Em Foz do Iguaçu, a aplicação da lei saiu do comando da antiga Colônia Militar do Iguaçu para a polícia do Estado em 1912, então com responsabilidades equivalentes na atualidade às da Polícia Federal.
Nos primeiros tempos de Cascavel, em 1931, a polícia estava entregue pelas autoridades revolucionárias aos parentes e amigos do líder da comunidade, José Silvério de Oliveira, o Tio Jeca.
Mesmo depois da instalação do Município, em 1952, durante longo tempo a autoridade policial seguia os ditames da autoridade local de maior projeção, que poderia ser o prefeito ou o diretor de algum organismo do Estado.
O primeiro prefeito, José Neves Formighieri, designou o irmão Eurides Cezário para ocupar a função de delegado de polícia porque a autoridade nomeada pelo Estado estava ausente e o jaguncismo tomava conta.
Até a instalação da Justiça, a partir de 1954, o papel do delegado de polícia era mais compatível com a função de um secretário municipal às ordens do prefeito que o exercício de uma representação estadual.
Servidor municipal, o sargento Emiliano Afonso da Silva assumiu a delegacia de polícia de Cascavel enquanto aguardava a nomeação de um delegado efetivo.
Tentou aplicar métodos profissionais e legais ao efetivo policial, mas os costumes e a realidade difícil do interior conspiravam contra suas boas intenções.
Sendo funcionário da Prefeitura, suas ordens não vinham de Curitiba, mas do secretário Algacyr Biazetto, que fazia o elo entre o Município de Cascavel e o governo do Estado.
Biazetto, aliás, não queria ter vindo para a desconhecida e assustadora Cascavel depois de ouvir dizer que os bandidos matavam até dentro da igreja. Uma conspiração política, porém, forçou sua transferência ao Oeste paranaense.
Quando o presidente da Câmara, Dimas Pires Bastos, exigiu do prefeito José Neves Formighieri a demissão do secretário Celso Sperança, acusado de manipular os vereadores da oposição majoritária em favor do prefeito, o próprio Celso preparou sua sucessão.
Recomendou para ocupar seu lugar um homem bem relacionado tanto com o PTB do prefeito quanto com a administração do governador Bento Munhoz da Rocha Netto: o contabilista Algacyr Arilton Biazetto.
Os vereadores da oposição eram ligados ao PR, o partido do governador. Logo, quando o sucessor de Celso chegou a Cascavel, apoiado pelo governo, toda a Câmara se uniu em favor do prefeito, que pôde levar a gestão até o fim, sem mais crises.
Foi assim, portanto, para dar fim a uma crise, que chegou a Cascavel o contabilista Biazetto, em 20 de março de 1954, passando a ser a mão direita da Prefeitura, encarregado de resolver os mais diversos problemas da administração, que não eram poucos no Município ainda em primeira gestão.
Certo dia, para sua surpresa, o sargento-delegado Emiliano recebeu de Biazetto uma incumbência inusitada: fornecer uma espingarda a um velho agricultor com autorização de atirar para matar caso a vaca de um arrogante vizinho continuasse a pisotear suas plantações.
Biazetto contou que na região da Cruz Grande, onde a família Lupion possuiu uma serraria, transferida à Industrial Madeireira do Paraná, deu-se um impasse entre vizinhos. O criador de gado soltava a vaca na plantação do vizinho agricultor e ela devorava a plantação.
O secretário até então não os conhecia, mas à medida que o episódio se desenrolou ficou amigo dos dois e preferiu não revelar seus nomes para não constranger as famílias.
Decidido a resolver rapidamente o atrito, Biazetto chamou à Prefeitura o dono da vaca. Com fama de bandido, o pecuarista sustentou o “direito” da vaca de comer o que lhe aparecesse pela frente. “Não vou mudar só porque o senhor está pedindo”, disse a Biazetto.
Sem conseguir convencer o teimoso pecuarista, Biazetto ordenou ao sargento Emiliano que emprestasse uma espingarda ao velho agricultor lesado pelos ataques famintos da vaca. Emiliano forneceu a arma, recomendando que a usasse apenas no caso de persistência da vaca em sua lavoura.
A dissuasão baseada na capacidade de retaliação é estratégia comum nas artes militares, mas desta vez não funcionou: o colono efetivamente matou a vaca invasora e levou a morta em sua carrocinha até a frente da Prefeitura, perto da Praça Getúlio Vargas.
O dono da vaca foi de imediato chamado e ficou surpreso ao saber da licença para matar concedida ao agricultor. Mesmo tendo fama de bandido perigoso, soltando imprecações contra o “assassino” da vaca, o sargento Emiliano e a Prefeitura, o pecuarista reconheceu que errou e levou a vaca para aproveitar a carne.
