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A dança dos cunhados

O criador de Cascavel, Toledo e Guaíra cresceu no cenário nacional, mas perdeu prestígio no interior por não cumprir promessas   

Por: Time de redação Fonte: Alceu Sperança
10/11/2024 às 09h58
A dança dos cunhados
Em 1952, Bento Munhoz nomeia Ney Braga chefe de Polícia. Abaixo, o líder toledano Willy Barth saúda Nelson Maculan

A eleição do vice-prefeito Eduardo Pimentel para a Prefeitura de Curitiba representa a continuidade das velhas oligarquias paranaenses no poder, como já havia sido com o prefeito Rafael Greca de Macedo em 1992, 2016 e 2020. 

Pimentel é herdeiro da oligarquia Pimentel-Lunardelli, que teve como expressão maior o ex-governador Paulo Pimentel, avô de Eduardo. Greca vem de uma das mais antigas oligarquias, iniciada com Diogo Pinto de Azevedo Portugal (https://x.gd/oAKmH). 

Em seu tempo, o governador Bento Munhoz da Rocha Neto era o herdeiro da oligarquia formada por Affonso Alves de Camargo e Caetano Munhoz da Rocha. Quando Bento iniciou sua projeção nacional, em 1954, deixou como herdeiro político o cunhado Ney Braga. 

Ney era casado com Maria José Munhoz da Rocha, filha de Caetano e irmã de Bento. Filho de um padeiro da Lapa, Ney começou sua carreira ao se associar à família Munhoz, historicamente ligada a conquistas administrativas importantes. 

Caetano Munhoz foi um gestor competente e o filho Bento se projetou na cena brasileira com iniciativas que impulsionavam francamente a economia estadual.

Em 1954, por exemplo, surgia a Copel (Companhia Paranaense de Energia Elétrica), culminando lei estadual do ano anterior que criou a Taxa de Eletrificação, destinando recursos à expansão do plano energético do Estado. 

Da polícia à Prefeitura 

A Copel tinha a missão de assumir gradativamente a responsabilidade pelos serviços de fornecimento de energia elétrica, até então a cargo do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), prefeituras e concessionárias particulares.  

O DAEE ainda permaneceu em atividade, em paralelo ao desenvolvimento da Copel, participando da construção das usinas de Ocoí (Foz do Iguaçu), Cavernoso (Laranjeiras do Sul) e Melissa (Cascavel). 

Na trilha do sucesso administrativo de Bento, o cunhado Ney Braga deixou em 1954 a função de Chefe de Polícia (equivalente a secretário de Estado da Segurança Pública), que exercia desde 1952, nomeado por Bento, para disputar a sucessão de Ernani Santiago na Prefeitura de Curitiba. 

Ney Braga teve como adversário o ex-prefeito Wallace Thadeu de Mello e Silva, pai de um adolescente que será no futuro deputado estadual, senador e igualmente prefeito de Curitiba, além de governador – Roberto Requião. 

A projeção de Bento como excelente administrador o levou a ser chamado pelo presidente Café Filho para assumir o Ministério da Agricultura.

Seria o primeiro passo do dirigente araucariano para se tornar uma liderança nacional, abrindo campo à ascensão de Ney Braga no Estado.

O projeto nacional de Bento acabará sucumbindo aos dramáticos acontecimentos da época: a tentativa de golpe para depor o presidente Getúlio Vargas, seu suicídio em agosto de 1954 e a frustrada transição do presidencialismo para o parlamentarismo.

Cascavel, a nova “capital do Oeste” 

Esses fatos dos cenários nacional e estadual terão consequências decisivas para o Oeste do Paraná, a começar pelo desmantelamento da Cidade Munhoz da Rocha, que minguou por falta de recursos.

Sem Bento no governo, a planejada metrópole do Oeste se arruinou pelo desinteresse do adversário Moysés Lupion, que de volta ao governo do Estado em 1956 fechou as torneiras de recursos à cidade-modelo.

Em situação inversamente proporcional à do cunhado, Ney Braga iniciava uma trajetória brilhante como novo líder do Estado com todos os ventos soprando a favor.

A causa dos dissabores de Bento seria, ironicamente, a razão do fortalecimento de Braga: a vinculação de Ney com os líderes da Cruzada Democrática, militares conspiradores que falharam na tentativa de depor o governo em 1954, calados pelo suicídio de Vargas.

Dentre esses militares estavam os futuros presidentes Humberto de Alencar Castelo Branco e Ernesto Geisel e o artífice da conspiração, Golbery do Couto e Silva, o “Bruxo”. Dez anos depois eles seriam vencedores, derrubando o presidente João Goulart. 

A Cidade Munhoz da Rocha foi projetada para ser a capital do Oeste, mas seu desaparecimento não chegou a causar tristeza na região.

 Quando o projeto acabou, o prefeito de Cascavel, José Neves Formighieri, “invadiu” o lugar e trouxe máquinas, postes, fios de luz e tudo que conseguiu carregar para sua cidade, que a partir daí inicia uma rivalidade com Toledo para determinar em qual cidade ficará a maior força política.

União, a força inicial de Cascavel 

Toledo estava solidamente unida ao comando da colonizadora Maripá e em Cascavel havia um acordo entre a Prefeitura e a Câmara para atuar juntas, sem melindres político-eleitorais. 

Essa união de propósitos permitiu ao vereador Helberto Schwarz, que se elegeu pelo PTB, mas logo criou o PSD no Município, tornar-se o vereador com maior número de propostas aprovadas pela maioria da Câmara e sancionadas pelo prefeito José Neves Formighieri.

