Um dos acontecimentos mais importantes para a história do Brasil se deu no Oeste paranaense em 1954. Em outubro desse ano o então governador mineiro Juscelino Kubitschek lançou ao público a intenção de concorrer à Presidência da República nas eleições do ano seguinte.
O anúncio foi feito depois de celebrar aliança em Foz do Iguaçu com o PTB, já sob a liderança de João Goulart, que havia sido ministro de Getúlio Vargas, morto em agosto desse mesmo ano.
É da aliança celebrada no Oeste paranaense entre os social-democratas de JK e os trabalhistas de Goulart que sai a chapa PSD-PTB para concorrer às eleições presidenciais de 1955.
Antes de celebrar essa aliança, que iria unir suas vidas para sempre, em meio a insistentes rumores de golpes que resultariam futuramente na deposição de Goulart em 1964, os dois tiveram vidas bem separadas.
Kubitschek nasceu em Diamantina (MG) em setembro de 1902. Médico da Polícia Militar de Minas Gerais desde 1931, sua atuação política tem início na Revolução Constitucionalista do ano seguinte, que tinha a intenção de derrubar Getúlio Vargas e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte.
Após a vitória de Vargas, o líder mineiro Benedito Valadares (1892–1973) assumiu em 1933 a função de interventor do Estado e chamou JK para ser seu chefe de gabinete, função na qual o médico se saiu muito bem, eleito à Câmara Federal em 1934.
Com o golpe do Estado Novo, desferido por Vargas em 1937, Juscelino perdeu o mandato, mas em 1940 foi nomeado prefeito de Belo Horizonte pelo amigo Valadares. Em 1945 volta a ser eleito deputado federal e em 1950 para o governo mineiro, tornando-se assim o grande líder nacional do PSD.
Nada, entretanto, ainda ligava JK ao PTB nem sinalizava que o Paraná se tornaria o berço da aliança vencedora entre o PSD e os trabalhistas.
Empossado governador em 31 de janeiro de 1951, JK teve uma gestão de sucesso, desempenho que o talhou para ser a opção do partido a preencher o vácuo de liderança nacional deixado pelo suicídio de Getúlio Vargas.
Essa posição de destaque o aproximou de Moysés Lupion, também do PSD, que deixou o governo do Paraná em janeiro de 1951. Lupion jamais retornaria ao poder estadual se não fosse “uma convocação pessoal do Juscelino Kubitschek de Oliveira, que disputava a Presidência da República”, como disse Lupion ao jornalista Aramis Millarch, em depoimento datado de 1990:
– Ele foi objetivo e não me deixou alternativa: “Preciso de você novamente no governo do Paraná”. Disciplinado, atendi o pedido do meu correligionário mineiro.
Mas a essa altura, se havia um herdeiro político de fato de Vargas era o gaúcho João Goulart, amplamente apoiado nas regiões Oeste e Sudoeste do Paraná pela tradição getulista encarnada pelos patriarcas Jeca Silvério e Manoel Ludgero Pompeu.
Nascido em 1919 na mesma São Borja de Getúlio Vargas, filho de estancieiros, a elite gaúcha, Jango, como era chamado, ligou-se à família Vargas por meio de seu pai, sócio de Protásio Vargas em um frigorífico.
Jango era ótimo jogador de futebol, mas péssimo estudante e só se formou em Direito pelo interesse do pai em ter um filho com diploma superior. Medíocre, com uma sífilis mal curada e envergonhado das sequelas da doença, tinha tudo para não ser o grande líder que viria a se tornar.
A virada na vida de Jango se deu em uma festa de Carnaval, onde perdeu a vergonha. Convidado a se filiar ao PSD de Juscelino, foi impedido pelo próprio Getúlio Vargas, que o levou ao PTB e ao mandato de deputado estadual em 1947.
Amigo e confidente de Vargas, fora da política nacional desde sua deposição, em 1945, Jango o lançou como candidato à Presidência da República pelo voto popular.
Eleito presidente em 1950, Vargas tardou a chamá-lo para administrar o espinhoso cargo de ministro do Trabalho, em um quadro de intensa luta entre a classe patronal e os aguerridos sindicatos laborais vinculados à esquerda comunista.
Jango não era estimado pelas elites curitibanas, mas sua ligação com Vargas o fazia ser bem recebido no Oeste, especialmente em Cascavel, sendo compadre do prefeito José Neves Formighieri.
As biografias de JK e de Jango os conduziram, assim, ao pacto selado em Foz do Iguaçu rumo às eleições de 1955, uma década depois dos dramáticos acontecimentos que levaram ao suicídio do presidente da República.
No Paraná, Moysés Lupion tentava se desvencilhar das críticas por não ter no primeiro governo cumprido os acordos políticos feitos com o amplo leque de forças políticas que o elegeu e sobretudo por trair o legado de Manoel Ribas, que estimulou os posseiros a ocupar terras no interior do Paraná.
