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Becker: pai de Margarida e nome de usina

Um dos mais importantes líderes da colonização do Médio Oeste morreu prematuramente, mas deixou grandes marcas na história  

Por: Time de redação Fonte: Alceu Sperança
05/01/2025 às 09h06
Becker: pai de Margarida e nome de usina
Carlos Mathias Becker e a apólice para financiamento da usina (abaixo)

Nascido em 1913 em Estrela (RS), comunidade colonizada por imigrantes alemães desde 1856, Carlos Mathias Aloysius Becker seria protagonista de um dos mais extraordinários projetos de desenvolvimento já aplicados no interior do Paraná. 

Ainda no Sul, casado com Ida Giaretta, em 1936 nasceu em Erechim (RS) a filha única Diva Margarida Becker, que ainda menina daria nome a uma próspera comunidade no interior da antiga Fazenda Britânia, onde a Companhia Madeireira Rio Paraná (Maripá) desenvolvia um admirável plano de colonização, combinando urbanização, estímulo à agropecuária e exploração industrial da madeira.

Toledo nascia e Becker foi um de seus primeiros organizadores, desde 1946 integrado ao ambicioso plano da Maripá de aproveitar todos os recursos da antiga Fazenda Britânia. Essa iniciativa lhe valeu ser um dos candidatos da Maripá à Câmara Municipal de Foz do Iguaçu nas eleições de 1951. 

Se ele e Domingos Zardo, outro líder da colonização do Médio Oeste, não fossem eleitos em 27 de julho desse ano, é possível que Toledo não se tornasse Município logo em novembro. Ambos requeriam da Prefeitura medidas estruturais e se destacaram como personalidades de proa na formação do Oeste paranaense em seu conjunto.

Becker foi o terceiro vereador mais votado do Município de Foz do Iguaçu, obtendo mais votos que o prefeito Júlio Pasa, que sem poder concorrer à reeleição concorria à Câmara Municipal.

O plano da Maripá

Assim como Zardo, Becker entremeava as presenças mensais na Câmara a de Foz do Iguaçu com intensas atividades para a formação das diversas colônias previstas no plano da Maripá. Uma delas foi Margarida, nome de sua filha. 

Segundo Oscar Silva (Toledo e sua História), o plano de colonização da Maripá se desenvolveu criando uma série de núcleos urbanos iniciados pela Vila Toledo e três portos no Rio Paraná. Vila Margarida surge em 1951, ano em que também foram iniciadas as vilas de Quatro Pontes e Novo Sobradinho.

“Seriam construídas com intervalos de 10, 15 ou no máximo 20 kms entre si, e serviriam de centro de subsistência aos moradores as região ou perímetro” (Osdy Niederauer, Toledo no Paraná).

Cada vila se formou com quadras de oito a dez lotes urbanos. As ruas seriam retas e largas, preferencialmente com traçado Norte-Sul e Leste-Oeste, tendo ao centro uma quadra reservada para a praça.   

O conjunto de quadras de cada vila foi cercado por um ou dois anéis de chácaras que mediriam cerca de dois e meio hectares, destinados a famílias de menor poder aquisitivo ou a investidores com interesse em praticar a horticultura. 

Colonizada inicialmente por descendentes de poloneses, a formação da Vila Margarida coube a uma empresa subsidiária da Maripá, a Agro-Industrial do Prata.

De alemães para eslavos 

Um daqueles poloneses foi Wenceslau Pietrowsky, motorista e corretor da empresa, orientado a vender terras para famílias vizinhas com a mesma origem étnica, predominando assim os eslavos provenientes das cercanias de Irati (PR).

A Agro-Industrial do Prata fazia parte de um departamento criado pela Maripá para repartir tarefas setoriais de colonização e exploração da madeira. 

Segundo Adolfo Seganfredo, o grupo era formado, além da Prata, inicialmente gerida por Domingos Zardo, pela matriz Maripá, administrada por Willy Barth, Industrial Agrícola Britânia, a cargo de Becker, Agro-Industrial Boi Caé com Paulino Mânica e a Agro-Industrial Guaçu com Carlos Sbaraini. 

Cada empresa era encarregada de alcançar a cota mínima para a exportação. Fazendo a contabilidade geral, cabia a Seganfredo registrar o movimento de cargas, despachar a madeira e fazer os relatórios. 

Becker foi o sucessor de Domingos Zardo na gerência da Industrial do Prata e da Industrial Agrícola Britânia. O próximo administrador da Prata foi Clécio Zenni (1930–1995), gaúcho de Santa Rosa que veio a se casar com Margarida Becker e foi um dos primeiros vereadores de Toledo, eleito em dezembro de 1952 pelo Partido Libertador.

Em 1953, destacando-se entre as demais colônias, Margarida passa a ser distrito de Toledo. Quando o Município de Marechal Cândido Rondon se emancipou de Toledo, em julho de 1960, levou o Distrito de Margarida para ser parte de seu território.  

Morreu vereador de Foz do Iguaçu    

O mandato do vereador Carlos Becker na Câmara de Foz do Iguaçu se estenderia até o fim de 1955, mas findou com sua morte, prematuramente, em 12 de março desse mesmo ano, com apenas 41 anos. 

Na época em que a maioria das mortes se dava por ferimento a bala ou picada de animal peçonhento, não há mais registro sobre a causa da morte de Becker além da menção de que mesmo enfermo ele prosseguia nos esforços para dotar a região de infraestrutura.

