Por Carina Walker
Nos últimos anos, uma silenciosa degradação tem ocorrido nas prateleiras de alguns supermercados: produtos alimentícios que se apresentam como tradicionais, mas que, na realidade, são meras imitações, distorcendo a percepção do consumidor.
A mais recente é a das marcas de “pó para o preparo de bebida sabor café”, cuja embalagem possui os mesmos elementos do café original, visando induzir o consumidor ao engano.
Elementos gráficos como cores, tipografias e imagens, levam o consumidor a acreditar que está adquirindo um produto tradicional, quando, na verdade, ele está comprando uma mistura industrializada de ingredientes baratos, inclusive caracterizados como impurezas.
De um lado temos o rigor de qualidade do setor de torrefação, a legislação e as entidades certificadoras para garantir a idoneidade do segmento industrial; de outro lado surgem empresas que se aproveitam de brechas da legislação quanto a preparos para bebidas, e buscam alternativas mais baratas e menos reguladas para ganhar o mercado com baixos preços. Dessa forma, o consumidor torna-se refém e vítima desse jogo econômico.
O mundo das peças paralelas, das imitações de marca, como peças de vestuário, calçados e outros, sempre existiu.
Então por que a indignação é maior quando o assunto é alimento?
Porque enquanto artigos de grife falsificados afetam o status e a estética dos consumidores, alimentos adulterados ou de qualidade inferior podem comprometer a saúde e a segurança das pessoas.
Quando o assunto é alimentos estamos falando da camada que ocupa a base da pirâmide de Maslow, portanto, nossas necessidades mais fundamentais para a sobrevivência humana.
Eu diria que é uma causa visceral, daí a revolta.
A questão ainda transcende a nutrição e atinge âmbitos como a ética e o direito do consumidor.
Não há como falar sobre café & ética sem lembrar de outra polêmica recente: a da xícara de porcelana da designer Tania Bulhões, que até há poucos dias era vendida como autoral e exclusiva no mercado de luxo, mas que foi desmascarada através das redes sociais – já que a peça não tinha nada de autêntica, mas sim era importada e estampada com a assinatura da marca. Mais um caso de tentativa de ludibriar o público, desta vez em relação à propriedade intelectual.
Voltando aos alimentos, a prática levanta uma questão moral: até onde a indústria pode ir para reduzir custos sem ferir a confiança do consumidor?
Do ponto de vista legal, os direitos do consumidor são frequentemente desrespeitados. A transparência deveria ser a regra, mas, na prática, muitas empresas exploram brechas regulatórias para vender um produto que se assemelha ao original apenas na aparência.
A solução passa pela educação do consumidor e por regulações mais rigorosas. É fundamental aprender a decifrar rótulos, conhecer a procedência dos produtos e exigir leis mais transparentes.
Se no passado as regulações foram suficientes para conter abusos das indústrias, hoje essa batalha precisa ser travada por cada um de nós, consumidores conscientes, que recusam ser enganados pela ilusão da embalagem ou por decorosas narrativas.
Sucesso a todos!