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O militar e a professorinha

Genoveva, ainda menina, era a superprofessora de quatro turmas. Até um jovem da Força Aérea se apaixonar por ela 

Por: Time de redação Fonte: Alceu Sperança
13/04/2025 às 09h08
O militar e a professorinha
Genoveva Boiarski em três épocas: casada com o aeronauta José Severino, professorinha e aposentada 

Poloneses, Ladislaw Boiarski e Watislava Gadonski se conheceram no navio que trouxe suas famílias ao Brasil. Ao descer em terra firme logo se casaram para ter uma prole de cinco filhos brasileiros. Genoveva era a terceira, nascida em 13 de abril de 1919, em Irati (PR). Ela estava destinada a ser a primeira professora de Cascavel. 

Ladislaw se deu bem em Irati, onde tinha um depósito de madeiras, mas a mãe havia herdado terras na Polônia e insistiu em voltar. Vendendo o que tinha no Brasil em 1924 para retornar à Europa, a família Boiarski embarcou tendo como destino o povoado de Bertos, nos arredores da capital polonesa, Varsóvia.

Em precioso depoimento a Levi Soares, no qual narrou o início da história urbana de Cascavel, Genoveva contou que na ida à Europa estava com cinco anos e a jornada foi decepcionante: a herança que os pais esperavam foi roubada.
Construtor habilidoso, Ladislaw passou a construir casas e vender para recomeçar seu patrimônio, além de trabalhar em uma fábrica de bondes no estofamento dos bancos.

Doença e retorno 

Na capital polonesa, a pequena Genoveva recebeu a primeira formação educacional em um bom colégio de freiras, mas todos queriam voltar para o Brasil. 

Depois de sete anos na Polônia, Ladislaw já conseguia acumular um razoável patrimônio quando foi acometido de maleita. “Aquela doença foi um suplício, ele urrava e queria sair da cama”, lembrou Genoveva. 

Quando melhorou, em 1931, o cunhado João propôs que a família fosse trabalhar na fazenda dele, em Catanduvas. A viagem de volta, em um navio italiano bem abastecido, foram onze dias de festa para as crianças.  

Os Boiarski de fato foram para a fazenda do tio João, em Catanduvas, mas um fator novo mudou os planos: a Marcha para o Oeste. Hábil carpinteiro e marceneiro, Ladislaw foi chamado a construir uma casa em uma vila próxima. Era Cascavel. 

Ganhando clientes no lugar, para onde várias famílias eslavas se dirigiam pela facilidade de obter terras, Ladislaw foi construindo casas em troca de uma vaca ou cavalo a cada obra. 

Do rural ao urbano 

Cascavel logo passou a render bom dinheiro aos cascavelenses, o que levou o pai de Genoveva a pensar em se estabelecer no espaço urbano. “Vamos embora para Cascavel, porque aqui em Catanduvas não está dando muito certo, quero ir embora pra lá”, dizia à família. 

“Naquele tempo não se chamava Cascavel, era Aparecida dos Portos. Foi papai quem construiu a casa de Jeca Silvério, que morava numa cabana”.

Ao rezar missa na pequena Cascavel, o prelado de Foz do Iguaçu, monsenhor Guilherme Thiletzek, que era polonês, visitou a família.

“Ele ia sempre lá em casa e viu que eu e a minha irmã estávamos abandonadas, porque em Cascavel não tinha condições de estudar e foi assim que ele se ofereceu para levar-nos para o colégio em Guarapuava”.

Genoveva, já com 13 anos, foi matriculada no Colégio Nossa Senhora de Belém, mantido por freiras alemãs em regime de internato. “Os primeiros poloneses de Cascavel só falavam polonês, então quando fomos estudar não falávamos bem o Português, mas aprendemos rápido. Eu fiquei lá até fazer o Curso Normal Regional”. 

“A gente ia e voltava a Guarapuava de carroça. Uma carroça enorme puxada por oito cavalos. Às vezes levávamos de cinco a sete dias para chegar”. 

“Tudo era feito a mão”

“Cascavel era uma vilazinha quase perdida no meio da mata virgem, com luz só de lampião a querosene. Quando chegamos a Cascavel só existia a venda [armazém] do Aníbal [Lopes da Silva] e depois abriram a outra, do Chico [Francisco] Bartnik”.

O transporte era todo em carroças. A maior parte das mercadorias vinha de Guarapuava e de Laranjeiras do Sul. Ladislaw levava produtos da região para Guarapuava e lá fazia as compras para a casa.

“A vida era difícil. Tinha que lutar, trabalhar bastante porque não tinha quem fizesse as coisas. Era tudo mato natural. Pra fazer as casas, tinham que derrubar os pinheiros, partir, fazer as tábuas, tanto para as paredes como para o telhado. Era o papai e o meu irmão Wadeco quem fazia.

Eles tinham todas as espécies de ferramentas manuais e serrotes etc. Tudo era feito a mão”.

Com 16 anos, em 1935, chamada pelo líder da vila, Jeca Silvério, Genoveva passou a lecionar. Improvisada desde 1931 em um pequeno rancho de pinho lascado, a escolinha recebeu o primeiro professor, Inácio Ramos, que veio de Foz do Iguaçu. Genoveva, portanto, foi a primeira professora de Cascavel.

Jeca Silvério, líder inconteste 

“Comecei a lecionar num cubículo de uma casinha onde um senhor [Inácio Ramos] entregou em minhas mãos umas folhinhas, aí então tomei conta. Depois fomos para a capela de Nossa Senhora Aparecida e dei aulas naquela pequena capelinha até construírem o novo grupo”.
Lecionava para todas as séries, da 1ª até a 4ª. “Os livros, os cadernos, tudo era com o Jeca. Era ele quem providenciava tudo. Ele era o manda-chuva. Tudo dependia dele, tanto é que era ele quem me pagava”. 

