Um gigantesco vazamento de óleo diesel atingiu o Rio Cascavel em 11 de março de 2001. Cerca de 8 mil litros do combustível da companhia Ipiranga armazenados no Auto Posto Pegoraro desceram para o leito do curso d’água que dá nome à cidade e ao Município de Cascavel.
As providências imediatas para conter os danos foram tomadas e um debate sobre como evitar futuras ocorrências prejudiciais às nascentes e ao Rio Cascavel resultou em maio na criação do Conselho Municipal do Meio Ambiente.
Interessante lembrar que em 2010 o World Plumbing Council, organização que incentiva soluções para o abastecimento de água, instituiu esse mesmo dia 11 de março como Dia Mundial do Encanamento.
A solução proposta para prevenir desastres ambientais no lago foi um megaprojeto que previa a desapropriação de 163.769,11 hectares, inclusive a área hoje ocupada pelo Shopping Catuaí.
Engolido pelas festas de final de ano, o decreto 5.734, de 21 de dezembro de 2002, assinado pelo prefeito Edgar Bueno, secretário Roberto Aoki (Planejamento) e Kennedy Machado (procurador jurídico), determinava a desapropriação de áreas de interesse ambiental pertencentes à Construtora Dino Vitti, ProOeste, Comisa e famílias tradicionais de Cascavel.
O projeto foi abandonado sob a alegação de faltar dinheiro para as indenizações. Nada convincente, considerando futuras “revitalizações” caras e sem grande benefício ambiental.
Os desastres, entretanto, não ocorreram por falta de aviso. Em janeiro de 1990, aproveitando a redemocratização trazida pela Carta Magna de 1988, o prefeito em exercício Hostílio Lustosa sancionou a lei 2.108/90, estipulando regras rigorosas para a proteção dos fundos de vale entre as normas de zoneamento e uso do solo urbano.
Nessa época, o secretário do Planejamento era o arquiteto Nelson Nastás, que depois também participaria da solução central que foi a criação do lago municipal.
Decorrente do rigor imposto pela lei 2.108, o prefeito Salazar Barreiros, o secretário da Administração, Gilberto Gonzaga, o da Agricultura e Meio Ambiente, Gernot Stalke, e do Planejamento e Desenvolvimento Urbano, Ricardo Mion, decretaram medidas urgentes para proteger o Rio Cascavel contidas no decreto 3.415, de 12 de junho de 1992, que criou a Área de Proteção Ambiental (APA) Rio Cascavel.
A Prefeitura tinha em perspectiva a necessidade de proteger as nascentes do Rio Cascavel pelo menos desde 1963, quando o prefeito Octacílio Mion integrou o Município ao Fundo de Água e Esgoto do Estado.
Mion assumiu o Município em cima das cinzas da Prefeitura, em 1961, e de imediato o rápido crescimento da cidade, por conta da riqueza trazida pela madeira levada à construção de Brasília, multiplicou as exigências pela ampliação da rede de água.
Desde que a cidade passou a crescer rapidamente nos anos 1960, portanto, já havia preocupação quanto à proteção da bacia do Rio Cascavel devido à sua localização na área urbana e a presença da rodovia federal BR-277 que “em caso de acidentes com cargas perigosas, pode comprometer o abastecimento de água de Cascavel” (Gladis Aparecida Sandi Tosin, https://x.gd/yRjJb).
Em 1966, já na gestão do prefeito Odilon Reinhardt, foi criado o Serviço de Água e Esgoto, de caráter autônomo, que agiria em conjunto com a Sanepar. Decorreu daí a criação do reservatório elevado junto ao Colégio Eleodoro Ébano Pereira. Foi importante, mas Cascavel explodiu. A população saltou de 5.274 habitantes na zona urbana em 1960 para 34.961 moradores uma década depois.
A solução para esse problema já crônico estava presente desde que a primeira família – Elias/Schiels – veio se fixar nas duas margens do Rio Cascavel, em setembro de 1922. A solução era o rio. Represá-lo permitiria criar o reservatório ideal: o lago artificial que forneceria dois terços da água a ser consumida pela população.
O primeiro movimento concreto nesse rumo foi o Projeto CURA (Comunidade Urbana de Recuperação Acelerada), programa do extinto BNH. Em agosto de 1974, na gestão Pedro Muffato, a Prefeitura firmou convênio com o BNH mirando a formação do lago para ser um reservatório para o futuro abastecimento d’água da metrópole que se projetava em decorrência do boom agrícola.
As desapropriações necessárias começaram em 1975 e terminaram em 1980. Importante observar que até essa altura não havia exigências ambientais, como relatórios EIA ou RIMA. O planejamento, embora tecnicamente adequado, não chegava a compreender a necessidade de proteger não só o Rio Cascavel como também suas dezenas de afluentes, dos quais alguns dos mais conhecidos pela população cascavelense são o Rio da Paz e o arroio Coati Chico.