No fim, o agricultor e o criador ficaram amigos e contavam o episódio entre gargalhadas. Naquele mesmo ano, 1954, a Justiça foi instalada em Cascavel e as soluções nunca mais foram assim tão fáceis quanto emprestar espingarda e dar licença para matar.
O improvisado delegado Emiliano Afonso da Silva teve nesse episódio o momento mais tenso de sua vida. Ele havia encerrado a carreira militar como sargento do Exército, no início dos anos 1950, atuando junto ao escritório da 5ª Seção da Comissão de Estradas de Rodagem (CER-1) como supervisor de obras.
Naquela época, sem prefeito nem autoridades estaduais na localidade, os militares do Exército e da Aeronáutica eram anjos da guarda que resolviam problemas, desde remeter apelos às autoridades, pelo telégrafo, a transportar doentes para receber atendimento qualificado.
Foi nesse clima de congraçamento entre civis e militares, no Dia do Soldado (25 de agosto) de 1949, que o sargento Emiliano participou da fundação do Tuiuti Esporte Clube, chamado pelos jovens das famílias de destaque em Cascavel.
Também participou da campanha de emancipação do Município e quando o prefeito José Neves Formighieri se elegeu, de imediato se prontificou a auxiliá-lo na cobrança de impostos municipais.
Emiliano fez muito mais: além de fiscal de rendas, função que exerceu até 1960, quando pediu exoneração, já com 58 anos, substituiu o delegado de polícia por longo tempo, até a nomeação de um efetivo pelo Estado, que demorou por conta do esmero com que cuidava dos assuntos policiais.
Como se estas contribuições do sargento Emiliano já não bastassem, em 1953 o médico Wilson Joffre propôs em reunião no Tuiuti a construção de um hospital, do qual as famílias seriam acionistas.
Emiliano foi mais que um acionista: ele doou uma quadra inteira, entre as atuais ruas Sete de Setembro e Castro Alves, atrás da futura praça que levou o nome do médico, para a construção do Hospital Nossa Senhora da Aparecida.
Foi nessa época que se deu o episódio da licença para matar a vaca invasora, no qual, primeiramente, Emiliano e Biazetto tentaram a conciliação entre o agricultor e o pecuarista, que não quis conversa.
O famigerado bandido, depois de cumprir pena, havia retornado ao seu ofício de criador em uma propriedade localizada ao Sudoeste da cidade, mas se orgulhava de ser temido por todos como extremamente perigoso.
Foi uma surpresa ele engolir sem retaliações a perda da vaca, reconhecendo que errou, mas logo depois “esse mesmo bandidão”, contou Biazetto, “matou na Zona do Meretrício uma mulher com um punhal enorme, que atravessou a mulher e ficou grudado no assoalho”.
Quando se deu o julgamento, Biazetto era um dos jurados. Condenado, o réu recebeu uma sentença pesada, superior a trinta anos de cadeia. O bandido se levantou, olhou para Biazetto e reclamou: “Isso é perseguição política!”
Alegava que, nessa “perseguição”, primeiro havia perdido a vaca e, agora, perdia a liberdade... (Cascavel, A Justiça https://x.gd/Vvkr7).
Cercado pela admiração geral dos cascavelenses, o sargento Emiliano, casado com Elvira Mendes, também de família tradicional, em junho de 1956 participou, com José Remi Pietsch e outros pioneiros, da fundação da Sociedade Doutrinária Espírita Paz, Amor e Luz, da qual também participavam Ramiro de Siqueira, Durval Hoff, Francisco Vaz de Lima e Ítelo Webber.
Onde havia uma boa causa, lá estava presente o sargento Emiliano. Há uma rua com seu nome próxima ao Parque Ecológico Paulo Gorski.
Em 6 de janeiro de 2015, já certos da aproximação da coluna de Prestes, os oficiais que respondem pela defesa de Catanduvas, para onde o front rebelde havia recuado, reúnem-se por iniciativa de Miguel Costa com a presença do major João Cabanas.
A presença de Cabanas tinha um caráter especial: era sua prova de vida. Os folhetos mentirosos lançados pelo general Rondon para abalar o moral dos rebeldes comunicavam que Cabanas estava morto, a Coluna da Morte vencida e o general Isidoro havia fugido para a Argentina.
“Os boletins diziam para os rebeldes abandonarem a luta, que estavam sendo ludibriados pelos seus chefes, os soldados que se rendessem, teriam sua vida garantida e que seriam tratados como irmãos”, escreveu o historiador Ruy Wachowicz:
“O estratagema de Rondon funcionou. Quarenta e dois rebeldes entregaram-se às tropas legalistas. O moral dos revolucionários começou a cair, desde que espalhou-se a notícia de que o major Arlindo de Oliveira se havia rendido no Rio Paraná, com 220 homens, 5 metralhadoras, 4 fuzis metralhadoras, 256 carabinas Mauser e grande quantidade de munição”.