O pai, o farmacêutico Tarquínio Joslin Santos, era dono de um terço da atual cidade de Cascavel. Vindo em 1938, quando o governo do Estado doava terras na região para estimular o desenvolvimento agrícola, Santos encontrou a vila de Cascavel limitada a algumas poucas quadras.
Tomou posse de chácaras ao redor e quando a cidade avançou por suas propriedades ele doou áreas ao Município. Tarquínio, aliás, deixou de ser prefeito de Cascavel por apenas um voto nas eleições de 1952 – ele não pôde votar por estar isolado no interior pela chuva.
Ozíres nasceu em 3 de março de 1936 em União da Vitória (PR). Veio no colo da mãe, Altiva Diva Ribeiro dos Santos, em 1938, quando os pais se deslocavam para Foz do Iguaçu em penosa viagem de carroça.
Na passagem pela vila de Cascavel, Tarquínio foi convencido pelo patriarca Jeca Silvério a abrir uma farmácia no local, hoje esquina da Avenida Brasil com Rua Sete de Setembro, mas só veio para morar a partir de 1947.
Em Cascavel, Ozíres cumpriu os primeiros estudos e cresceu fazendo amigos por toda a região. Também com farmácia em Foz do Iguaçu, Tarquínio aplicava lá os ganhos do comércio em imóveis. “Meu pai foi pioneiro em loteamentos em Foz do Iguaçu. O primeiro que abriu e urbanizou foi a Vila Yolanda”.
Por motivo de saúde, Tarquínio logo teve que voltar a Foz do Iguaçu, mas Ozíres ficou e concorreu à Câmara de Cascavel nas eleições de 1960, pelo PDC, ficando na primeira suplência. Assumiu a cadeira depois em substituição ao vereador Itasyr Luchesa, que renunciou ao mandato.
Ozíres participou ativamente da elaboração da Lei Orgânica da época e dos debates em torno do planejamento urbano. O centro de Cascavel teria que ficar fora da rota da BR-277 e os comerciantes temiam que a cidade ficasse esvaziada de clientes sem a estrada federal.
O vereador propôs que a rodovia continuasse ainda por algum tempo cruzando a cidade. A proposta foi aceita, mas para se enquadrar no desenho urbano do arquiteto Gustavo Gama Monteiro seria preciso recuar a Rua Paraná.
Ozíres argumentou que a imposição prejudicava os proprietários de imóveis atingidos e defendeu um ressarcimento justo para o recuo da via pública, afinal executado com mínimas queixas.
Em 1963, por influência do pai, Ozíres abriu mão da vereança em Cascavel e foi concorrer à Prefeitura de Foz do Iguaçu. A proposta apresentada pela equipe que ele levou de Cascavel, chefiada por Celso Formighieri Sperança, “girava em torno do turismo e da eletrificação da cidade, que não tinha luz” (Gazeta do Iguaçu, 12/01/94).
No entanto, o partido pelo qual Ozíres era vereador em Cascavel, o PDC, não quis que ele fosse o candidato à Prefeitura sob a alegação de ser muito jovem. Tinha 27 anos.
A salvação veio do presidente local da UDN (União Democrática Nacional), advogado Ney Wadson dos Santos, irmão do médico Wilson Joffre, de Cascavel, que lhe ofereceu a legenda. Ney morava em Foz do Iguaçu, onde hoje é nome de rua, mas tinha escritório de advocacia em Cascavel, no qual defendia posseiros contra jagunços.
Mesmo com legenda, o páreo era difícil. Ozíres enfrentava os principais líderes da cidade, como Írio Manganelli (PTB), herói da II Guerra, e o igualmente respeitado capitão Jacob Beck (PSD), indicados pelos partidos mais poderosos do país.
Apesar de bombardeado pela propaganda adversária que o depreciava como “jovem e inexperiente para ser prefeito”, além de ser filho de um comunista, Ozíres se elegeu com mais votos que Manganelli e Beck somados.
Assumindo a Prefeitura já em dezembro de 1963, Ozíres logo conseguiu acionar um motor termoelétrico para depois concluir a Usina de Ocoí. A partir daí, apesar de alguns eventuais obstáculos, Foz nunca mais se preocupou com energia e hoje é campeã na geração de eletricidade.
Em sua gestão houve incentivo à expansão da hotelaria e ênfase no asfaltamento. “Não havia um metro de calçamento, e eu consegui asfaltar a Avenida Brasil e várias ruas do centro da cidade”.
No passado, seu pai, Tarquínio, abriu a Estrada das Cataratas no trecho entre o bairro M’Boicy até próximo ao atual Hotel Bourbon, que no governo Vargas virou avenida calçada com pedras, “mas tinha virado uma buraqueira”: “Os turistas vinham de avião e seguiam até as Cataratas de carro ou ônibus, e nós ficávamos com vergonha da estrada”.
Asfaltar a via dependia do governo federal, que atendeu ao pedido. Tudo ia bem, mas ao completar três meses de gestão ocorreu o golpe de Estado de 1º de abril de 1964, que depôs o presidente João Goulart.