A última luta de Becker era a prioridade máxima da comunidade toledana: construir uma usina hidrelétrica aproveitando os promissores saltos do Rio São Francisco. 

Pelos cálculos da Prefeitura de Toledo seriam necessários 3 milhões de cruzeiros para a obra (valores da época impossíveis de converter em real), mas nenhum centavo viria do governo do Estado, como os dirigentes da Maripá concluíram depois de longas tratativas. 

Ainda sem recursos para a obra, a energia era fornecida inicialmente por um gerador com motor diesel, das 6h30 até as 22h. Depois, pelo motor de um velho trator acoplado a um segundo gerador, produzindo juntos, cerca de 150 KW, segundo Ondy Niederauer. 

A ágora de Barth e Dall’Oglio   

Restou a possibilidade de contratar empréstimos bancários, mas não se tratava apenas de dispor dos recursos. Era necessária uma autorização do governo federal, via Ministério da Marinha, por seu Departamento de Hidrografia e Navegação.   

Carlos Becker supôs que seria possível reunir os recursos por meio da Caixa Econômica Federal e partiu de Toledo para uma exaustiva peregrinação na qual bateu em todas as portas possíveis na tentativa de conseguir a verba e as autorizações técnicas e legais necessárias. 

A CEF inicialmente acenou com a possibilidade de liberar os recursos, mas sem as licenças necessárias o sinal positivo se transformou em negativo. Durante meses Becker negociou as condições necessárias para a obra, mas quando ele voltou a Toledo desanimado, sem recursos nem liberações, a pressão por energia elétrica aumentou. 

Willy Barth e o prefeito Ernesto Dall’Oglio decidiram promover uma espécie de ágora – a reunião geral do povo em praça pública feita pelos antigos líderes gregos. Coube à Câmara Municipal convocar empresas, autoridades locais dos três poderes e cidadãos influentes para decidir o assunto de uma vez por todas.

O encontro, no início de 1954, lotou o Clube do Comércio, criado alguns meses antes. Willy Barth expôs o plano: a Prefeitura se encarregaria de construir a usina, que teria dois conjuntos geradores, um de 600 KVA e o outro de 300. 

Decisão em minutos 

O financiamento viria da própria população, por meio de títulos da dívida pública emitidos pela Prefeitura, no valor de mil cruzeiros cada, resgatáveis em sorteios periódicos quando a obra estivesse em operação.

Sob aclamação geral, em minutos a Câmara aprovou a lei, o prefeito a sancionou e ali mesmo começou a subscrição dos títulos. A Maripá e empresas coligadas deram o exemplo, fechando a metade do valor.   

Já no dia seguinte o chefe dos escritórios de medições e topografia da Maripá, Arthur Mazzaferro (1911–1994), técnicos da Maripá e o vereador Antônio Güerino Viccari, presidente da Câmara e futuro prefeito, estavam pondo mãos à obra, a 7 km da cidade, começando a construir o reservatório, obra básica para a hidrelétrica. As obras ainda tardaram três anos até a inauguração da usina, em 2 de julho de 1956.

Sua poderosa energia foi comparada ao dinamismo de Carlos Becker, que dedicou a vida ao desenvolvimento das comunidades do Médio-Oeste e morreu em meio ao esforço pela construção da usina. Ela forneceu energia para Toledo até a década de 1970, quando a Copel passou a controlar a distribuição de eletricidade.

100 anos da revolução: Garrafas misteriosas 

Já esgotados e sentindo o aperto de um lento e implacável torniquete aplicado pelo estrategista Rondon na difícil posição revolucionária mantida entre o Oeste e o Sudoeste do Paraná, a trégua natalina não bastou para recuperar o moral dos paulistas distantes do lar.

“No dia 26, o fratricídio estava de volta, para chegar ao máximo da crueldade. Zarpava do Rio de Janeiro o primeiro navio, lotado com 250 presos (oficiais, soldados e trabalhadores), com destino ao campo de concentração de Clevelândia (AP), extremo-Norte do País. Nessa viagem, 43% dos embarcados vão morrer” (Alceu A. Sperança, Militares e civis em luta no Paraná https://x.gd/WU25T). 

Enquanto no Paraná os governistas se deslocam sob a vigilância dos rebeldes, no Sul o comandante Luiz Carlos Prestes habilmente escapava ao assédio das tropas legalistas.

Na marcha rumo ao Paraná, além de João Alberto, Prestes tem a companhia de Cordeiro de Farias e Siqueira Campos.

Em 31 de dezembro, a força policial do Paraná ainda permanece acampada junto a uma aldeia indígena. 

“O comandante Sarmento anuncia que, em regozijo à passagem do ano, mandará servir, à meia noite, um café com bolacha à tropa. Isso constitui uma concessão especial, dada a circunstância da extrema exiguidade de víveres [de que] dispõe a coluna.

“À meia noite, recebemos o café prometido. Os oficiais brindam-se mutuamente, e como por encanto surgem não se sabe de onde, umas misteriosas garrafas que têm a importante faculdade de alegrar o estado-maior da coluna” (João Alves da Rosa Filho, op.cit.

 

Acossados pelas tropas governistas, rebeldes gaúchos demoraram a chegar ao Paraná 

 

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Alceu Sperança
Alceu Sperança
Jornalista e escritor.
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