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Tesouros: a loteria dos pioneiros

Achar um pote de ouro e pedras preciosas era como ganhar no jogo do tigrinho ou acertar a Megasena

Por: Alceu Sperança Fonte: Alceu Sperança
01/12/2024 às 09h57
Tesouros: a loteria dos pioneiros
Sem panelas com ouro, o tesouro que ficou dos jesuítas foi este dicionário do idioma Guarani deixado pelo padre Antonio Ruiz de Montoya 

Todo fim de ano a Mega da Virada motiva sonhos de fabulosa riqueza, mas no passado a promessa de acerto na loteria estava em localizar supostos tesouros deixados por padres e tropeiros (https://x.gd/HWsct).

Segundo velha lenda, os jesuítas, antes de fugir para o Sul, onde formariam suas famosas Missões, deixaram enterrados no Oeste paranaense fabulosos tesouros, moedas e pedras preciosas, em grandes panelas ou caldeirões.

No livro “Na Trilha dos Pioneiros” (Gráfica Elza, 1995), Sebastião Francisco da Silva narra uma dessas lendas, segundo a qual três jesuítas, perseguidos pelos bandeirantes teriam enterraram um tesouro na região de Itaipu:

“Já houve gente boa daqui que perdeu tudo em busca desse ouro, outros passaram noites cavoucando igual tatu e danificando propriedade alheia atrás disso. Principalmente, quando cai uma sexta-feira dia 13, não estranhe se amanhecer com o quintal de sua casa todo esburacado”.

Acharam e foram embora

Famílias que abandonaram a região no êxodo causado pela mecanização no campo e pelo desespero da Década Perdida (anos 1980) teriam achado tesouros ao destocar propriedades, mas nada mais se sabe a respeito além de uma base de canhão descoberta em Ubiratã. 

A advogada Maria Antonia de Castilho, em crônica antológica, abordou memórias sobre tesouros baseadas na ideia de que o descobridor de riquezas desaparece de repente do lugar e vai usufruir a fortuna longe dali.

No final da década de 1960, contou ela, havia na Rua Carlos Gomes, próximo ao viaduto da BR-277 (sentido centro), um enorme e belo pinheiro.

 “Estava lá, imponente. A rua humildemente o desviava. Bem em frente, morava um pobre carpinteiro, rodeado de generosa prole. O Ibama não existia e, se havia outro órgão controlador, não era atuante na região, só sei que referido homem e um ajudante derrubaram a bela araucária”.
Deu-se que depois de aproveitar a madeira o destruidor do pinheiro foi embora da região sem explicações. “Comentou-se por bom tempo, que ele havia achado um pote com valioso tesouro junto ao pé do pinheiro”.

Locais de tesouros guardados por fantasmas assustadores são os mais cobiçados. Dois cascavelenses, que Maria Antonia descreve como bravos homens, “sabedores de um lugar assim, resolveram ir encarar o fantasma e ficarem donos da fortuna”.

Decidiram comprar um aparelho para detectar metais, com o qual pretendiam tapear o fantasma e localizar rapidamente o tesouro. “Assim, munidos de um bom lanche e do aparelho, foram para a região de Catanduvas localizar um rio onde uma enorme pedra dividia o curso das águas e marcava o lugar do tesouro”.

Expulsos pelo fantasma do padre

Prossegue a narrativa de Maria Antonia:

Saíram bem cedo para fazer toda a operação durante o dia, pois sempre ouviram falar que fantasmas só aparecem à noite.

Lá chegando, estacionaram o carro e se embrenharam no mato, percorrendo a margem do rio a procura da tal pedra.

Caminha que caminha, começaram a perceber imenso silêncio, nenhum pio de passarinho, estranha sensação de estarem sozinhos no mundo.

Logo a mata foi ficando num tom verde amarelado, os raios de sol também eram dessa cor e rajadas de vento surgiram simplesmente do nada, como antecedendo violento temporal.

Um calafrio percorreu seus corpos e vacilantes prosseguiram.

Nisto, num agito de ramagens, visualizaram a tal pedra.

O coração disparou, os olhos quase saltaram das órbitas!

Quem estava em pé sobre a pedra guardando o tesouro? Um padre! Estava com os braços cruzados e os olhava com severidade!

Os dois caçadores de tesouro debandaram, tentando lembrar a direção onde estava o carro. – Cadê o aparelho compadre? – Não estava com você?

Tesouros macabros

De volta à cidade, os caçadores de tesouro esqueceram o assunto e agradeceram por conseguir voltar, mas na verdade nunca houve padres jesuítas na região de Catanduvas. 

A povoação começou a se formar com a extensão do telégrafo, a partir de 1889. Ponto intermediário nas linhas telegráficas entre Guarapuava e Foz do Iguaçu, o lugar era conhecido como Barro Preto.

Ali se instalaram inicialmente as famílias Lacerda, Krammer e Pureza. O impulso à formação do núcleo urbano, já com o nome de Catanduvas, deu-se em 1907, com a vinda da família Rodrigues da Cunha, ligada à família Pompeu (https://x.gd/Rahsk).

Nessa região, com a agricultura mecanizada, foram encontrados ossos de soldados rebeldes enterrados a esmo ao tombar nos embates com as forças do general Cândido Rondon, em 1925. Os mortos governistas eram enterrados em cemitérios específicos.

Reza a lenda do tesouro revolucionário que com a perseguição empreendida pelas numerosas forças governistas aos rebeldes vencidos em Catanduvas sua fuga ficou difícil pelo peso do material bélico já inútil. 

