Nas eleições de 1952, Cascavel e Toledo elegeram prefeitos ligados ao mesmo PTB (respectivamente José Neves Formighieri e Ernesto Dall’Oglio), mas Toledo elegeu vereadores com ligações fortes em Curitiba, enquanto os vereadores de Cascavel eram todos ligados ou à sede urbana ou ao seu grande interior.
Esse quadro favoreceu o projeto toledano de se impor como polo do Médio Oeste, cujo traço mais visível foi o plano de ação estabelecido em 1955 pelo contabilista Ondy Hélio Niederauer, oficialmente intitulado “Plano de Colonização da Maripá”, que ia além dos interesses empresariais e se confundia com a própria comunidade e o Município de Toledo.
Nesse caso, a questão suscitada entre os historiadores é por que o plano de projeção regional para Toledo foi divulgado apenas sete anos após o início da colonização, que já começou grande, incorporando a vasta Fazenda Britânia?
Em “Religião, Nomos e Utopia” (https://x.gd/L7P15), o pesquisador Frank Antonio Mezzomo, ao entrevistar Niederauer, soube por ele que o plano foi feito para ser apresentado em Londrina “num concurso promovido pelo Estado do Paraná a fim de apurar o desenvolvimento sócio-econômico empreendido pelas colonizadoras particulares”.
A comunidade definida para ser o polo regional oestino pelo governo estadual era a Cidade Munhoz da Rocha porque Toledo era o domínio de uma empresa madeireira e Cascavel vivia à sombra de conflitos sangrentos, que lhe deram má fama na época.
No livro “Histórias Venenosas” (https://x.gd/cd4Ti), Rubens Nascimento conta que o prefeito de Cascavel, José Neves Formighieri, teve muito espírito de luta e “jogo de cintura política” para impedir que o polo regional fosse mantido em Cidade Munhoz da Rocha ou desviado para Toledo.
Neves conseguiu que o Serviço Geográfico do Exército organizasse o primeiro cadastro urbano da cidade, trabalho desenvolvido a seguir pelos engenheiros Syllas e Paulo Ermel e Paulo Trauczinski, com a participação na equipe de terraplanagem do engenheiro Jorge Moniz “com os seus tratores italianos”, segundo Nascimento.
Quando a Cidade Munhoz da Rocha foi descontinuada pelo governador Adolfo de Oliveira Franco, justamente em 1955, o prefeito de Cascavel trouxe de lá, no interior do atual Município de Braganey, “os postes, transformadores e a usina termoelétrica, fazendo que assim a cidade se visse iluminada”.
O autor menciona também que o prefeito não mediu esforços para defender Cascavel, “inclusive uma vez mandando prender tratores do próprio Estado que pretendiam locar uma estrada de ligação a Toledo, mas que marginalizaria a cidade de Cascavel e o seu progresso”.
Como atestam os passos seguintes, a Cidade Munhoz morreu, mas Cascavel e Toledo se consolidaram ambas como polos do Médio Oeste, além da recuperação da importância de Guaíra como polo do Noroeste. Foz do Iguaçu deixava de ser a única referência no extremo-Oeste paranaense.
Entre 1953 e 1955 a Companhia Byington Colonização S/C Ltda abriu uma estrada ligando Xambrê a Guaíra pelo Porto Byington, onde fixou uma balsa para a travessia do Rio Piquiri, favorecendo assim a expansão dos novos projetos de colonização.
Destaca-se a importância do trabalho de João Macário ao promover o início das ações estruturais que dariam origem à cidade de Altônia.
“O que assustava um pouco a gente era a presença de jagunços, que estavam principalmente perto do Rio Piquiri e na linha entre Palotina e Terra Roxa. Assim, ainda em 1955, quando eu tive de ir a Guaíra para obter uns documentos, topei com uma turma de jagunços armados de mosquetão e metralhadora, intimaram a mim e meu companheiro Helmuth que parássemos. Fomos revistados e interrogados” (Severino Gênero, pioneiro de Palotina).
Essas novas frentes de colonização se deram no governo de Bento Munhoz da Rocha Neto, mas ele não deu sequência às iniciativas porque tentou iniciar uma carreira política nacional depois do sucesso à frente do Paraná, que, dentre outros, criou os municípios de Cascavel e Toledo.
Renunciando em fevereiro de 1955 na intenção de concorrer à vice-Presidência da República, as turbulências políticas nacional da época frustraram o projeto de Bento. Sem seu mentor, a Cidade Munhoz foi abandonada.
Bento conseguiu ser chamado ao Ministério da Agricultura pelo presidente Café Filho e a expectativa era de que o setor rural recebesse um forte impulso com a presença do paranaense no Ministério.
As condições climáticas, porém, sabotaram o anseio de Bento pela projeção nacional por conta de perdas graves decorrentes de fortes geadas, mas descontado o fracasso da Cidade Munhoz, as consequências positivas de seu governo no Paraná se multiplicaram.
