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Robótica avança em cirurgias de hérnia pelo Brasil

IA deve integrar tecnologias para casos complexos da parede abdominal, mas custos limitam uso pelo SUS

Por: Da redação Fonte: Mauren Luc
10/06/2025 às 22h21 Atualizada em 10/06/2025 às 23h21
Robótica avança em cirurgias de hérnia pelo Brasil
Dr Christiano Claus no console de controle da plataforma robótica, no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba.| Foto: André Kazé/ Divulgação

Por Mauren Luc

A nova geração de robôs utilizados em cirurgias de hérnia e parede abdominal deve chegar ao Brasil em 2026 e promete maior segurança ao paciente, precisão aos médicos e procedimentos ainda menos invasivos. As principais técnicas e modelos mundiais serão apresentados no VIII Congresso Brasileiro de Hérnia, em julho, e refletem a evolução das tecnologias neste tipo de cirurgia, uma das mais comuns no mundo. Somente no Brasil, a hérnia de parede abdominal atinge até 25% dos adultos, cerca de 28 milhões de pessoas, segundo a Sociedade Brasileira de Hérnia (SBH). 

“É o maior congresso da área na América Latina e discutirá cirurgia aberta, sempre em evolução; cirurgia por vídeo, que precisamos democratizar; e robótica, que é o futuro”, fala o presidente da entidade, o cirurgião Gustavo Soares. Ele destaca que o Brasil tem hoje cerca de 150 plataformas robóticas utilizadas em cirurgias da parede abdominal, entre elas, as americanas Da Vinci (X e XI) e Hugo Ras, além da britânica Versius. Os lançamentos são DV5 (EUA) e Carina (China), junto com novas telas absorvíveis, autofixantes, 3D, com resistência e tamanhos diferentes. 

O Hospital Albert Einstein, em São Paulo, é um dos que mais utiliza cirurgias robóticas, que representam 30% do total de cirurgias de hérnias realizadas. O uso da robótica nestas operações cresceu 321% no hospital nos últimos seis anos (veja números abaixo).

Apesar de concentradas no sul e sudeste, as novas tecnologias estão em todas as regiões, diz Soares, mas são ainda pouco ofertadas pelo SUS, que absorve menos de 10% destes robôs. “É uma evolução, pois toda tecnologia chega cara e vai democratizando. Pelas vantagens, deve avançar mais rápido que a laparoscopia (cirurgia minimamente invasiva).”

Tecnologia pernite movimentos mais precisos, com redução do tremor, visão tridimensional e controle da câmera no console da máquina. Foto: Hospital Albert Einstein

Alto custo

Ao custo unitário aproximado de R$ 10 milhões, os robôs chegam a cerca de 1% das 650 mil cirurgias de hérnias realizadas no Brasil anualmente, aponta Soares. Ainda assim, avança rápido, especialmente em casos complexos da parede abdominal, como do aposentado Roberto de Aguiar, 65 anos. 

Ele teve hérnia incisional em decorrência de uma cirurgia de apêndice. Foram três tentativas de reparo, por corte convencional aberto, sem sucesso. “Foi muito dura a recuperação das cirurgias. Desisti e resolvi conviver com o problema”, conta. “Por 15 anos, usei uma cinta pra tentar minimizar os incômodos. Um tremendo incômodo, além do aspecto visual.”

Em 2021, Aguiar precisou operar o pâncreas e retirar a vesícula, o que lhe custou outra hérnia incisional. Foi quando veio indicação de cirurgia robótica, em Curitiba. “Desta vez, quase não teve corte e a recuperação foi muito mais rápida. O resultado foi muito positivo, e a experiência da equipe médica fundamental.”

As cirurgias robóticas não são cobertas pelos planos de saúde, que custeiam adicionais, mas o valor dos insumos, como pinças e materiais, fica por conta do paciente que, em média, precisa desembolsar R$ 15 mil. 

“Apesar de termos muita tecnologia, ainda são poucas marcas no mercado nacional, o que eleva os custos. A expectativa é que haja abertura maior deste mercado nos próximos anos, para aumentar a concorrência e reduzir os custos, permitindo maior acesso”, avalia o cirurgião do aparelho digestivo, Christiano Claus, que operou Aguiar e, no Paraná, realiza 20% de suas cirurgias por robótica. 

Robôs apenas repetem o movimento dos médico, mas não têm autonomia ou poder de decisão. | Foto: Hospital Albert Einstein

Avanço

Claus enfatiza que o Brasil tem cirurgiões respeitados mundialmente, hospitais de referência em robótica de hérnia e centros de capacitação, apesar de não haver uma subespecialidade em robótica. Para atuar, o cirurgião geral ou do aparelho digestivo precisa fazer habilitação em robótica, sendo que cada robô tem um treinamento específico.

