Muitas cidades têm seus nomes definidos pela iniciativa de padres ou crentes católicos, como São Miguel do Iguaçu, que deixou de ser “Gaúcha” porque a colonizadora com esse nome se envolveu em conflitos de terras com antigos posseiros do lugar (https://x.gd/2d5KZ).
A lenda em torno de um herói chamado Miguel e a crença católica o transformaram em um santo específico, só existente no Oeste paranaense.
Quanto a Cascavel, se dependesse do prelado de Foz do Iguaçu, monsenhor Guilherme Maria Thiletzek, a cidade teria o nome de “Aparecida dos Portos”, definido por ele em 1931, na primeira missa rezada no povoado.
O livro “Cascavel: uma Santa na encruzilhada” (https://x.gd/62rMf) conta que os líderes da comunidade rejeitaram o batismo como Aparecida dos Portos por conta de três motivos.
Primeiro, o lugar já era conhecido pela comunidade e pelos viajantes de passagem como “Encruzilhada dos Gomes”. Segundo, a legislação recomendava dar aos lugares iniciantes os nomes dos acidentes geográficos mais característicos, que nesse caso seria o Rio Cascavel.
O terceiro é que, já doente e pela primeira vez na até então desconhecida vila de Cascavel, o religioso supunha estar em um dos portos do Rio Paraná, locais que sempre visitava, cometendo um engano ao dar ao lugar o nome de “Aparecida dos Portos”. “Que portos?”, perguntavam.
Mesmo com esses argumentos válidos, alguns religiosos preferiram manter o inexplicável nome Aparecida dos Portos. Na escolinha, os professores faziam as crianças encimar os cabeçalhos de seus escritos com o nome “Aparecida dos Portos” e data.
Essa prática deveria fixar em definitivo este como o nome da cidade, mas algo inesperado aconteceu.
Em 20 de julho de 1931, com a absorção da Estação Telefônica, desde a Revolução Paulista (1924) instalada em Lopeí, os Correios e Telégrafos iniciaram atividades em Cascavel/Aparecida a pedido do principal líder do lugar, José Silvério de Oliveira, o Tio Jeca.
A inauguração do telégrafo seria formalizada pelo envio do primeiro telegrama as autoridades do Estado. Como o telegrama precisava começar pelo nome do lugar de onde a mensagem partia, o Jeca Silvério determinou ao telegrafista Bento dos Santos Barreto que escrevesse “Cascavel” como o local de origem do primeiro telegrama.
Essa providência foi crucial para determinar a oficialização de “Cascavel” como o nome da antiga Encruzilhada dos Gomes e pretendida Aparecida dos Portos. No entanto, as discussões entre Cascavel e Aparecida dos Portos se estenderam por mais duas décadas.
Em 1951, ao receber a demanda dos cascavelenses de criar o Município, outro Bento, o governador Bento Munhoz da Rocha, tomou conhecimento de que havia divergências quanto ao nome da cidade e futuro Município.
Decidido a pôr um ponto final na pendenga, fez uma consulta aos líderes cascavelenses em praça pública, perguntando se os moradores gostariam de mudar o nome da cidade. Durante o Território Federal do Iguaçu a cidade teve um novo nome proposto: Guairacá, mas em 1946, por força constitucional, voltou a se chamar Cascavel.
Várias sugestões foram apresentadas ao governador: Aparecida dos Portos, nome dado nos anos 1930 pelo prelado Guilherme Thiletzek, de Foz do Iguaçu, era o preferido pelos católicos.
“Aparecida do Oeste” foi uma opção para evitar a gafe “dos Portos”. O major Oscar Ramos Pereira sugeriu “Cascavel do Sul”, adotado pelo jornal Correio d’Oeste, de Celso Formighieri Sperança, e ainda “Cascavel do Paraná”, por haver uma Cascavel mais antiga no Ceará.
Acima dos demais, elevou-se o grito “Cascavel”, puxado por Dimas Pires Bastos, e assim ficou, embora ficasse o alerta de que a Cascavel de São Paulo teve que mudar o nome para Aguaí por ser mais nova que a cidade cearense.
Valeu a Constituição de 1946, que mandou dar o nome anterior e tradicional à rebatizada Guairacá, nome dado à cidade na vigência do Território Federal do Iguaçu. Com isso, ficaram consagrados os nomes de Cascavel (CE) e Cascavel (PR), mesmo homônimos.
Com Nova Aurora, que os primeiros colonos chamavam de Encruzilhada Tapejara, deu-se que o nome foi aceito sem contestações por sua beleza. A controvérsia se deu em torno da paternidade do nome: ele teria sido criado por um benquisto padre ou por um controverso colonizador, respeitado por alguns e hostilizado por outros?
No livro “Nova Aurora - Sua História, Sua Gente” (1984) o jornalista Carlos Valmor Bazanella recolheu a versão passada por pioneiros entrevistados, começando por assinalar que havia divergências quanto ao nome do lugar.
