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Região registra o menor volume de exportações aos EUA em uma década

Retração nas vendas ao mercado americano foi de 51% no último bimestre, se comparado ao mesmo período em 2024
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Região registra o menor volume de exportações aos EUA em uma década

Retração nas vendas ao mercado americano foi de 51% no último bimestre, se comparado ao mesmo período em 2024
Embarques de produtos da região para os Estados Unidos têm sofrido redução constante após tarifaço adotado por Trump CRÉDITO: Claudio Neves/Portos do Paraná

Dois meses após as tarifas impostas por Donald Trump a produtos brasileiros em 50% começarem a valer, em agosto de 2025, as exportações do oeste do Paraná registraram o menor índice para os EUA em agosto e setembro em uma década.

Os números são do Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior. Segundo relatório mensal da balança comercial, as principais economias exportadoras da região – Cascavel, Toledo, Palotina, Cafelândia, Medianeira e Marechal Cândido Rondon, venderam ao país cerca de US$ 3,1 milhões no último bimestre. No mesmo período do ano passado haviam sido US$ 6,5 milhões.

Segundo o analista de mercado internacional, Marcelo Dias, esse era um cenário já desenhado e se esperava por isso. “Assim que se anunciou o tarifaço e alguns produtos vendidos pela região ficaram fora da lista dos não tributados pelos Estados Unidos, já sabíamos que mercados como o de pescados, sobretudo de tilápias, seria fortemente afetado”, analisou.

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O volume financeiro em negócios firmados com os americanos sofreu uma retração, entre um ano e outro considerando o bimestre, de 51%. “A tendência é que isso se acentue se as conversas entre Brasil e Estados Unidos não evoluírem. A tendência é que esses números sofram uma redução ainda mais drástica até o fim do ano”, reforça o especialista.

Se a comparação for em volume exportado, a queda é ainda mais representativa, de 56%. Em agosto e setembro deste ano o oeste embarcou apenas 586 toneladas de produtos para os americanos. Ano passado, no mesmo período, haviam sido quase 1,4 mil toneladas.

“Não se abre mercados do dia para a noite, mas existe um lado positivo nisso. Está obrigando ao Brasil buscar novos compradores e não depositar todos os ovos em uma única cesta, mas isso leva um tempo, reorganização. Enquanto isso, a situação pesa ao empresário, ao industrial e toda a cadeia”, alerta o economista Rui São Pedro.

Para o especialista, essa tendência tende a ser mais maléfica, em médio e longo prazo, para os Estados Unidos do que para o próprio Brasil e a região. “Claro que isso impacta de imediato nossa economia porque pode haver demissões em massa em alguns setores, fechamento de turnos de trabalho, mas quando forem conquistados novos mercados isso pode ser retomado. Já nos Estados Unidos, essa tarifação representa inflação para os americanos, o que é extremamente danoso à economia deles que deve sofrer muito mais se as tarifas forem mantidas por muito tempo”, completa.

Rui São Pedro lembra ainda que, ao se conquistar novos mercados, corre-se o risco ainda de o próprio mercado brasileiro não ter mais como abastecer o mercado americano. “Se houver a abertura de novos mercados, a capacidade de produção não aumenta do dia para a noite, então pode chegar um momento que o mercado americano queira novamente nossos produtos com tarifas menores ou sem tarifas e nós não tenhamos mais como abastecer. Isso vai forçar que o próprio mercado pague mais caro”, completa.

O desafio de conquistar novos mercados

Os Estados Unidos já foram os principais parceiros comerciais do Brasil e o oeste tinha um destaque nesse protagonismo, sobretudo com a exportação de proteínas. Porém, há quase duas décadas e meia o cenário tem sido alterado. Desde a queda das torres gêmeas em setembro de 2001, com o fechamento do mercado americano, e a bolha imobiliária de 2008, os estado-unidenses têm deixando de ser o principal parceiro comercial. “Esse foi um lado positivo que obrigou ao Brasil a buscar novos compradores até então pouco explorados por nós. Nisso emergiu a China que hoje é nosso maior parceiro comercial, não apenas do oeste, mas do Brasil. Mas ainda temos o mercado árabe, a Ásia como um todo, o próprio Mercosul e a União Europeia. Mas repito, mercados levam anos para serem abertos”, completa o economista.

A possível reaproximação comercial entre Brasil e EUA

No início desta semana, depois de muitos desencontros e impasses diplomáticos nas negociações tarifárias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos EUA tiveram um encontro virtual. Para analistas, pode ser um recomeço das boas relações comerciais que se estabelecem por mais de 200 anos e que podem beneficiar centros econômicos específicos no Paraná como as proteínas no oeste, o café no norte e noroeste e o setor da madeira no centro e sul do estado. Trump disse que teve uma conversa “muito boa” com Lula e afirmou que discutiram principalmente economia e comércio. Trump pretende visitar o Brasil “em algum momento”.

Quando questionado sobre sua participação na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em novembro, em Belém (PA), Trump não confirmou se comparecerá ao evento.

Num post na rede Truth Social, ele declarou que poderá haver um encontro presencial com Lula “em um futuro não muito distante”, seja em solo brasileiro ou americano. “Eu fiz uma chamada telefônica muito boa com o presidente Lula, a conversa focou principalmente na economia e no comércio. Nós nos reuniremos em um futuro não muito distante, nossos países irão muito bem juntos”, descreveu Trump.

Para Marcelo Dias, esse é um bom sinal, mas a cadeia produtiva não pode pagar para ver nem esperar que as negociações caminhem rapidamente. “Por mais que a nossa indústria atenda exatamente o que os americanos querem e esperam, precisamos buscar alternativas de mercado para que esses impactos não sejam sentidos de uma forma irrecuperável para toda a cadeia e neste caso me refiro especificamente ao que o oeste fornece, como os pescados que saíam da região em direção aos Estados Unidos somando cerca de US$ 100 milhões de exportações por ano”, reforça.

O governo brasileiro informou que o encontro foi feito por videoconferência, durou cerca de 30 minutos, e que Trump foi quem iniciou a chamada.

Segundo o Planalto, Lula teria pedido a Trump a revisão do “tarifaço” e a retirada de sanções impostas pelo governo americano ao Brasil — estas, em retaliação ao julgamento de Jair Bolsonaro no STF. Embora Trump não tenha mencionado esse pedido em sua declaração pública, ele disse que discutiram “muitas coisas”.

Nenhuma das partes confirmou por enquanto uma data para encontro futuro. O governo brasileiro divulgou que Lula mencionou possíveis encontros na Cúpula da Asean, na Malásia, reiterou convite a Trump para a COP 30 e sugeriu viajar aos EUA. A Casa Branca não confirmou ainda negociações com Brasília para esse encontro.

“Pode parecer que uma briga dessas não impacte a gente, mas estamos vendo que sim. Um tarifaço adotado pelo governo americano contra o Brasil trouxe reflexos para o quintal da nossa casa. Tudo na economia tem repercussão e as vezes muito rapidamente. Em apenas dois meses vimos nossas exportações despencarem aos EUA e chegaram aos menores índices em uma década. Enquanto isso, seguem as expectativas”, conclui Marcelo Dias.

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Publicada em 10/10/2025

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