Ozires não temia incômodos, pois foi eleito pela UDN, partido que conspirou para deflagrar o golpe, e governou os quatro anos. Mesmo sofrendo agitações promovidas por adversários ansiosos para desestabilizá-lo, sua gestão teve um caráter histórico excepcional.
Em 1965 foi inaugurada a Ponte da Amizade, com as presenças dos presidentes do Brasil e Paraguai, generais Humberto Castelo Branco e Alfredo Stroessner. Ozíres aproveitou a presença do presidente para pedir a construção do novo aeroporto de Foz do Iguaçu.
“Mostrei a ele a necessidade de construir em Foz do Iguaçu um moderno aeroporto, com o argumento de que assim o turismo deslancharia aqui na fronteira. O presidente concordou, prometeu fazer e fez”.
Ao fim do mandato, em 1968, por ser área de fronteira o novo regime descartou eleições em Foz do Iguaçu. Ozíres recebeu então um ano extra de mandato, mas seu período extra de prefeito nomeado não foi fácil.
“Qualquer fofoca contra um político diante dos militares podia levar à ruína”, recordou Ozíres. “E eu, jovem e idealista, tinha forte oposição dos que controlavam o poder econômico da cidade – os madeireiros e exportadores ou contrabandistas de café, a elite da época aqui”.
“Tramaram de todas as formas contra mim. Dos nove vereadores, fiquei com o apoio de apenas um. Queriam me cassar. Era taxado de comunista, acusado de cometer irregularidades. Mas, como eram covardes, foram me denunciar aos militares e pedir que me cassassem”.
Atendendo às pressões, o governador do Estado, Paulo Pimentel, chamou Ozíres ao Palácio Iguaçu e lhe pediu para renunciar. “Eu recusei terminantemente e Pimentel me expulsou do Palácio”.
“Certo dia, o coronel Pérsio Ferreira chegou com a missão de interditar a Prefeitura. Disse-me: ‘Já interditamos o IBC (Instituto Brasileiro do Café) e a Receita Federal. Vamos interditar a Prefeitura também, porque as denúncias contra o senhor são graves’”.
Ozíres perguntou quem o estava denunciando e o militar disse que não podia revelar. “Muito bem, então, antes de me cassar, o senhor vai verificar se de fato eu errei e vai me dar o direito de me defender”.
A prestação de contas dos atos da Prefeitura não encontrou irregularidades. “Ao invés de ser cassado, quando terminou meu mandato fui convidado a permanecer no cargo como prefeito nomeado”.
De volta às atividades empresariais, Ozíres e o pai expandiram seus negócios imobiliários, mas, já em tempos do famigerado AI-5, que escancarou a ditadura abertamente no país, em novembro de 1969 a Polícia Federal recebeu uma volumosa delação segundo a qual nas margens do Rio Iguaçu agiam “grupos subversivos” que contrabandeavam armas pela fronteira.
A concentração de tais grupos seria a localidade de Aparecida do Oeste, futura cidade de Capitão Leônidas Marques. Alguns dos acusados eram o coronel Aroldo Cruz, da Polícia Militar, o vereador José de Oliveira, de Cascavel, o coletor estadual José Pacheco, membros da família Dalcanale, a colonizadora Sinop (Formosa do Oeste), a companhia Pinho e Terras e o juiz Sydney Zappa (https://x.gd/DkRJf).
O ex-prefeito Ozíres Santos fazia parte da lista e vários denunciados foram presos, mas as investigações esclareceram que se tratava de uma das peças caluniosas tão comuns na época, sem informações concretas nem provas sobre as supostas ações dos delatados.
O pai Tarquínio morreu em 1979 e em 1984, já com o país vivendo os momentos finais da ditadura, Ozíres ingressou na construção naval e na navegação, dividindo suas atividades empresariais entre Cascavel e Foz do Iguaçu. Casado com Luzia Rosa Santos, teve um filho: Tibério Fabian Santos. Morreu em Curitiba, em 24 de junho de 2013.
Esta revelação põe fim às controvérsias entre historiadores a respeito da Coluna Prestes. Para alguns, ela só se forma a partir de abril de 1925, quando os rebeldes gaúchos se unem às forças paulistas e partem de Foz do Iguaçu para sua jornada invicta pelo país.
Bem antes, em 7 de março de 1925, o general Cândido Rondon, comandante das forças governistas que combatiam os militares rebeldes, enviou telegrama de Guarapuava ao governador gaúcho Borges de Medeiros no qual já qualifica de “Coluna Prestes” a resistência militar ao governo conservador de Artur Bernardes:
“Cumpre-me informar a V.Ex. que o destacamento do deputado [Firmino] Paim continua em pertinaz perseguição da coluna Prestes, cuja vanguarda engajou fogo com a coluna gaúcha nas proximidades de Clevelândia, de onde vem sendo levada de roldão para Barracão” (Jornal A Noite, 20/3/1925).
No telegrama ao governador gaúcho, Rondon também informa que no dia 5, a cerca de 90 quilômetros de Clevelândia, a vanguarda de Paim travou luta com a retaguarda das forças comandadas por Siqueira Campos: “A luta durou 40 minutos. Os rebeldes foram desalojados das trincheiras por uma carga de baioneta, do 32º corpo”.