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A Coopavel à beira da morte

A crise causada pela ditadura em sua agonia final esteve a um passo de matar a grande cooperativa cascavelense  

Por: Time de redação Fonte: Alceu Sperança
23/02/2025 às 11h01
A Coopavel à beira da morte
Luiz Boschirolli presidiu a Coopavel no auge da crise da maxidesvalorização. Salazar Barreiros o substituiu na transição de 1985

Parte dos eventos traumáticos da Década Perdida da ditadura (anos 1980), a chocante maxidesvalorização do cruzeiro, então a moeda em vigor no Brasil, foi imposta em 19 de fevereiro de 1983. 

Depois de falharem os truques usados para maquiar a realidade nacional nas eleições de 1982, quando o governo sofreu uma desmoralizante derrota nas urnas, a maxi parecia uma vingança. A medida abalou o país e caiu sobre a Coopavel como um meteoro, pondo a cooperativa à beira da extinção.

Era o pior momento da empresa depois de superada a oposição ao cooperativismo, que nos anos 1950 e 1960 era acusado de ser “coisa de comunista”. 

O assunto foi alvo de muitas discussões desde 1953, quando Tarquínio Joslin dos Santos criou a Associação Rural de Cascavel. Tarquínio, de fato, era comunista, mas nem a ARC nem a proposta de criar uma cooperativa tinham algo a ver com marxismo ou com política: vinham da tradição associativa das comunidades de imigrantes: os “filós” (https://x.gd/La1sk).

Banco e padre

Na trilha da ARC, em 1954 o cooperativismo ganhou positividade com a criação do Banco Agrícola Vale do Rio Piquiri Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Ltda (Banquiri), por iniciativa de Alceu Barroso e Alceu Barroso Filho, sob a presidência de Djalma Rocha AlChueyr. 

A aceitação do cooperativismo pelos colonos se completou quando o padre Luiz Luíse denunciou que a desunião dos colonos favorecia piratas agrícolas – os atravessadores. Em 1963 o presidente João Goulart encarregou o deputado federal Lyrio Bertoli, ligado à ARC, de chefiar missão especial do governo à região para verificar a situação dos colonos.

O Banquiri foi extinto após a instalação da ditadura, mas a ideia do cooperativismo permaneceu na ARC, que em dezembro de 1966 aprovou em assembleia a decisão de criar uma cooperativa agrícola.

Com a remoção dos obstáculos “ideológicos”, a Cooperativa Agropecuária Cascavel, hoje Cooperativa Agroindustrial de Cascavel, foi criada em 15 de dezembro de 1970 pela união das principais famílias de agricultores.

Foi um sucesso. Dez anos depois, em franco desenvolvimento, a Coopavel iniciou a construção de sua fábrica de rações, laticínios e indústria de beneficiamento do milho, partindo para a agroindustrialização.

Indústria, aposta no melhor

A fábrica entrou em operação em 22 de maio de 1982, com o país já em sérias dificuldades desde o fim da década anterior. Os líderes locais apoiavam o governo confiando que as dificuldades logo se resolveriam. 

Com as queixas dos colonos batendo na mesa do presidente da Coopavel, Luiz Boschirolli, ele reclamou que a política econômica do governo para 1983, traçada pelo Conselho Monetário Nacional, levaria a agricultura à falência. 

O CMN atendia às exigências corretivas do FMI, mas as medidas não funcionaram. Os bancos reagiram negativamente e o Brasil enfrentou uma grave crise de liquidez de divisas. A importação de matérias-primas e equipamentos essenciais ficou difícil para o setor produtivo nacional. 

O fracasso da ditadura favoreceu o crescimento da oposição política e na cooperativa aumentavam as pressões sobre Boschirolli, cuja diretoria se desdobrava tentando resolver assuntos administrativos complexos entre escolhas difíceis. 

Golpe de misericórdia 

Com o país em polvorosa, em junho de 1983 sobreveio um novo pacote na área econômica. A redução dos subsídios à agricultura, aos combustíveis e ao trigo se chocavam com as necessidades da população devido à significativa elevação do custo financeiro da produção, penalizando sobretudo os mini e pequenos produtores. 

“A maxidesvalorização do cruzeiro pegou a Coopavel de surpresa. Foi de certa maneira o golpe de misericórdia para a entidade que amargurara prejuízos de vulto no ano anterior e que naquele exato momento de desventura devia nada mais, nada menos, do que 9,5 milhões de dólares a bancos particulares, fruto de empréstimos para cobrir as operações Coopersabadi e insumos. Aos rombos anteriores veio somar-se, pois, da noite para o dia, mais um prejuízo de 1,8 bilhão de cruzeiros por obra e graça da máxi decretada pelo sr. Delfim Neto” (revista Oeste, nº 2, setembro de 1985).  

“O quadro das nossas cooperativas, em particular da agropecuária, como um todo, é sombrio, sem querermos ser pessimistas. Basta que sejam mantidas as atuais taxas de juros”, dizia o presidente Boschirolli.

Na reunião do Sindicato Rural em 30 de setembro de 1983 o presidente Wilson Carlos Kuhn criticava severamente a “geada” dos juros agrícolas, que se agravavam cada vez mais: “Nossos agricultores estão entregando as máquinas e equipamentos para pagarem os financiamentos”.

