A ruína do presidente Getúlio Vargas já estava encomendada pelos EUA desde que o governo rechaçou as pressões do cartel do petróleo exigindo que os recursos naturais do Brasil ficassem acessíveis exclusivamente a empresas norte-americanas.
Ao mesmo tempo, a porção nacionalista, então dominante no Exército, desafiava o Pentágono, não permitindo o envio de soldados brasileiros para a Guerra da Coreia.
O revide não demora: a grande imprensa faz acusações sistemáticas contra Vargas e seus assessores, escolhidos por parentesco ou compadrio e não por requisitos técnicos. Vêm deles o começo da ruína: em 5 de agosto, Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente, comandou um atentado contra a vida do jornalista Carlos Lacerda.
O alvejado ficou levemente ferido, mas um dos disparos matou o major Rubens Vaz, da FAB. Em 13 de agosto foi preso o pistoleiro contratado para matar Lacerda: Alcino João do Nascimento, que confessou ter agido por ordem de Benjamin Vargas, irmão do presidente.
Dezenove generais do Exército exigiram então a renúncia de Vargas, que em 23 de agosto se reúne com seus ministros para analisar a crise política. Sugerem que o presidente se licencie enquanto durarem as investigações, mas os militares não aceitam o acordo.
Vargas responde que só sai morto do governo. No dia 24, após exaustiva reunião ministerial, o presidente se retira aos aposentos, no Palácio do Catete. Ao amanhecer, seu cadáver é encontrado ao lado de um velho revólver Colt 32 e uma carta endereçada à Nação, denunciando pressões internas e externas.
O clima de comoção nacional que se seguiu ao suicídio do presidente Getúlio Vargas foi imenso em todo o país e sobretudo em Cascavel, Município governado pelo PTB getulista.
Desde agosto de 1953 a então única praça de Cascavel já levava o nome do presidente Vargas. Ninguém se atreveu a pedir a mudança de nome, antes ou depois de sua morte.
Ao contrário, a Prefeitura e os líderes da comunidade remodelaram a praça e projetaram seu monumento. Não podendo ser designado como homenagem a Vargas, foi intitulado como o Marco Zero da cidade.
Por todo o país foram meses de caos, lágrimas e revolta contra a oposição política a Vargas. No Rio de Janeiro, a embaixada dos EUA e as sedes dos jornais oposicionistas são depredadas por populares.
As pessoas choram nas ruas. O luto se estende por todo o território nacional. Com o suicídio de Vargas, assume a Presidência o potiguar João Café Filho (1899–1970), que não conseguiu pacificar o país.
Naquele mesmo dia 24 de agosto, longe dos centros em polvorosa, o topógrafo catarinense Vilder Bordin conduzia à terra prometida um exército de 200 homens que dariam origem à cidade de Ubiratã.
A serviço da colonizadora Sinop (Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná), eles começaram a abrir a mata na Gleba Rio Verde a partir da atual Avenida Nilza de Oliveira Pipino.
“A Gleba Rio Verde era uma exuberante mata em que se distribuíam generosamente as madeiras duras que dariam origem ao topônimo Ubiratã, entremeados a grandes palmitais, urtigões, figueiras brancas, jangadas, jaborandis pintados e outras que seriam derrubadas para dar lugar à agricultura de café, soja, trigo e outras vertentes do agronegócio” (Ubiratã, História e Memória, https://x.gd/Ueihf).
Adquirida em 1954 pela Sinop junto ao governo do Paraná, a Gleba Rio Verde foi registrada em escritura pública de compra e venda, mas mesmo sendo aquisição legal e legítima a empresa enfrentou dissabores devido a ocupações anteriores em algumas áreas, promovidas por posseiros.
Vilder Bordin não escondeu que para se impor a Sinop recorreu aos “homens-segurança”, os chamados jagunços. Eles interceptavam os veículos e transeuntes que tentavam entrar no local. Teriam que se identificar e dizer de onde vinham, para onde iam, fazer o quê, o local exato de suas visitas e declarar o dia exato do regresso. “Se não voltassem no dia previsto, os jagunços iam atrás”.
Supõe-se que vários posseiros eram descendentes de soldados governistas ou revolucionários que em 1925 se desgarraram de suas tropas e ficaram escondidos no mato aguardando o fim das hostilidades.
Sem preocupação em legalizar as propriedades, os posseiros com longa ocupação repentinamente foram abordados pelos jagunços da Sinop. Rejeitaram os acordos propostos e reagiram energicamente, protagonizando um dos tensos episódios da colonização oestina.
A estrada Olinda era um divisor das terras devolutas do Estado com as adquiridas pela Sinop, contou Vilder Bordin. Saía dos “Três Olhos” até o Porto 1, onde existia o “Cemitério Velho do Paraguai”, onde os mensus, trabalhadores da erva-mate, eram enterrados.
