As singularidades da comunicação institucional e do jornalismo político, bem como os diferenciais exigidos pela prática na Assembleia Legislativa do Paraná — realizada por assessores parlamentares, jornalistas da instituição e repórteres — foram tema de uma série de palestras promovidas ao longo desta sexta-feira (4), no Auditório Legislativo. Os encontros foram direcionados a estudantes que integrarão o Parlamento Universitário Comunicação.
Com bloco e caneta em mãos, 15 alunos dos cursos de Jornalismo, Comunicação Organizacional, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda, de 26 instituições de ensino do Paraná, acompanharam os seminários. Cada um deverá escolher em qual das três áreas da comunicação política atuará durante o programa: assessoria dos parlamentares universitários, comunicação institucional ou reportagem política, com foco na fiscalização das ações do Poder Legislativo. Ao todo, 46 estudantes da área de comunicação participarão da edição deste ano.
A simulação do Poder Legislativo, promovida pelo Parlamento Universitário e organizada pela Escola do Legislativo, será realizada de 17 a 25 de julho. Os 54 participantes vão propor leis, eleger um governador, participar de audiências públicas, formar comissões, articular alianças e votar em Plenário, entre outras atividades que compõem a rotina parlamentar. Já os repórteres, assessores e profissionais de comunicação interna atuarão na disseminação de informações, no cuidado com a imagem dos “deputados” universitários e na fiscalização do processo.
“Vamos proporcionar uma vivência intensa, como se eles estivessem cobrindo o Parlamento, acompanhando projetos do governador, discutindo leis e traduzindo isso para o público, para o leitor, para o telespectador. Tudo numa linguagem acessível, que toda a população consiga entender, o que é o mais importante”, explicou Roger Pereira, coordenador de Jornalismo da Assembleia Legislativa do Paraná.
Jeulliano Pedroso, diretor da Escola do Legislativo, destacou que a inclusão mais estruturada da comunicação nesta edição do Parlamento Universitário “é o reconhecimento da área como pilar do processo democrático e das instituições. As pessoas só conhecem seus representantes por meio da comunicação”. Para ele, “muitas vezes os estudantes não têm uma interface direta com a prática profissional. Ter essa experiência no Parlamento Universitário é um diferencial que pode abrir novas perspectivas de carreira”.
Futuros comunicadores
No último período do curso de Relações Públicas, Carla Santos vê no Parlamento Universitário uma oportunidade para compreender melhor o cotidiano das pessoas e os caminhos que elas percorrem até chegar aos espaços de poder. “A gente não costuma entender os processos eleitorais nem a função de cada pessoa que elegemos, e eu quero ajudar as pessoas a terem mais dimensão disso”, disse a jovem de 22 anos, que atualmente trabalha na assessoria do Tribunal de Contas da União (TCU).
Já o sonho de ser diplomata levou Gustavo Schendroski Juncker, de 24 anos, a se inscrever no programa. “Minha ideia é conhecer melhor o contexto político estadual e compreender como se dão as relações de comunicação durante o fazer político”, afirmou o estudante da oitava fase de Comunicação Organizacional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), que também atua como assessor no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
Estudante do quinto semestre de Jornalismo na Faculdade Positivo, Júlia Carvalho Cruz soube do Parlamento Universitário durante as aulas e se interessou. “Já trabalhei com assessoria e queria me ambientar melhor, entender outras áreas da comunicação e o universo da mídia”, destacou.
Aluno da PUC-PR, Murilo Brunelli decidiu participar por seu interesse em política e pela vontade de aprofundar os conhecimentos sobre o cenário local. “Foi muito interessante porque tivemos aula com professores e profissionais que atuam com jornalismo há muito tempo. Deu pra entender melhor como funciona a Casa e o trabalho do jornalista”, observou.
“Achei uma ótima oportunidade para aprender mais na prática como se resolvem as questões dentro do Parlamento e como isso pode ser levado para o nosso futuro, tanto profissional quanto pessoal. Um verdadeiro aprendizado”, completou Vitória Santin, também estudante de Jornalismo da PUC-PR.
Palestras
Com a propriedade de quem já esteve à frente da Secretaria de Comunicação do Estado do Paraná, o servidor da Assembleia Legislativa do Paraná, Paulino Viapiana, abriu a rodada de palestras tratando dos diferenciais da comunicação política realizada no âmbito do Executivo.
“Os governos realizam uma comunicação ampla, em áreas como educação, saúde, agricultura e outras. Cada setor precisa ser tratado de forma diferente. A ideia é mostrar como fazer isso trabalhando com uma variável que afeta o trabalho de uma forma ou de outra: a política”, pontuou. Aspectos como os projetos de cada representante e flutuações na aprovação pública interferem no trabalho realizado.
Ele também falou das transformações que ocorreram nas redações com o advento da internet, relembrando sua experiência como repórter em veículos como Veja e Folha de S.Paulo, em uma trajetória que já soma mais de quatro décadas.
Entre os três Poderes, o Legislativo tem como diferencial a presença do contraditório, representado pelas ideologias dos diferentes deputados, conforme destacou Roger Pereira, segundo palestrante da manhã. Essa característica exige um trabalho que respeite o pluralismo político da instituição. O coordenador de Jornalismo da Alep diferenciou a comunicação institucional do jornalismo político e da publicidade, e tratou de aspectos da noticiabilidade.
Ele abordou também os desafios que rondam os trabalhos no Legislativo, como a falta de cobertura generalizada, linguagem inacessível, distanciamento e perspectivas distorcidas da população. “Nenhuma instituição pública sobrevive com credibilidade se a sociedade não entender o que ela faz. A comunicação é o elo que pode restaurar esse vínculo”, destacou.
Rodas de conversa
Já no período da tarde, comunicadores e profissionais da área participaram de rodas de conversa com foco nos bastidores da cobertura jornalística e da comunicação institucional no ambiente legislativo.
O primeiro painel, “Cobertura Diária do Poder Legislativo”, teve mediação da jornalista Paola Manfroi, com a participação de Bárbara Hammes, da RIC TV, Geovane Barreiro, do Portal Nosso Dia, e Fabiano Klostermann, do site O Luzeiro. Os profissionais compartilharam experiências do dia a dia da cobertura jornalística na Assembleia, destacando os desafios e a importância do trabalho da imprensa na divulgação das atividades parlamentares.
Em seguida, o segundo painel abordou “A Redação da Assembleia”, com mediação do coordenador de Jornalismo da Casa, Roger Pereira, e participação de Eduardo Santana, editor-chefe do Portal Alep, Paola Manfroi, da TV Assembleia, e Rafael Guareski, editor das redes sociais da Alep. O grupo discutiu a dinâmica de produção de conteúdo institucional, o papel da comunicação pública e as estratégias para ampliar o alcance das informações produzidas pelo Legislativo.
Fechando a programação, foi realizado o terceiro painel, “Assessoria de Comunicação Parlamentar”, com mediação da jornalista Laís Cavalcante, assessora de imprensa da 1ª Secretaria da Assembleia. O painel reuniu profissionais que atuam diretamente com parlamentares: Silvio Lohman (assessor da Presidência), Thais Kaniak (assessora da Liderança da Oposição), Ricardo Caldas (assessor da 2ª Secretaria), Mariana Andreatta (assessoria do deputado Luiz Claudio Romanelli) e Simone Muniz (assessoria da deputada Márcia Huçulak). O debate girou em torno da rotina nas assessorias, estratégias de comunicação política e a importância da relação com os veículos de imprensa.