No hospital Albert Einstein há um destes centros de treinamento, como explica Sergio Roll, membro do Einstein e da Comissão de Cirurgia Robótica do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Ele recorda que estas tecnologias começaram a chegar no Brasil em 2008, com grande evolução na última década. Entre as vantagens, movimentos mais precisos, com redução do tremor; visão tridimensional; pontos em posições que a laparoscopia não alcança; controle da câmera no console da máquina, que permite ao médico ficar sentado; maior segurança e um pós-operatório mais brando, com incisões de dois centímetros, e recuperação rápida. 

No Eisntein, o uso da robótica em cirurgias de hérnia passou de 148 em 2019, para 624 em 2024; um aumento de 321%. 

Fonte: Hospital Albert Einstein
*Outras: cirurgias de hernias- todos os tipos (adulto e infantil)
*Robótica: cirurgias de hernias feita por robótica (adulto e infantil)
*Dados anuais e com porcentagens de robótica com relação às cirurgias comuns

Inteligência Artificial

O futuro, segundo Roll, prevê cirurgias digitais, nas quais haverá uso da Inteligência Artificial (IA). Ela permite imagens associadas a exames e problemas do paciente, que aparecem na tela durante a cirurgia. Determina onde está o problema, a distância, vasos e locais de risco, reduzindo complicações. “Todas as cirurgias são gravadas e a máquina aprende com o que fazemos, para ser usado no futuro como sinais de alerta para o cirurgião. Ainda não existe esta interação com a IA, mas deve ser utilizada em um ou dois anos.”

O domínio da robótica é da Europa, China - que já faz telecirurgia a três mil quilômetros de distância - e Estados Unidos, onde há mais cirurgias de hérnia inguinal robótica do que aberta, explica Flavio Malcher, presidente da Sociedade Americana de Hérnia. “A tradicional laparoscopia quase não é mais feita; a robótica a adotou”, diz. “É preciso lembrar, no entanto, que não é um robô agindo sozinho. É uma máquina que repete nosso movimento. Não há autonomia ou poder de decisão dos robôs.”

“O cirurgião precisa agir com ética na adoção de novas tecnologias. Precisamos estar abertos de maneira crítica, com estudos controlados, publicações de resultados e acompanhamento de longo prazo”, alerta Malcher, lembrando que o Brasil ocupa a liderança em cirurgia robótica na América Latina. “Em 2016, tinha cerca de 20 robôs, hoje são mais de 150. É impressionante. O problema é acesso pelo SUS.”

Robôs são usados em cirurgias no Hospital Albert Einstein, em SP | Crédito: Hospital Albert Einstein

Sistema Púbico

O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) é uma das exceções, e deve voltar a ofertar cirurgias robóticas pelo SUS nos próximos meses, mas é temporário, resultado de projeto de pesquisa coordenado pelo cirurgião Leandro Totti. “Não há nenhum hospital público com programa continuado de cirurgia robótica. Os que têm, como o Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp) e o Hospital do Amor, são iniciativas pontuais, de doações ou projeto de pesquisa, sem financiamento direto pelo SUS.”

No Hospital do Amor, que tem atendimento 100% SUS em São Paulo, o uso de robótica acontece desde 2014, porém, custeado pela própria instituição, por meio de doações. “Quando começamos, o volume de cirurgias robóticas era 1% do nosso total, hoje está em torno de 12%, sendo oferecida em oito especialidades. Realizamos, anualmente, uma média de 5.500 cirurgias, das quais cerca de 700 são robóticas”, disse o Hospital do Amor, em nota. 

O Icesp não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre o uso de robôs em cirurgias. 

No Paraná, somente pelo SUS, foram realizadas 42.010 cirurgias de hérnia entre 2023 e 2024, segundo a SBH. Deste total, apenas 323 (0,7%) foram por laparoscopia, mas não foram divulgados dados sobre robótica no Estado. 

No HCPA, o uso de robótica só acontecia pelo sistema privado, que desde 2019 realizou 19 destas interações em cirurgias de hérnia. 

Fonte: HC de Porto Alegre
*Robótica: cirurgias de hérnia assistidas por robôs

O Ministério da Saúde informou que, entre janeiro de 2023 e maio de 2025, foram realizadas 863.417 cirurgias de hérnia pelo SUS no país. “Quanto à realização de cirurgia de hérnia assistida por robótica, os gestores estaduais e municipais do SUS têm autonomia para realizar contratualizações com prestadores de serviços de saúde que disponham destas tecnologias para o procedimento.”

Totti enfatiza a importância da robótica para reconstruções complexas, como as de parede abdominal, com pacientes em internação breve, menos dor e uso de analgésicos e retorno rápido às atividades. “Os americanos já provaram que o valor economizado com isso justifica o uso do robô. Só precisamos convencer nossas autoridades.”

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