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Xiquinho, o sequestrador       

Comprou árbitros de futebol, inventou a celebração do porco no rolete e era um político “melancia” 

Por: Time de redação Fonte: Alceu Sperança
27/04/2025 às 09h50
Xiquinho, o sequestrador       
 Xiquinho Zimmermann e os destroços do avião: a obsessão de chegar sempre em primeiro lugar 

Em 16 de junho de 1958, quando o primeiro grande acidente aéreo do Paraná vitimou o então senador e ministro da Justiça Nereu de Oliveira Ramos e o governador de Santa Catarina, Jorge Lacerda, um ousado repórter foi acusado de sequestrar um dos seis sobreviventes da tragédia para assim obter matéria exclusiva – um furo nacional, pelo nível das autoridades envolvidas.

Nereu Ramos desenvolvia uma carreira brilhante e não faltava quem apostasse nele para ser o próximo presidente da República ou primeiro-ministro, no parlamentarismo. Aliás, havia assumido a Presidência interinamente, entre novembro de 1955 e janeiro de 1956, dando posse a Juscelino Kubitschek, que acabara de vencer uma tentativa de golpe de Estado. 

O repórter, Osmar “Xiquinho” Zimmermann, foi comunicado do acidente e rapidamente se dirigiu ao local, sendo o primeiro a entrar em contato com um sobrevivente dos 24 relacionados entre tripulantes e passageiros. 

Controle do aeroporto não autorizou

O avião em que Ramos viajava, o Convair 440, da Cruzeiro do Sul, prefixo PP-CEP, partiu de Porto Alegre com destino ao Rio de Janeiro e fez escala em Florianópolis antes de cair no Capão do Cerrado, perto da Colônia Muricy, na região de São José dos Pinhais (PR), a 30 km de Curitiba. 

Os ventos e a forte chuva daquela tarde atingiram o avião. Já quase noite, às 17h55, o comandante Licínio Correia Dias requereu pouso de emergência ao Aeroporto Affonso Pena, mas não foi autorizado. Conseguiu se manter no ar até as 18h55, quando despencou. 

No dia seguinte o jornal O Estado do Paraná noticiou:

“Curitiba, na tarde de ontem, viveu a dolorosa sensação de uma tremenda catástrofe aérea, pois, pela primeira vez, um grande avião de passageiros aqui encontrou o seu trágico fim”.

Naquela noite, assim que a notícia da queda do avião chegou à redação, comunicada pelo sobrevivente Orestes José de Souza, de Curitibanos (SC), o repórter Osmar Zimmermann correu para encontrá-lo e o levou para o jornal.  

Os jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná deram, em manchetes: “Em nossa redação um dos sobreviventes!”

“Senti um choque”

A façanha, contou Dante Mendonça em 2008 no próprio jornal O Estado do Paraná, foi considerada como o sequestro do sobrevivente Orestes de Souza, que narrou a tragédia ao repórter Osmar Zimmermann.

“Poucos minutos antes do acidente, o deputado Leoberto Leal passou por mim e disse que estranhava a demora”, contou Orestes. “Em seguida, foi sentar-se junto ao senador Nereu Ramos, que viajava na frente, próximo ao governador Lacerda”.

“Tinha muita cerração, nenhuma visibilidade. Senti um choque. Deu a impressão que o avião se encolhia. Ouvi muito gritos de desespero, pedidos de socorro, na escuridão alguém dizia para não acender fósforos para não provocar explosão. Cinco saíram antes de mim, fui o último a sair dos destroços”.

Orestes perdeu o relógio e andou um quilômetro e meio, sob chuva e ventania, até encontrar uma casa de onde telefonou para informar a tragédia. Um táxi foi apanhá-lo e nele estava o repórter Xiquinho Zimmermann.

Enquanto isso as emissoras de rádio e os jornais incluíam Orestes entre os mortos, erro que se chama na imprensa de “barriga”. A vingança dos concorrentes foi acusar Xiquinho de sequestrar o sobrevivente para o esconder da imprensa nacional.

“Depois de garantido o furo de reportagem”, contou Dante Mendonça, “a vítima foi hospedada no Hotel Ferroviário, na Avenida Barão do Rio Branco, próximo ao jornal”.   

Desafiando as mulheres

Nascido em Curitiba a 17 de abril de 1929, em uma família de gráficos, Osmar Zimmermann começou a trabalhar na Editora O Estado do Paraná como linotipista, passando a diagramador e depois repórter.

Em 1967, promovido a chefe da sucursal Oeste do jornal, Osmar, que recebeu o apelido de “Xiquinho”, veio para Cascavel. Na verdade, trabalharia sobretudo como relações públicas do Grupo Paulo Pimentel.

Administrando e sem perder o faro de repórter, empregou vários “focas”, jornalistas que iniciavam carreira. Xiquinho logo se integrou às atividades da cidade, sobretudo na área esportiva, colaborando ativamente com a Liga Regional de Futebol e com as equipes que representavam Cascavel nas divisões classificatória e principal do Campeonato Paranaense de Futebol.

Apoiou também o automobilismo. Por brincadeira, desafiou as mulheres cascavelenses, tão críticas dos homens ao volante, a participar de uma prova automobilística exclusivamente para mulheres. 

Múltiplas atuações

Luiz Picoli agarrou a ideia no ar e tratou de programar a corrida feminina. Para organizá-la, contrariou todas as normas de segurança e outros impedimentos de ordem legal. O que lhe interessava é que uma corrida de mulheres atraía as atenções. 

