A eleição do vice-prefeito Eduardo Pimentel para a Prefeitura de Curitiba representa a continuidade das velhas oligarquias paranaenses no poder, como já havia sido com o prefeito Rafael Greca de Macedo em 1992, 2016 e 2020.
Pimentel é herdeiro da oligarquia Pimentel-Lunardelli, que teve como expressão maior o ex-governador Paulo Pimentel, avô de Eduardo. Greca vem de uma das mais antigas oligarquias, iniciada com Diogo Pinto de Azevedo Portugal (https://x.gd/oAKmH).
Em seu tempo, o governador Bento Munhoz da Rocha Neto era o herdeiro da oligarquia formada por Affonso Alves de Camargo e Caetano Munhoz da Rocha. Quando Bento iniciou sua projeção nacional, em 1954, deixou como herdeiro político o cunhado Ney Braga.
Ney era casado com Maria José Munhoz da Rocha, filha de Caetano e irmã de Bento. Filho de um padeiro da Lapa, Ney começou sua carreira ao se associar à família Munhoz, historicamente ligada a conquistas administrativas importantes.
Caetano Munhoz foi um gestor competente e o filho Bento se projetou na cena brasileira com iniciativas que impulsionavam francamente a economia estadual.
Em 1954, por exemplo, surgia a Copel (Companhia Paranaense de Energia Elétrica), culminando lei estadual do ano anterior que criou a Taxa de Eletrificação, destinando recursos à expansão do plano energético do Estado.
A Copel tinha a missão de assumir gradativamente a responsabilidade pelos serviços de fornecimento de energia elétrica, até então a cargo do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), prefeituras e concessionárias particulares.
O DAEE ainda permaneceu em atividade, em paralelo ao desenvolvimento da Copel, participando da construção das usinas de Ocoí (Foz do Iguaçu), Cavernoso (Laranjeiras do Sul) e Melissa (Cascavel).
Na trilha do sucesso administrativo de Bento, o cunhado Ney Braga deixou em 1954 a função de Chefe de Polícia (equivalente a secretário de Estado da Segurança Pública), que exercia desde 1952, nomeado por Bento, para disputar a sucessão de Ernani Santiago na Prefeitura de Curitiba.
Ney Braga teve como adversário o ex-prefeito Wallace Thadeu de Mello e Silva, pai de um adolescente que será no futuro deputado estadual, senador e igualmente prefeito de Curitiba, além de governador – Roberto Requião.
A projeção de Bento como excelente administrador o levou a ser chamado pelo presidente Café Filho para assumir o Ministério da Agricultura.
Seria o primeiro passo do dirigente araucariano para se tornar uma liderança nacional, abrindo campo à ascensão de Ney Braga no Estado.
O projeto nacional de Bento acabará sucumbindo aos dramáticos acontecimentos da época: a tentativa de golpe para depor o presidente Getúlio Vargas, seu suicídio em agosto de 1954 e a frustrada transição do presidencialismo para o parlamentarismo.
Esses fatos dos cenários nacional e estadual terão consequências decisivas para o Oeste do Paraná, a começar pelo desmantelamento da Cidade Munhoz da Rocha, que minguou por falta de recursos.
Sem Bento no governo, a planejada metrópole do Oeste se arruinou pelo desinteresse do adversário Moysés Lupion, que de volta ao governo do Estado em 1956 fechou as torneiras de recursos à cidade-modelo.
Em situação inversamente proporcional à do cunhado, Ney Braga iniciava uma trajetória brilhante como novo líder do Estado com todos os ventos soprando a favor.
A causa dos dissabores de Bento seria, ironicamente, a razão do fortalecimento de Braga: a vinculação de Ney com os líderes da Cruzada Democrática, militares conspiradores que falharam na tentativa de depor o governo em 1954, calados pelo suicídio de Vargas.
Dentre esses militares estavam os futuros presidentes Humberto de Alencar Castelo Branco e Ernesto Geisel e o artífice da conspiração, Golbery do Couto e Silva, o “Bruxo”. Dez anos depois eles seriam vencedores, derrubando o presidente João Goulart.
A Cidade Munhoz da Rocha foi projetada para ser a capital do Oeste, mas seu desaparecimento não chegou a causar tristeza na região.
Quando o projeto acabou, o prefeito de Cascavel, José Neves Formighieri, “invadiu” o lugar e trouxe máquinas, postes, fios de luz e tudo que conseguiu carregar para sua cidade, que a partir daí inicia uma rivalidade com Toledo para determinar em qual cidade ficará a maior força política.
Toledo estava solidamente unida ao comando da colonizadora Maripá e em Cascavel havia um acordo entre a Prefeitura e a Câmara para atuar juntas, sem melindres político-eleitorais.
Essa união de propósitos permitiu ao vereador Helberto Schwarz, que se elegeu pelo PTB, mas logo criou o PSD no Município, tornar-se o vereador com maior número de propostas aprovadas pela maioria da Câmara e sancionadas pelo prefeito José Neves Formighieri.