Nessa estrada houve um incidente dramático. Cerca de 50 posseiros tentaram impedir o avanço da equipe de Engenharia da Sinop, depois de ameaçá-los com inscrições deixadas no caminho. Bordin anotou “O primeiro que chegar morre”, com letras feitas de cartuchos de armas de fogo.
“Também fizeram uso de cruzes de madeira ao longo da picada, fazendo-se necessária a intervenção do pessoal da Sinop [jagunços] que protegia a equipe topográfica no seu trabalho de divisão da área da empresa”.
Os posseiros que já estavam na gleba e fizeram acerto com a Sinop, concordando em reduzir sua área, ficando só com a parte legalizada, permaneciam sem mais dissabores. Os outros eram “convidados” pelos jagunços a se retirar.
Havendo três mil alqueires de terras devolutas, pertencentes ao Estado, os posseiros requererem a área junto ao INTC (Instituto Nacional de Terras e Cartografia). Hoje, essa região é conhecida como Luz Marina.
Os diretores da Sinop, Ênio Pipino e João Pedro Moreira de Carvalho, sobrevoaram a região do Vale do Piquiri durante 30 dias para montar com os técnicos um levantamento aerofotogramétrico da área no interesse de definir em que ponto seria construída a cidade.
Um exame das águas mostrou que havia nesse espigão maior córregos partindo nas direções Norte, Sul, Leste, Oeste, Noroeste e Sudoeste. Aquele ponto mais alto do divisor de águas acabava de ser escolhido para sediar a futura cidade.
Ela iria se localizar na Latitude Sul 24°C, Longitude Oeste 52°C. região Sul do Brasil, no bloco C-5 do terceiro planalto paranaense. Pela classificação geofísica regional, o chamado Planalto de Campo Mourão.
Por isso, o primeiro nome dado ao lugar foi Sauju, que significaria Alto do Espigão no idioma tupi-guarani, devido ao fato de a localidade estar no ponto mais alto do contraforte da Serra do Piquiri.
Um nome cogitado para o lugar foi “Formosa do Oeste”, para diferençar da histórica cidade de Formosa, em Goiás. Naquele momento esse belo nome foi descartado em favor de outro termo de origem indígena para designar a comunidade: Ubiratã.
De origem tupi (übü'ra á'tã), ubiratã significaria “madeira dura”, destacando a presença na região de perobas, figueiras e outras de grande porte e consistência.
Mas o projeto de Pipino e Carvalho ia além. Além de Ubiratã eles fundaram várias outras cidades, como Terra Rica, Iporã, Jesuítas e até recuperaram o nome Formosa do Oeste para uma promissora comunidade que até 1961 fez parte do Município de Cascavel.
As primeiras famílias convencidas a seguir para as áreas de colonização da Sinop enfrentaram um acúmulo de problemas nos anos iniciais de trabalho na área. Primeiramente ocorreu uma grande seca em 1954, e tudo o que plantaram não chegou a produzir.
Foram socorridos pela generosidade das matas ao redor, que lhes forneciam caça abundante. Completavam o abastecimento em Juranda, comunidade criada pela Colonizadora Szaferman, e Campina da Lagoa, no interior de Goioerê.
Depois da seca, no inverno seguinte sobreveio uma geada arrasadora, que matou toda a plantação e devolveu a caça às mesas dos colonos. O estudo prático do clima levou os colonos, sobretudo os de origem nipônica, a fazer de Ubiratã um laboratório de experiências agrícolas.
Os pioneiros do Médio-Oeste enfrentavam as feras mais agressivas e temiam as ardidas picadas das nuvens de mosquitos. As feras viravam caça e comida, mas os mosquitos traziam doenças.
A força revolucionária dividiu-se em 30 de agosto para enfrentar os governistas na região de Guaíra. Um destacamento continuaria via fluvial, outros seguiriam por terra, para surpreender os elementos legalistas entrincheirados nas duas margens do Rio Paraná.
Vencendo a resistência dos governistas do Regimento Provisório, ocuparam os portos paulistas onde as forças do capitão Dilermando haviam estabelecido posições defensivas: São João (em 30 de agosto) e São José (31).
Com isto, apreensivo no seu rancho de sapê no Cascavel Velho, o patriarca Antônio José Elias não contava: os revolucionários bateram as forças legalistas e dominaram a Companhia Mate Laranjeira.
As primeiras notícias do revés das forças de segurança paranaenses estancaram todos os movimentos de colonização no Oeste de um só golpe.
As ações de sucesso dos rebeldes tiveram como contraponto as derrotas dos movimentos de apoio em outros pontos do país. O mais sólido movimento rebelde correlato, na Amazônia, caiu sob a pressão do governo em fins de agosto.
Já no Paraná, o chefe rebelde João Francisco estava às voltas com três problemas a resolver: o abatimento da tropa, depois dos fortes enfrentamentos com o Regimento Provisório, a necessidade de tomar Foz do Iguaçu e a urgência de lançar posições no Médio-Oeste.
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