Enquanto Genoveva repartia as turmas com outro professor, Orozendo Cordeiro de Jesus, o grupo escolar estadual era construído na esquina da Avenida Brasil com a futura Rua Pio XII.

Então o Correio Aéreo Nacional criou um posto em Cascavel. Ladislaw construiu a casa da estação radiotelegráfica e a moradia do primeiro militar a servir em Cascavel, o jovem radiotelegrafista José Severino da Silva. 

“Ele trabalhava na estação de rádio da aviação. Foi assim que nós nos conhecemos. A primeira vez que o vi ele desceu de um avião. Todo mundo foi ver o primeiro avião que desceu lá no campo de aviação e eu também fui. Nessa época descia um avião uma ou duas vezes por mês.

O interessante foi que assim que ele desceu do avião, ele me notou e eu o notei”.

Namoro e grupo escolar

Severino coordenava os pousos dos aviões do Correio Aéreo. “Ele avisava se podia pousar, se tinha algum impedimento no campo de aviação. Ali passavam cavalos, carroças, passava de tudo. Havia o guarda-campo que cuidava da área”.

“Ele ficou morando e trabalhando em Cascavel e eu dando aulas. Quando eu ia pra casa, tinha que passar perto da casa dele. A primeira vez ele ficou me olhando e fui embora. Dali uns dias ele desceu, ficou sentadinho na beira da estrada debaixo de uma árvore lendo umas revistas”.

Conversaram e o aviador se queixou da falta de livros e revistas. As que estava lendo foram trazidas pelos aviadores. “Então todos os dias eu passava em frente e ele sempre estava por ali. Um dia ele deu uns passos pra frente e foi me acompanhando pelo caminho e aí o namoro firmou”.

Quase ao mesmo tempo as obras do grupo escolar foram terminadas e Genoveva organizou a festa de inauguração com a ajuda do namorado José Severino, já plenamente integrado à comunidade.

“Fui eu que recebi e inaugurei a escola com os meus alunos e fiquei trabalhando lá até me casar. A inauguração da escola foi muito bonita. Eu era solteira e o meu namorado me ajudou. Ele tocava violão, as meninas cantavam muito bem, a minha irmã Stacha tinha a voz muito bonita.

Então nós fizemos assim uma espécie de teatro, com palco e tudo”.

Guaíra e Nordeste

Inaugurando o grupo escolar aos 17 anos, Genoveva distribuía tarefas. “Eu quase que não dava conta com aquilo. Terminava as aulas, eu pedia para os meus alunos varrerem a classe e deixá-la pronta para o dia seguinte, porque naquele tempo não tinha zeladora. Eu escolhia os maiores, um dia um, um dia outro, e eles limpavam o salão”.

Genoveva e José Severino decidiram se casar em 3 de novembro de 1938. “A gente teve que ir a Foz do Iguaçu buscar o padre monsenhor Guilherme Maria [Thiletzek] a cavalo pra vir a Cascavel realizar meu casamento. Então o meu esposo José Severino da Silva não queria mais que eu lecionasse e aí deixei a escola”. 

Mais dois fatos novos viriam para Genoveva: a primeira gravidez e a transferência de Silva para Guaíra, onde ele abriu a agência radiotelegráfica para a Aeronáutica, tal como havia feito em Cascavel.

“Os aviões desciam e ele tinha muito trabalho com isso. Em Guaíra não tinha restaurante, nada, e a gente dava o almoço e janta aos pilotos, que dormiam lá em casa. Às vezes os pilotos traziam um baralho e a noite transcorria alegre”.

O casal teve duas filhas, Neide e Neusa. Genoveva morreu em 3 de julho de 2020, com 101 anos, em Curitiba, depois de viver longo tempo em Pernambuco, terra natal de Severino.

100 anos da revolução: Rendição pela metade

 “Estillac Leal e mais alguns oficiais e praças, conseguiram fugir de noite, através das linhas inimigas. Após a queda de Catanduvas, Juarez Távora recebeu ordens do general Miguel Costa para cobrir, juntamente com o Batalhão Cabanas, a retirada dos revolucionários no eixo Catanduvas-Cascavel-Benjamin-Foz do Iguaçu” ( Ruy C. Wachowicz).

Escaparam apenas o QG e os elementos que se encontravam na região de Rio do Salto e no flanco Norte em Campanário.

“[...] Foi aí que eu tirei Estillac Leal, Filinto Müller, Nelson de Mello e o Távora e levei para o Paraguai. [...] As forças do Governo estavam na Fazenda dos Gomes e no Rio Tormenta brigando com a tropa de João Cabanas e numa noite eu e o tenente Domingos viemos de Catanduvas a pé, até o Rio Tormentinha, para ver se havia inimigos ali. Não tinha ninguém. 

“Paralelamente ao Rio Tormentinha havia uma picada que saía na Linha Velha. Quando constatamos que não havia ninguém voltamos ligeiro e avisamos o pessoal: ‘Vamos embora, que dá pra gente sair’. E foi isso que aconteceu: quando clareou o dia, nós saímos na Linha Velha. De lá varamos até Foz do Iguaçu” (Eduardo Agostini, depoimento ao jornal Hoje/Cascavel).

Eduardo Agostini, pioneiro de Santa Tereza, guiou rebeldes derrotados em Catanduvas até Foz do Iguaçu

 

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Alceu Sperança
Alceu Sperança
Jornalista e escritor.
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