A prova foi o que o próprio Xiquinho imaginava de uma corrida feminina: muitas emoções e acidentes (https://x.gd/ZQRIe). 

Também presidiu por vários anos a Liga Regional de Futebol de Salão. Em sua gestão, o futsal alcançou um grau de altíssima qualidade técnica e organizativa.

Um de seus feitos foi incentivar a promoção da primeira Festa do Porco Assado no Rolete, realizada em 28 de julho de 1974 em Toledo. Ele, aliás, fez parte da comissão julgadora, ao lado de personalidades como o vice-prefeito Lamartine Braga Cortes e Egydio Munaretto (Frigobrás/Sadia). 

Outra contribuição de Osmar Xiquinho Zimmermann foi patrocinar o primeiro livro sobre a história de Cascavel – um enorme volume comemorativo com o tamanho de um jornal tabloide, com capa dura, impresso na Gráfica Requião, em Curitiba, com textos de Celso Formighieri Sperança, seu grande amigo das peladas de futebol em Curitiba na tenra juventude. 

Política: diplomacia e “melancia”   

A participação comunitária de Xiquinho era tão intensa que ele não teve como fugir ao convite para concorrer à Câmara Municipal nas eleições de 1976. 

Integrado à Arena, foi eleito com 974 votos. A legislatura 1977-82 foi muito polêmica e agressiva, a exemplo do embate recente entre bolsonaristas e lulistas. Atualmente o Centrão domina totalmente a Câmara de Cascavel, mas na época havia uma feroz divisão da sociedade e intensa disputa entre a Arena ditatorial e o MDB, ajuntamento de todas as oposições à ditadura.

Xiquinho foi eleito pela Arena, mas votava com o MDB em projetos de interesse geral. Como um político “melancia” (verde por fora e vermelho por dentro), ele sempre tratava de pôr panos quentes nos atritos entre vereadores dos dois partidos, com diplomacia, diálogo e colocando seu corpanzil à frente dos antagonistas para que não brigassem. 

Como legislador, seus projetos abrangeram desde a área esportiva até o meio ambiente e a educação. Aliás, não houve setor da vida municipal com a qual Xiquinho não se envolvesse nem se empenhasse em resolver problemas, inclusive advertindo para a necessidade de proteger a mata original, recomendando uma política de reflorestamento. 

Com a morte do jornalista Celso Formighieri Sperança, em 1977, Xiquinho, ao lado dos vereadores Marcos Formighieri e José de Oliveira, fez aprovar imediatamente, já em abril, a concessão de seu nome para o Museu Histórico. 

Estratégia de campeão

Xiquinho Zimmermann também foi um dos combatentes mais aguerridos nos bastidores na campanha vitoriosa do Cascavel Esporte Clube, que obteve em 1980 o título inédito de campeão paranaense de futebol da Primeira Divisão. 

Na época, em Curitiba, ele chegou a ser acusado de “comprar” alguns resultados para o clube cascavelense junto aos árbitros da Federação Paranaense de Futebol. Sem confirmar nem negar, sua versão foi que apenas conversava com os árbitros tentando impedir o sucesso das manobras habitualmente feitas pelos clubes da capital contra as agremiações do interior.

Casado com Julinha Zimmermann, tiveram quatro filhos: Jucelem, Juceli, Mazzo e Percival. Osmar Xiquinho Zimmermann morreu em 10 de outubro de 1991, depois de ter deixado uma vasta contribuição a Cascavel e região, especialmente nos meios esportivos, políticos e sociais.

Julinha também nasceu em Curitiba, em 24 de março de 1932. Morreu em 16 de junho de 2014. O Município de Cascavel homenageou o jornalista curitibano com o nome do ginásio de esportes do jardim Floresta, além de instituir a Medalha do Mérito Esportivo Osmar Xiquinho

Zimmermann, honraria concedida pelo Município por meio da iniciativa dos vereadores, contemplando os maiores destaques locais de todas as modalidades esportivas.

100 anos da revolução: Medo no Cascavel Velho 

Recebendo a notícia da queda de Catanduvas, o gaúcho Prestes orientou a coluna a se dirigir para a localidade de Benjamin, onde finalmente iria se encontrar com os rebeldes paulistas.

João Alberto ficou inconformado com a derrota em Catanduvas, supondo que a queda se deveu ao abandono do Estado Maior, posicionado em Foz do Iguaçu.

“Não houve nem preocupação de se preparar a junção das tropas paulistas, com a coluna que veio do Rio Grande do Sul. Nem picadas, nem jangadas, nem balsas, para ajudá-los a atravessar o Iguaçu” (Ruy C. Wachowicz).

Prestes redefiniu a missão dos gaúchos: garantir sua própria retirada para as margens do Rio Paraná e proteger quem conseguiu escapar de Catanduvas.

Assustados com a alternância da passagem de soldados rebeldes e legalistas, os familiares do patriarca Antônio José Elias, que possuía uma propriedade rural no antigo pouso ervateiro conhecido como Cascavel Velho, optaram por se esconder no mato, fora das trilhas batidas, ocultando o que podiam dos soldados famintos.

Enquanto a família se escondia no mato, os mantimentos estocados nos ranchos foram levados pelos soldados governistas.

Acampamento militar governista no Cascavel Velho, em 1925

 

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Alceu Sperança
Alceu Sperança
Jornalista e escritor.
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