Em março, a Companhia Mate Laranjeiras fez publicar no jornal “Imprensa Paulista” notícia-anúncio intitulado “Guaíra: Porta aberta do Eldorado Paranaense!” A cidade portuária foi apresentada como “metrópole em marcha” em nova publicação, em abril.
Ao mesmo tempo, apesar dos planos estadual e particular de colonização, perduram os conflitos de terras, que depois da Guerra de Porecatu, na região Norte, apresentam-se em estado latente nas regiões Oeste e Sudoeste. Mas se a agricultura padece e os conflitos agrários estão longe de acabar, a eletrificação e o planejamento estratégico avançam.
A Comissão de Planejamento Econômico do Estado (Pladep) surge para passar a limpo os projetos truncados e encaminhar soluções concretas aos problemas existentes. A chave do planejamento que vai nortear o lustro final da década de 1950 é o aproveitamento do potencial econômico e os recursos naturais do Estado.
Até a metade dos anos 1950 a propaganda sobre a região jamais mencionava a eventualidade de fortes geadas. O “general inverno”, que derrotou tantos exércitos poderosos, também abalaria o café oestino, mas nem com a forte geada de 1955 os cafeicultores desistiram.
“Veio uma geada que matou todas as mudas dentro das covas mesmo. Foi tal o frio daquele ano que gelou água na chaleira que deixamos em cima do fogão, de noite” (Bernardino Borin Filho, entrevista a padre Pedro Reginato).
O agricultor Miguel Silvino dos Santos, depois de ver sua plantação de café totalmente destruída pela geada, tentou uma saída plantando feijão.
Colheu 40 sacas: “Um comprador de cereais me contratou de ir buscar. No dia seguinte, fui combinar o preço e ele disse: ‘Miguel, eu não vou mais comprar feijão. Ninguém quer, nem de graça. Agora mesmo vou buscar um caminhão de feijão que ganhei de presente’” (Cascavel, A Justiça, https://x.gd/vNt04).
Enquanto os produtores que investiram tudo na cafeicultura lamentavam as grandes perdas, aqueles que antes deixaram a monocultura cafeeira para investir em cereais alcançaram o auge no mesmo ano.
É período conhecido como Enchente de Arroz, que traz riqueza aos produtores rurais do Norte paranaense, reportou David Arioch: “Os fazendeiros colhiam pelo menos seis mil sacas de arroz” (https://x.gd/9ViX1).
Em torno dessas circunstâncias nascia Terra Roxa, que em 1955 recebeu a primeira família de colonos, chefiada por Nilo Benigno Faya Corte, seguida por Pedro Kanerath e Sebastião Leitão.
O povoamento da região foi iniciativa da Companhia de Colonização e Desenvolvimento Rural (Codal), sob a coordenação de Lucílio de Held, que adquiriu junto ao governo do Estado extensa área de terras da Fundação Paranaense de Colonização e Imigração (https://x.gd/w8L2I).
Bento Munhoz da Rocha, portanto, perdeu a cidade com seu nome, mas diversas outras comunidades promissoras surgiram como consequência da estrutura que iniciou no interior do Estado, como quando a Colonizadora Bento Gonçalves preparou, também em 1955, o perímetro urbano de Flor da Serra. Muitas outras iniciativas logo viriam para pontilhar o Oeste com novas cidades.
O coronel Álvaro Guilherme Mariante, aproximando-se da posição rebelde em Salto, mandou a Miguel Costa recado avisando que Catanduvas havia se rendido e pedia que ele também se entregasse.
“Foi nesse momento de angustiosa expectativa, conhecendo a verdadeira situação em que se encontrava falto de recursos bélicos e rodeado por apenas alguns homens de coragem, Miguel Costa não se perturbou com a fanfarronada legalista” (Reis Perdigão, Folha da Manhã, 30/03/1925).
O general rebelde enviou a resposta por escrito: “Venham! Enquanto ao meu lado palpitar o coração de um brasileiro livre e me sobrar um cartucho, não deporei as armas da revolução!”
Admirado, o coronel Mariante não atacou. Se atacasse, talvez tivesse matado no ninho o advento da lendária Coluna Prestes.
Fortemente fustigados pela artilharia governista, as forças revolucionárias, famintas e exaustas, só se renderam depois de garantir a fuga de seus chefes.
“Cabanas consumira a noite de 30 março cuidando de 100 feridos, espalhados por vários galpões de madeira, transformados em enfermaria, na localidade conhecida como Depósito Central, nas imediações de Foz do Iguaçu, longe dos horrores do front. A maioria dos doentes, deitada em padiolas improvisadas, com partes consideráveis do corpo expostas, em carne viva, queixava-se mais da sarna do que dos ferimentos adquiridos em combate” (Domingos Meireles, As Noites das Grandes Fogueiras).
Os que escaparam ilesos de Catanduvas, passaram pelo Depósito Central da Companhia Barthe e chegaram a Foz do Iguaçu iriam empreender o mais importante movimento militar de todos os tempos: a Coluna Prestes, inspiração para a Grande Marcha chinesa.