Algumas leis importantes desse período, negociadas entre a Prefeitura e a Câmara, foram o incentivo às indústrias que decidissem se fixar em Cascavel, a definição do quadro urbano em quatro zonas, facilidades para a aquisição de lotes no Patrimônio Novo e a construção de ponte sobre o Rio Cascavel.
Toledo se manteve unida por longo tempo, mas em Cascavel, nas eleições municipais de 1956, o PSD e o PTB se confrontaram fortemente e a comunidade ficou dividida em dois grupos rivais, que sustentaram brigas intensas até culminar no incêndio da Prefeitura, em 1960.
Para se fortalecer, Cascavel, que abriu fogo contra o governador Bento Munhoz por pretender esvaziar a cidade e lhe tirar a função de polo regional, apoiou-se inicialmente no governador Moysés Lupion, que tinha propriedades na cidade, e a partir de 1960 na estrela ascendente de Ney Braga.
Até a rua de Cascavel que tinha o nome de Bento Munhoz mudou de nome – virou Rua Pio XII. Os restos da antiga Cidade Munhoz da Rocha foram apagados pelo segundo governo Lupion e o entorno rural virou parte da futura Braganey, homenagem óbvia a Ney Braga.
Na dança de poder entre os cunhados Bento e Ney, a queda do primeiro começou quando se viu obrigado a sair do Ministério da Agricultura, em 1958. Bento ainda teve prestígio suficiente para se reeleger à Câmara Federal, mas Ney Braga já se afirmava como nova liderança estadual.
Despontando como o melhor prefeito do Brasil, Ney obteve em 1957 o primeiro lugar no prêmio “Os dez municípios brasileiros de maior progresso”, concedido pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam).
Por isso, mesmo orientado por Bento a concorrer ao cargo de deputado estadual nas eleições de 1958, Ney Braga enfrentou o cunhado e ex-chefe e também concorreu à Câmara Federal. Bento então rompe com Ney e o chama de traidor. Os dois se elegem, mas seus projetos de poder já não coincidiam mais.
Dois anos depois do rompimento, em 1960, deu-se o embate final entre Ney Braga e Bento Munhoz, precipitado pela morte súbita do senador Souza Naves, o líder de maior prestígio no Estado. A campanha de Naves se desenhava como vitoriosa na disputa pelo governo estadual. Interrompida, o cenário se abriu.
Nelson Maculan, que assumiu o cargo de senador em lugar de Naves, foi lançado ao governo do Estado. Sem o prestígio do falecido, tinha pela frente um já embalado Ney Braga, apoiado por líderes religiosos, empresariais e ruralistas.
Na tentativa de derrotar o cunhado, Bento apoiou Maculan e tentou fortalecê-lo em outras regiões além do entorno de Londrina. A recepção de Braga em Cascavel foi excelente, absorvendo a dissidência do PSD, que havia rachado, mas Maculan só foi saudado com algum entusiasmo em Toledo.
Em eleição equilibrada, Braga venceu com 37,69% dos votos, contra 33,53% de Maculan e 28,78% de Plínio Costa, do PSD.
Eleito, sabendo da perturbação causada no Oeste pelos atritos entre jagunços e posseiros, após o incêndio da Prefeitura de Cascavel, em dezembro de 1960, Ney prometeu enviar forças especiais para combater o crime na região e ajudou a Prefeitura a se recuperar.
A essa altura, Bento Munhoz, por não cumprir promessas feitas ao interior, como combater os jagunços e privilegiar os posseiros, já não era sequer lembrado como o governante que criou o Município de Cascavel. Até hoje não há sequer um beco periférico levando seu nome na cidade.
Há historiadores que datam o início da Coluna Prestes no fim de outubro de 1924, assinalado pelo manifesto à Nação assinado pelo capitão Luiz Carlos Prestes:
Hoje, 29 de Outubro, por ordem do General Isidoro Dias Lopes, levantam-se todas as tropas do Exército das guarnições de Santo Ângelo, São Luiz, São Borja, Itaqui, Uruguaiana, Sant'Anna, Alegrete, Don Pedrito, Jaguarão e Bagé, hoje irmanados pela mesma causa e pelos mesmos ideais levantam-se as forças revolucionárias gaúchas da Palmeira, de Nova Wutemberg, Ijuí, São Nicolau, São Luiz, São Borja, Santiago e de toda a fronteira até Pelotas e, hoje entram no nosso Estado os chefes revolucionários Honório Lemes e Zeca Netto, tudo de acordo com o grande plano já organizado.
E, desta mescla, desta comunhão do Exército e do Povo, com nacionais e estrangeiros, resultará a rápida terminação da luta armada no Brasil, para honra nossa e glória dos nossos ideais e de nossos foros de povo civilizado e altivo.
De acordo com o plano geral, as tropas de Santo Ângelo talvez pouco demorem aqui, mas durante este tempo a ordem, o respeito a propriedade e a família serão mantidos rigorosamente e para isso o governo revolucionário provisório conta com o auxílio da própria população.
Não queremos perturbar a vida da população, porque amamos e queremos a ordem com base do progresso. Podem pois estar todos calmos que nada acontecerá de anormal.