Anos tormentosos

As pressões políticas não funcionaram porque a definição de um novo acordo com o FMI era a prioridade nacional. A corda apertou ainda mais o pescoço do produtor rural com ações trabalhistas e a cooperativa com problemas no equipamento de informática. A diretoria da Coopavel abriu de vez o jogo em 1º de fevereiro de 1985: estava asfixiada e sem saída à vista.

Em meio a uma intensa boataria e luta acirrada entre grupos divergentes, em 22 de fevereiro de 1985 a diretoria da Coopavel foi destituída. Assumem Salazar Barreiros (presidente), Joaquim Felipe Laginski (vice-presidente) e Dilvo Grolli (secretário).

Um ano depois, a ditadura já estava esgotada, mas a crise criada se arrastava entre pacotes do governo e a reação nervosa dos produtores. Em 15 de março de 1986 a Assembleia da Coopavel começava outra vez sob a ameaça de fechamento das portas da cooperativa.

Manobras feitas para evitar a dissolução levaram à derrota da chapa única inscrita para as eleições, medida protelatória que manteve a diretoria anterior, impedindo a liquidação e ganhando tempo até que fosse possível vencer os problemas – uma perversa combinação de fim de feira para a ditadura, a persistência dos obstáculos financeiros para o sistema produtivo e as dificuldades de gestão da cooperativa.

Para complicar, a desunião

Intensas lutas dos produtores rurais unidos se estenderam por 1987, com cerca de 300 agricultores ocupando em 12 de fevereiro o centro de Cascavel com ceifadeiras, tratores e outras máquinas e implementos em protesto que também fechou a BR-277.

Com o Plano Cruzado já em operação (https://x.gd/bTBxn), um movimento ainda mais forte estava previsto para 10 de março, desta vez em demanda por novos valores para os preços mínimos, redução dos juros agrícolas e liberação da correção monetária para financiamentos de custeio e investimento.

A proposta era promover um movimento pacífico, mas forte: fechariam os bancos com máquinas agrícolas e lançariam um manifesto em praça pública. Mas no início do ano seguinte o movimento ruralista ficaria irremediavelmente dividido: de um lado, a agressividade da UDR (https://x.gd/OgoWT). De outro, a intransigência do MST, criado em Cascavel.

Em meados de junho de 1990 as cooperativas da região paralisaram a comercialização da soja em protesto contra os baixos preços. As indústrias de esmagamento cessaram a produção de óleo em solidariedade aos sojicultores e a BR-277 foi bloqueada no movimento que se chamou O Levante da Soja.

A vitória dos agricultores 

O protesto prosseguiu por toda a segunda quinzena do mês. A queima de uma colheitadeira na pista da rodovia federal irritou o governo paraguaio, que tinha direito de uso da BR-277. O Ministério da Justiça ameaçou com severas represálias os sojicultores que mantinham a estrada sob bloqueio.

Os anos 1990 transcorreram entre novos protestos e medidas insuficientes, culminado em março de 1995, quando milhares de agricultores do Oeste novamente e uniram contra a política econômica elitista que levava a agricultura à falência.

Em meio à marcha com tratores e colheitadeiras, o prefeito Fidelcino Tolentino ameaçou fechar as estradas se não houvesse uma resposta até o fim do mês. Fortalecidos por décadas de lutas, os agricultores finalmente venceram, conseguindo a renegociação da dívida de todos os produtores com 25 anos de prazo para pagar, com base no preço mínimo do milho. 

“Isso foi a salvação da agricultura naquela oportunidade. Começa então a fase da tecnificar, investir na propriedade para obter maior produtividade” (Modesto Félix Daga, no livro Uma História de Paz, Produção e Progresso).

100 anos da revolução: Emocionante Carnaval

 As ousadas tentativas dos comandados de Prestes de tentar um ataque resolutivo ao QG do general Rondon esbarraram na concatenação das forças governistas federais.

No dia 19 de fevereiro, 400 provisórios do coronel Firmino Paim Filho forçaram o pequeno destacamento de vanguarda do rebelde João Alberto a recuar. No dia 22, o destacamento rebelde de Cordeiro de Farias, próximo a Clevelândia, era atacado por outro grupo gaúcho, comandando por Claudino Nunes Pereira.

Revolucionários e rebeldes estão esgotados. Se dependesse deles, a paz seria celebrada em 24 de fevereiro, a terça-feira de Carnaval, quando os soldados legalistas deixam as armas de lado e buscam uma confraternização com os rebeldes. 

Os 300 metros que separam as trincheiras inimigas são atravessados por soldados desarmados, de ambos os lados, dando início a uma grande confraternização que se prolonga por mais de quatorze horas (Sérgio Rubens Araújo Torres, Nas barrancas do rio Paraná). 

Não foi sem dificuldade que os oficiais revolucionários e os governistas levaram seus comandados de volta às posições originais de combate. A alegria que sentiram naquelas horas logo seria desfeita pela morte de vários daqueles soldados nos combates que vieram. 

Coronel Firmino Paim Filho

 

 

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Alceu Sperança
Alceu Sperança
Jornalista e escritor.
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