Quando assumiu, em 1977, o prefeito Jacy Scanagatta contratou a elaboração de um Plano Diretor junto ao escritório do arquiteto Jaime Lerner, executado pelo engenheiro Cássio Taniguchi. Lerner, ex-prefeito de Curitiba, depois seria governador, e Taniguchi, prefeito de Curitiba. Além do aspecto utilitário de reservatório de água, Lerner remodelou o projeto com os itens de preservação ambiental e lazer
Em 1978 a equipe técnica da Secretaria Municipal de Planejamento montou o projeto geral que resultaria na barragem, a ser executada de forma a servir de suporte para ligação entre os bairros sul, com a previsão de inundar uma área de 41,12 hectares.
É obrigatório lembrar a lucidez dos técnicos que bolaram o reservatório de água: o economista Moacir Pereira Borges, secretário municipal do Planejamento, a arquiteta Solange Smolarek e seu colega Nelson Nabih Nastás.
Nas margens do lago foi preservada uma área de amenização que veio a formar o Parque Danilo Galafassi. Acreditava-se que todos os cuidados para a proteção do Rio Cascavel estavam tomados, mas entre as leis e os projetos está a dura realidade da situação difícil do país na época.
Veio a Década Perdida da ditadura – basicamente os anos 1980 –, mas o desenvolvimento acelerado de Cascavel e o planejamento cuidadoso garantiram a sequência das obras do lago, que se completaram em 1984. Tinha a profundidade de cerca de 10m e o reservatório contendo mais de 450 milhões de metros cúbicos de água.
O desastre de 2001 e o árduo trabalho de recuperação resultou na imposição de mapear todas as nascentes do Rio Cascavel, segundo o ambientalista Adelar Valdameri situadas nos bairros Pacaembu, São Cristóvão, Cascavel Velho e Maria Luiza, trabalho concluído em 2003.
Foram identificadas por GPS e determinadas com precisão no mapa da cidade os locais de 355 nascentes localizadas no perímetro urbano.
“Do total de minas e nascentes cadastradas na região, 269 estão localizadas na bacia do Rio Cascavel, principal manancial de abastecimento da cidade. Deste total, 47 nascem em área militar e apresentam melhores condições de conservação” (Mariana Guerin, Folha de Londrina, 9/11/2003).
Todos os avisos de que novos desastres ambientais poderiam ocorrer a qualquer momento se perderam no passado quando, dez anos depois do acidente de 2001, em 19 de fevereiro de 2011, ocorre o segundo megadesastre ambiental no lago, atingido por três mil litros de óleo após a colisão entre dois caminhões, deixando 150 mil pessoas sem água.
Como se não bastasse, na tarde de 16 de maio um vazamento aparentemente acidental de emulsão asfáltica desceu de um caminhão tanque no quilômetro 591, poluindo o arroio Coati Chico, sem alcançar o Rio Cascavel e, portanto, sem afetar a captação de água.
Curiosamente, Paulo Gustavo Gorski, político de destaque regional e estadual, foi identificado como um dos donos da empresa que por acidente deixou escapar material poluente para a bacia do Rio Cascavel.
Ele é filho o patriarca Paulo Gorski, nome do Parque Ecológico que compreende as nascentes do Rio Cascavel, o Zoológico e o Lago Municipal.
Sem os cuidados necessários será fácil a qualquer um pôr em risco áreas tão sensíveis quanto ameaçadas. Os avisos foram muitos, mas as soluções vieram a conta-gotas.
Em Barracão, sabendo da aproximação por dois caminhos diferentes dos contingentes legalistas de Claudino Nunes Pereira e de Firmino Paim Filho, o comandante Luiz Carlos Prestes ordena a retirada dos revolucionários de Barracão rumo ao Norte, para atravessar o Rio Iguaçu.
“Ao anoitecer do dia 24 de março, simula um avanço do 1º Destacamento, sobre a coluna que vinha do Sul, obrigando-a a fixar-se à espera do ataque, na localidade denominada Maria Preta. Em seguida retira-se, sem permitir que a manobra seja detectada. Na escuridão da noite, as duas colunas governistas acabaram por se chocar, passando a trocar tiros entre si. Só na madrugada puderam verificar que o fogo amigo provocara 200 baixas” (Sérgio Rubens de Araújo Torres, Nas Barrancas do Rio Paraná).
“Durante a madrugada, os rebeldes atraem as forças inimigas para um lugarejo conhecido como Maria Preta, às margens do Rio Santo Antônio, na fronteira com a Argentina. Assim que as tropas legalistas estão bem próximas, eles se afastam sem ser percebidos; os dois batalhões ficam frente a frente.
“Os homens do coronel Claudino e de Firmino Paim, perdidos na escuridão, começam a atirar, passam a madrugada inteira trocando tiros. Só ao amanhecer, quando os rebeldes já estão longe, eles percebem que combatiam entre si.
“O número de baixas, em pouco mais de quatro horas de encarniçados combates, é surpreendente: cerca de 200 homens abatidos dos dois lados”.