Os sofridos posseiros, ameaçados por jagunços das companhias colonizadoras, não aceitavam para o lugar a manutenção do nome “Encruzilhada Tapejara”, referência à Companhia Imobiliária Tapejara, fundada por Adízio Figueiredo dos Santos e Luíz de Mattos em 1949.
“As opiniões em torno de uma denominação adequada, divergiam-se. Porém, numa certa manhã de domingo, o padre Bernardo Lube, missionário da Ordem do Verbo Divino, que atendia as capelas [...] da região que mais tarde veio a formar o município de Nova Aurora, celebrando uma missa campal, cujo altar estava instalado sob uma frondosa árvore (onde hoje está localizada a Praça dos Pioneiros) durante o sermão, comentando os problemas dos posseiros e tituladores das terras da região e olhando para o céu que se apresentava muito claro e radiante, disse: Uma nova aurora há de surgir na vida de todos vocês meus irmãos!”
Nova Aurora de fato foi o nome escolhido, mas a versão de que seria uma poética imagem formulada pelo padre Lube foi contestada justamente por quem se julgava o verdadeiro pai da denominação “Nova Aurora”: Adízio Figueiredo dos Santos, um dos donos da Colonizadora Tapejara.
Entrevistado por Bazanella, Adízio disse que ele mesmo dseu o nome ao lugar, em homenagem à sua cidade natal: Aurora (CE). De fato, a cidade natal de Adízio era chamada de “Aurora Nova” antes de ficar só “Aurora”.
Quanto ao padre Bernardo Lube, que faleceu em Ponta Grossa um ano antes da publicação do livro, aos 75 anos, não pôde ser consultado para dar a sua versão. Os posseiros e colonos em atrito com a colonizadora tentaram impor a versão de que a proposta foi do padre, tentando excluir Adízio Figueiredo dos Santos da história do lugar.
Embora ele não fosse o pioneiro que a maioria da população preferisse reverenciar, Adízio estava certo. “Quando entramos nessa região, fizemos mapas. Nos relatórios mandados ao governo contendo solicitação de auxílio para a colonização que pretendíamos fazer, também mandamos os mapas das cidades que pretendíamos levantar”.
Desde 1952, quando já estava criado o Município de Cascavel incluindo a localidade e futuro distrito de Nova Aurora, Adízio declarou a Carlos Bazanella que estava de posse do mapa com escritura definitiva assinalando a cidade de Nova Aurora “nesta mesma situação geográfica em que se encontra hoje”.
Não era uma simples disputa pela paternidade do nome de Nova Aurora: o caso era apenas a ponta do iceberg de uma complicada trama de fraudes cartoriais combinadas com disputas entre o Estado e a União, compradores de boa-fé e ocupação de posseiros.
A esse conjunto de situações vieram se somar a ação policial nem sempre legítima e a contratação por parte das colonizadoras de jagunços para expulsar os posseiros, considerados invasores apesar de uma longa permanência na terra em prolongada demanda judicial.
O historiador Maurílio Rompatto esmiuça passo a passo toda essa trama no livro “Piquiri, O Vale Esquecido” (https://x.gd/6ifc2). O esquecimento se refere ao fato de que os casos menos complexos do Levante dos Posseiros de Porecatu (1947-1951) e da Revolta dos Colonos do Sudoeste (1952-1957) terem ampla exposição na historiografia e na mídia devido a envolvimentos políticos, enquanto a situação do vale do Piquiri se revelou uma intrincada trama de interesses que ainda na década de 1990, após a redemocratização do país, apresentavam sangrentas ramificações.
A Nova Aurora, no fim das contas, tardou a estender sua luz acima da escuridão dos conflitos, mortes e sofrimento das famílias prejudicadas.
Em Barracão, no início de 1925, Luiz Carlos Prestes se encontrou com o coronel Fidêncio de Mello (1886–1960), fazendeiro na região, que comandava 78 homens. A junção dessa força permitiu a Prestes planejar a tomada de Clevelândia e Palmas para em seguida pressionar Laranjeiras do Sul, de onde golpearia a retaguarda de Rondon.
Para isso precisaria receber equipamentos, armas e munições suficientes para cumprir a tarefa. Como os recursos não vinham, Prestes deu rapidamente início uma guerra de emboscadas, mas foi atacado pelos provisórios de Firmino Paim Filho no Arroio São Francisco e em Pato Branco.
Em 13 de fevereiro chega a Foz do Iguaçu um enviado da 3ª Região Militar (RS). Trazia uma proposta de conversações de paz a se realizarem na cidade argentina de Posadas.
Lá, o general Isidoro Dias Lopes era aguardado pelo deputado João Simplício de Carvalho, representante dos legalistas. Os revolucionários não tinham mais condições materiais de manter o movimento e aceitaram discutir a cessação das hostilidades, mas os termos exigidos pelo governo eram humilhantes demais.
A fracassada tentativa de acordo deu o tempo necessário a Rondon para fechar um cerco implacável sobre as forças rebeldes isoladas no Sudoeste do Paraná e distantes do contingente posicionado em Foz do Iguaçu.