem à Assembleia Legislativa).
Em Guarapuava, o comandante Dilermando de Assis decidiu partir para Catanduvas contra a vontade dos comandados: “Entraríamos, então, no trecho mais inóspito e aspérrimo do sertão. Tínhamos de transpor quinze serras!... O próprio guia (Antônio Natel de Camargo), experimentadíssimo e arrojado, conhecedor dos tormentos que tal travessia, mesmo de dia, implicava, desaconselhava a investida”.
Depois de passar pela vila de Catanduvas, o Regimento partiu na manhã de 2 de agosto rumo ao “trecho denominado Cascavel” (a vila ainda não existia) já com a informação de que os rebeldes se aproximavam dos portos do Rio Paraná.
Nesse trecho encontraram as maiores dificuldades. “Foram percorridos 30 quilômetros em uma estrada de carroça que estava em lastimável estado. De todas as etapas percorridas foi esta a que maiores dispêndios de energias e boa vontade exigiu. A estrada mais se assemelhava a uma picada; em muitos trechos a passagem pelo leito da estrada era impossível” (Primeiro-tenente Dagoberto Dulcídio Pereira).
Não havia vilas nem cidades entre o depósito ervateiro Central Barthe (atual Santa Tereza), Foz do Iguaçu e Guaíra.
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