“Assim, parte do armamento – metralhadoras, fuzis, lanças, espadas e munição – foram ocultos em lugar apropriado, fora das visitas do inimigo.

Segundo a lenda, esse material foi sepultado em profunda caverna, sendo protegidas as armas que desde Catanduvas eram um peso morto” (Westmann, revista Mosaicos, 6).  

O cacique empreendedor

A caverna que seria o depósito do tesouro revolucionário, jamais localizada, ficaria no interior de Matelândia. Entre Cascavel e Santa Tereza havia um depósito de armas, munições e mantimentos estabelecido pelos soldados rebeldes, mas tudo foi incendiado em 1925, pondo fim ao lugar que poderia ter sido o início da cidade de Cascavel (Central Barthe).

Pelo menos uma próspera cidade surgiu graças ao fabuloso tesouro dos jesuítas: Campo Mourão (https://x.gd/NzpvL). A crença na existência do dito tesouro foi alimentada pela esperteza do cacique Índio Bandeira.

Sua taba de chefe de uma pequena tribo de indígenas Camés, na época chamados de Coroados, ficava entre os rios do Campo e o da Várzea.

Por ali passava uma estradinha primitiva, supõe-se que um ramal do caminho do Peabiru, que seguia por Corumbataí do Sul até Fênix e pelo vale do Ivai/Piquiri afora, segundo o historiador Wille Bathke Jr.

No trecho que cortava por frente o seu arranchamento o cacique enterrou dois grossos mourões de madeira de cerne da altura de uma pessoa, “um de cada lado do estreito trajeto e, dos viageiros que por ali passavam, cobrava pedágio em dinheiro ou espécie”.  

Da ilusão à concretização 

O local passou a ser ponto de referência e conhecido por Campo do Mourão. O nome da região se devia a Antônio José Botelho Mourão (1722–1798), o Morgado de Mateus, governador da Capitania de São Paulo que determinou a conquista dos campos inexplorados no interior do atual Paraná.

Bandeira, que chegou a ser levado para uma entrevista com o imperador Pedro II, tornou-se uma espécie de herói da região, um raro nativo catequizado que absorveu os estratagemas dos brancos e os usava para seus interesses.

Além de iniciar a cobrança de pedágio no interior paranaense, ao aplicar nos ambiciosos exploradores de origem europeia o “conto do tesouro dos jesuítas” passou à história como o desbravador dos Campos do Mourão, região entre as duas margens do Rio Piquiri e o Rio Paraná.

A partir das informações do Índio Bandeira, Mendes Cordeiro vai procurar o “Campo do Abarrancamento” ou “Campinas Vitorianas”, de que os nativos diziam maravilhas. Era o início da exploração do Vale do Piquiri.

Em breve, Mendes Cordeiro e seus sócios vão registrar ali a posse de 60 mil hectares como “Campos de Criar”, começando a desenhar no mapa a futura cidade de Campo Mourão. 

O tesouro achado

Em Missal, considerado território sagrado (a área pertencia à Cúria Diocesana do Paraná e por isso tem esse nome), a lenda corrente é que o tesouro antigo não pode ser revelado por ordem de “almas do outro mundo”. 

Quando alguém de fora pergunta aos missalenses sobre tesouros, eles logo mudam de assunto, pois quem revelar o segredo perderá a chance de receber o mapa e o tesouro. 

Lenda à parte, é um mistério que as terras de Missal tenham sido legalizadas em 1937, mas a colonização só começou de fato em 1964, pela Colonizadora Sipal. 

Uma das comunidades mais jovens do Oeste, as estatísticas apontam que ali foi de fato achado um tesouro: Missal é o 186º município do Paraná em população, mas está entre os 35 maiores em valor bruto da produção.  

Como no caso de Campo Mourão, não havia um tesouro jesuíta, mas terras consideradas entre as mais férteis do mundo, motivo da canção Terra Roxa (1962), de Teddy Vieira (https://x.gd/BRQy5).

100 anos da revolução: A artilharia das chuvas 

Em 28 de novembro a força legalista paranaense se punha em marcha na região do futuro Município de Quedas do Iguaçu, onde deveria permanecer por mais de uma semana vigiando o possível ataque dos revoltosos, enquanto alguns rebeldes aprisionados eram escoltados para Guarapuava.

“A vida no acampamento permanece normal por muitos dias, a não serem as dificuldades do abastecimento de gêneros alimentícios em consequência das prolongadas chuvas dos últimos dias, que impediam a passagem dos cargueiros nos riachos transbordantes e caminhos alagados” (Relato de Antônio Monteiro da Silva).

Em 30 de novembro os soldados legalistas estabeleceram próximo ao Rio Roncador um acampamento que iria perdurar até o fim das hostilidades.

Permaneciam no local entre cinco e sete mil homens. “Possuíam naquele local 65 canhões, e um pinheiro tinha no seu tronco a seguinte inscrição codificada: Posição da 4. Bateria 5. Regimento do Roncador, de 30/11/1924 a 10/05/1925” (João Olivir Camargo, Nerje).

Nessa mesma data, no Sul, o general Honório Lemes chegou a Uruguaiana, acompanhado de 550 cavaleiros gaúchos, agrupados em três corpos, em mais um lance preparatório para a futura Coluna Prestes.

Na revolução, casamata camuflada, a “caverna” de armas e munições

 

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Alceu Sperança
Alceu Sperança
Jornalista e escritor.
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