Algumas leis importantes desse período, negociadas entre a Prefeitura e a Câmara, foram o incentivo às indústrias que decidissem se fixar em Cascavel, a definição do quadro urbano em quatro zonas, facilidades para a aquisição de lotes no Patrimônio Novo e a construção de ponte sobre o Rio Cascavel. 

Toledo se manteve unida por longo tempo, mas em Cascavel, nas eleições municipais de 1956, o PSD e o PTB se confrontaram fortemente e a comunidade ficou dividida em dois grupos rivais, que sustentaram brigas intensas até culminar no incêndio da Prefeitura, em 1960.

Melhor prefeito do Brasil 

Para se fortalecer, Cascavel, que abriu fogo contra o governador Bento Munhoz por pretender esvaziar a cidade e lhe tirar a função de polo regional, apoiou-se inicialmente no governador Moysés Lupion, que tinha propriedades na cidade, e a partir de 1960 na estrela ascendente de Ney Braga.

Até a rua de Cascavel que tinha o nome de Bento Munhoz mudou de nome – virou Rua Pio XII. Os restos da antiga Cidade Munhoz da Rocha foram apagados pelo segundo governo Lupion e o entorno rural virou parte da futura Braganey, homenagem óbvia a Ney Braga.  

Na dança de poder entre os cunhados Bento e Ney, a queda do primeiro começou quando se viu obrigado a sair do Ministério da Agricultura, em 1958. Bento ainda teve prestígio suficiente para se reeleger à Câmara Federal, mas Ney Braga já se afirmava como nova liderança estadual.

Despontando como o melhor prefeito do Brasil, Ney obteve em 1957 o primeiro lugar no prêmio “Os dez municípios brasileiros de maior progresso”, concedido pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam). 

Por isso, mesmo orientado por Bento a concorrer ao cargo de deputado estadual nas eleições de 1958, Ney Braga enfrentou o cunhado e ex-chefe e também concorreu à Câmara Federal. Bento então rompe com Ney e o chama de traidor. Os dois se elegem, mas seus projetos de poder já não coincidiam mais. 

O confronto final

Dois anos depois do rompimento, em 1960, deu-se o embate final entre Ney Braga e Bento Munhoz, precipitado pela morte súbita do senador Souza Naves, o líder de maior prestígio no Estado. A campanha de Naves se desenhava como vitoriosa na disputa pelo governo estadual. Interrompida, o cenário se abriu.

Nelson Maculan, que assumiu o cargo de senador em lugar de Naves, foi lançado ao governo do Estado. Sem o prestígio do falecido, tinha pela frente um já embalado Ney Braga, apoiado por líderes religiosos, empresariais e ruralistas.

Na tentativa de derrotar o cunhado, Bento apoiou Maculan e tentou fortalecê-lo em outras regiões além do entorno de Londrina. A recepção de Braga em Cascavel foi excelente, absorvendo a dissidência do PSD, que havia rachado, mas Maculan só foi saudado com algum entusiasmo em Toledo.

Em eleição equilibrada, Braga venceu com 37,69% dos votos, contra 33,53% de Maculan e 28,78% de Plínio Costa, do PSD. 

Eleito, sabendo da perturbação causada no Oeste pelos atritos entre jagunços e posseiros, após o incêndio da Prefeitura de Cascavel, em dezembro de 1960, Ney prometeu enviar forças especiais para combater o crime na região e ajudou a Prefeitura a se recuperar.

A essa altura, Bento Munhoz, por não cumprir promessas feitas ao interior, como combater os jagunços e privilegiar os posseiros, já não era sequer lembrado como o governante que criou o Município de Cascavel. Até hoje não há sequer um beco periférico levando seu nome na cidade. 

100 anos da revolução: O manifesto de Prestes 

Há historiadores que datam o início da Coluna Prestes no fim de outubro de 1924, assinalado pelo manifesto à Nação assinado pelo capitão Luiz Carlos Prestes:

Hoje, 29 de Outubro, por ordem do General Isidoro Dias Lopes, levantam-se todas as tropas do Exército das guarnições de Santo Ângelo, São Luiz, São Borja, Itaqui, Uruguaiana, Sant'Anna, Alegrete, Don Pedrito, Jaguarão e Bagé, hoje irmanados pela mesma causa e pelos mesmos ideais levantam-se as forças revolucionárias gaúchas da Palmeira, de Nova Wutemberg, Ijuí, São Nicolau, São Luiz, São Borja, Santiago e de toda a fronteira até Pelotas e, hoje entram no nosso Estado os chefes revolucionários Honório Lemes e Zeca Netto, tudo de acordo com o grande plano já organizado.

E, desta mescla, desta comunhão do Exército e do Povo, com nacionais e estrangeiros, resultará a rápida terminação da luta armada no Brasil, para honra nossa e glória dos nossos ideais e de nossos foros de povo civilizado e altivo.

De acordo com o plano geral, as tropas de Santo Ângelo talvez pouco demorem aqui, mas durante este tempo a ordem, o respeito a propriedade e a família serão mantidos rigorosamente e para isso o governo revolucionário provisório conta com o auxílio da própria população.

Não queremos perturbar a vida da população, porque amamos e queremos a ordem com base do progresso. Podem pois estar todos calmos que nada acontecerá de anormal.

 Capitão Luiz Carlos Prestes

 

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Alceu Sperança
Alceu Sperança
Jornalista e escritor.
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