No Rio de Janeiro, então o Distrito Federal, a candidatura de Juscelino a presidente e Jango a vice foi apresentada em fevereiro lastreada por uma coligação de seis partidos.
O adversário mais forte dos dois era Juarez Távora, que também conhecia bem o Paraná – foi um dos líderes da revolução de 1924.
Nas eleições de 3 de outubro de 1955, JK se elegeu com 35,6% dos votos, contra 30,2% de Távora. Jango obteve mais votos para vice-presidente que Juscelino para o cargo principal. Na época as eleições para presidente e vice eram simultâneas, mas não vinculadas, sistema em que a oposição poderia eleger um dos dois.
Os golpistas abriram uma campanha para impedir a posse, alegando que JK não havia obtido a maioria absoluta dos votos (no mínimo 50% mais um).
A oposição promoveu três tentativas de golpe de Estado em poucos meses, entre 1955 e o início de 1956, até que a situação ficou insustentável e contragolpe, desfechado pelo general Henrique Lott, veio garantir a posse de Juscelino.
Assumindo em 31 de janeiro de 1956, JK tratou de cumprir sua plataforma de fazer 50 anos em 5, período para o qual foi eleito. Nesses cinco anos, sempre abaixo da pressão das forças golpistas, JK construiu Brasília, projeto secular sempre prometido, mas jamais ousado por seus antecessores.
As obras de Brasília, que requeriam muito material de construção, enriqueceram os madeireiros oestinos. A cidade de Cascavel explodiu, logo dobrando sua população. Para Foz do Iguaçu, Juscelino só entregou o governo ao cabo dos cinco anos difíceis que enfrentou depois de lançar a pedra fundamental da Ponte Internacional Brasil-Paraguai.
O principal ataque sofrido por JK em seu governo foi que gastou muito nas obras. Elas serviam para a propaganda do governo, mas não para melhorar a eficiência do governo.
A gastança endividou o país, aumentou a inflação, deixou os ricos ainda mais ricos e reprimiu os ganhos dos trabalhadores, que só conseguiam reajustes compatíveis com a inflação promovendo greves ruidosas.
Durante os anos JK, Jango esteve muitas vezes no Oeste paranaense, visitando o compadre José Neves Formighieri e monitorando as queixas dos posseiros atacados tanto pelos grileiros de terras quanto pela polícia do Estado.
Nas eleições presidenciais de 1960, JK estava impedido de concorrer à reeleição, mas Jango, sem a proibição, foi reeleito vice-presidente. O novo presidente também era uma figura pública profundamente ligada ao Paraná: Jânio Quadros.
Quando ele tentou um autogolpe, renunciando ao cargo na tentativa de ser chamado a continuar na presidência como ditador, foi boicotado pelos militares, que não confiavam nele por ter condecorado Che Guevara, e Jango foi empossado.
Na presidência, entretanto, ao tentar cumprir as promessas feitas aos trabalhadores, Jango foi finalmente golpeado com sucesso, por um bloco civil-militar, em 1º de abril de 1964.
Amigo do general Castelo Branco e do vice-presidente, o mineiro José Maria José Maria Alkmin, Juscelino apoiou o golpe, mas logo sofreu o duro castigo de ter seus direitos políticos cassados pela ditadura.
JK morreu em circunstâncias suspeitas, em um acidente automobilístico, quando preparava seu retorno à vida pública, em 1976. O marechal Castelo Branco, morreu bem antes, em um também misterioso acidente aéreo, em 1967.
Jango morreu no exílio, no Uruguai, em 1976, supostamente assassinado por agentes da Operação Condor. Seu principal legado ao Oeste do Paraná foi iniciar as tratativas para uma ampla rede de cooperativas, que na época eram acusadas de ser “coisa de comunistas”, mito logo desmentido pelos militares.
Repelidos pela resistência de Estillac Leal, os governistas suspendem os ataques, mas o QG de Rondon já não estava mais em Ponta Grossa nem na Colônia Mallet: passo a passo já havia se deslocado para Formiga.
Na véspera do Natal, as hostilidades cessam. Ocorre um emocionante episódio: longe das vistas dos líderes políticos da Nação, os soldados legalistas e rebeldes trocam mensagens e concordam em celebrar o Natal juntos, para depois retornar às suas posições de combate.
No dia do Natal, em seu misto de poesia e crônica militar, João Alves da Rosa Filho narra:
“Erigimos esse altar de fé cristã entre as duas peças de artilharia da coluna. Viam-se em derredor, espalhadas, peças de metralhadoras da nossa seção. Tudo isso forma um contraste chocante e inédito para nós.
“Quando o crepúsculo vem descendo, cai um aguaceiro inoportuno que quase desfaz por completo o nosso pinheirinho.
“À noite, sentado nos velhos pinheiros caídos, meditamos entristecidos e contemplamos o céu estrelado, angustiados de saudades” (Diário de Campanha).
Ainda nessa noite, uma notícia vinda da frente informa que um grupo de rebeldes depôs as armas. Verdade ou não, foram espalhados relatos de derrotas e deserções entre os rebeldes.