Uma obra previamente estimada em meio bilhão de reais, mas que não consta em nenhum dos lotes do novo modelo de concessão do pedágio no Paraná que passam pelo oeste do Paraná – os lotes 5 e 6 – vem sendo tratada como prioridade na mesa de debate e negociações entre o setor produtivo regional, autoridades políticas e o governo do Paraná, mas pode travar por falta de projeto.
“O Contorno Norte da cidade é uma obra essencial para o desenvolvimento pensando numa região, em um oeste para o futuro, dos próximos dez, 20 anos. Trazer mais mobilidade e retirar o fluxo intenso de veículos da cidade ligando importantes rodovias é essencial para promover esse desenvolvimento”, destaca o presidente do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD), Alci Rotta Junior.
O debate sobre a obra do Contorno Norte de Cascavel não é recente e se arrasta há anos, mas vem ganhando força como uma das principais prioridades para o crescimento planejado e sustentável da cidade. A proposta pretende criar uma rota alternativa ao tráfego pesado que hoje cruza a área urbana sentido a BR-277, e mobiliza líderes da sociedade civil e do poder público em torno de um objetivo comum: tirar o projeto do papel e garantir sua execução.
Neste momento o debate está focado na elaboração do projeto e os custos dele. Não se sabe de onde sairá a verba, também milionária.
Durante encontro promovido pela Coordenadoria de Desenvolvimento Econômico Sustentável (Codesc), representantes de 65 entidades — entre elas a Associação Comercial e Industrial de Cascavel (Acic), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Instituto de Planejamento de Cascavel (IPC), da Câmara Municipal, da prefeitura entre outros tantos, houve consenso para definir estratégias que garantam recursos e viabilizem a obra. A proposta foi aprovada por unanimidade.
O Contorno Norte foi escolhido por sua viabilidade técnica e menor complexidade de execução, além da conexão estratégica com importantes rodovias, como a BR-369, BR-163, PR-467 e PR-180, desembocando na região próxima ao hotel do Sesc, não muito distante da Ferroeste em Cascavel, na BR-277.
Além de melhorar o tráfego e a segurança viária, o novo contorno é visto como um investimento que pode impulsionar a competitividade econômica da cidade, favorecendo a logística e atraindo novos empreendimentos. Para isso, a mobilização conjunta da sociedade e do setor público é apontada como fator essencial, nos moldes do que ocorreu com o Trevo Cataratas. Neste caso, graças a junção de esforços e consenso regional, cerca de R$ 100 milhões vindos do acordo de leniência firmado entre a concessionária que administrava o pedágio no antigo modelo de concessão e a Força Tarefa da Lava Jato, as verbas foram destinadas à obra. O Trevo Cataratas era um dos mais importantes gargalos logísticos do país.
As tratativas para o Contorno Norte ainda estão em fase inicial, mas há consenso que poder público, sociedade civil organizada e setor produzido precisam correr contra o tempo.
O deputado estadual Gugu Bueno tem sido um dos interlocutores com o governo do Estado para liberação dos recursos. Enquanto isso, estão sendo realizadas sob coordenação do Codesc e outras entidades parceiras, simulações de traçado e definição de áreas a serem desapropriadas.
O próximo passo é a contratação do Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA), que será determinante para a captação de recursos e planejamento da obra.
O Contorno Norte aparece não apenas como uma solução de mobilidade, mas como uma visão de longo prazo para o futuro de Cascavel e região que crescem com organização, estratégia e participação coletiva.
A sinalização do Estado para aporte de recursos à obra animou o setor produtivo. Segundo o presidente do Codesc, Ricardo Lora, o objetivo é fazer a interligação das rodovias, com uma ligação com o já existente Contorno Oeste, garantindo maior fluidez e trafego.
Somente o projeto deverá custar cerca de R$ 5 milhões.
Segundo o prefeito Renato Silva, esse recurso não está hoje disponível no orçamento do Município. Por outro lado, Silva quer garantias de liberação dos recursos do Estado para a obra para destinação das verbas aos estudos que levam ao projeto. A falta de projeto aparece hoje como o principal, senão, o maior entrave para viabilizar a estrutura que pode contar com a verba milionária do Estado. O Governo do Paraná, apesar de ter sinalizado para destinação dos recursos, ainda não formalizou a intenção. Renato Silva deverá se reunir com o governador Carlos Massa Ratinho Junior nos próximos dias para tratar do assunto.
Representantes da sociedade civil e do setor produtivo lembram que 2026 é ano eleitoral e muitas ações envolvendo o poder público estadual e federal ficam vetadas, como liberação de recursos específicos que podem caracterizar ações eleitorais e licitações envolvendo esses entes.
A estrutura deverá receber um fluxo diário de pelo menos oito mil veículos, dos quais quase metade corresponde a veículos pesados.
O presidente do Codesc lembra que a validação em consenso entre as entidades demonstra a necessidade do Contorno Norte. “Esta obra é um marco para a mobilidade urbana e o fortalecimento da economia local. Agora, precisamos unir esforços para garantir que ela se torne realidade, buscando viabilidade técnica e política para sua execução”, alerta Lora.