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“Tarifaço parece birra e prejudica a todos”, alerta economista

“É hora de diplomacia e estratégia. A China e outros países podem ser alternativas, mas isso exige ação imediata”

“Tarifaço parece birra e prejudica a todos”, alerta economista

“É hora de diplomacia e estratégia. A China e outros países podem ser alternativas, mas isso exige ação imediata”

A partir de quarta-feira, 6 de agosto, entra em vigor o tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, com aumento de 50% nas tarifas de importação. A medida, anunciada pelo presidente Donald Trump, promete gerar fortes impactos econômicos e não será diferente ao setor produtivo da região Oeste do Paraná, com destaque para o agronegócio e a indústria de alimentos. Em entrevista ao Preto no Branco, o economista Rui São Pedro alertou para os efeitos imediatos e futuros da medida. “Todos os mercados serão atingidos. O Oeste do Paraná deve sentir, por ser uma região exportadora de proteína animal e grãos. A sobra de produtos no mercado interno pode derrubar preços e afetar cooperativas, frigoríficos e agricultores familiares”, afirmou. Segundo o economista, o Brasil deve agir rapidamente, buscando novos mercados para minimizar os prejuízos.

Preto no Branco – As tarifas de Donald Trump de 50% sobre produtos brasileiros, passam a valer, em tese, na semana que vem com uma lista de Trump que acabou retirando centenas de produtos da tarifação. Nesta semana vimos um possível canal de comunicação entre o governo brasileiro e americano. O senhor enxerga como viável e possível?

Rui São Pedro – O canal parece começar a se abrir, mas nada vai acontecer imediatamente. O Brasil quer mais 90 dias para negociar, rearranjar mercados. A decisão do Trump foi anunciada nos primeiros dez dias de julho, pouco tempo para se organizar. O que o Brasil, e consequentemente o setor produtivo regional, quer é que as regras passem a valer em dezembro, apesar de muitos produtos terem ficado de fora da tarifação. Ao menos há tempo para reorganizar mercados porque ele pode mudar a qualquer momento. Negociar diretamente com quem compra e vende, mas de antemão tudo será sancionado e o impacto será para todos.

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Preto no Branco – E quais os impactos imediatos dessas novas tarifas impostas pelos Estados Unidos ao mercado de Cascavel, do Oeste e do Paraná?
Rui São Pedro – Todos os mercados serão atingidos, todos. O de carnes que é o nosso regional é um deles. Num primeiro momento, o que acontece é uma redução nos preços de alguns produtos no mercado interno. Vai sobrar mercadoria no mercado e os segmentos vão ter que despejar esses produtos internamente. Não há setor que escape disso. Mas esse é só o começo — as consequências futuras serão graves e severas.

Preto no Branco – O senhor considera que o Brasil, e no caso a nossa região, sai mais prejudicado que os EUA?
Rui São Pedro – Com certeza. Nós somos um país emergente, estamos em uma região altamente produtiva, enquanto eles têm uma economia de primeiro mundo, com fornecedores gigantescos espalhados por todo o mundo. No final das contas, os dois lados perdem. Mas quem perde mais é o Brasil e o nosso mercado regional será impacto em algum nível. Somos muito mais vulneráveis.

Preto no Branco – Essa vulnerabilidade tem relação com o nosso modelo de exportação?
Rui São Pedro – Exatamente. Nossas dificuldades são perceptíveis. Em alguns setores dependemos de produtos com maior valor agregado para transformar nossa produção, como em tecnologia. Como não temos essa estrutura, ficamos mais expostos. Passamos mais apuros. Por outro lado, fornecemos produtos, sobretudo alimentos que são essenciais ao mercado americano. Não existem ganhadores nesse processo.

Preto no Branco – O que a região deveria fazer diante dessa situação?
Rui São Pedro – No âmbito nacional eu já teria designado comissões para visitar o mercado mundial, buscando novas parcerias e alternativas e para a nossa região é muto importante. Os americanos não são nossos principais compradores, mas compram. O problema é que o Trump, de forma estratégica, ameaça aumentar tarifas também para países que comercializem com o Brasil, com a gente. Isso prejudica ainda mais o comércio internacional.

Preto no Branco – É um jogo político? É perigo?
Rui São Pedro – Com certeza. É um jogo e muito perigoso. É uma guerra comercial. E, se você está na chuva, tem que se molhar. Mas precisa ser esperto. A China, por exemplo, já se propôs a ampliar a compra de produtos brasileiros. É um mercado gigantesco. A gente tem que explorar essas oportunidades e no caso da nossa região, o mercado chines e árabe é forte, precisaríamos nos voltar para Japão. Como falei, neste momento ninguém ganha.

Preto no Branco – Outros mercados podem ser explorados?
Rui São Pedro – Claro. devem. O Japão, por exemplo, levou 20 anos para abrir seu mercado para a carne brasileira. A nossa carne. Mas isso exige ação diplomática, trabalho do Itamaraty, dos cônsules, negociação. O mesmo vale para o Leste Europeu, Oriente Médio, União Europeia… Temos que nos movimentar.

Preto no Branco – E como o senhor vê a atitude do governo americano?
Rui São Pedro – Olha, parece birra. É como uma criança que não quer dividir o doce. Ele quer punir o Brasil porque diz que tem déficit comercial com a gente, o que é falso. O Brasil importa muito mais dos EUA do que exporta para lá. Isso é desleal, desnecessário e irresponsável. Tem fatores políticos na decisão, mas a tarifação é desnecessária e prejudicial.

Preto no Branco – O senhor vê uma resposta à altura por parte do Brasil?
Rui São Pedro – Ainda não. Nossa região, por exemplo, com tantos frigoríficos e cooperativas, já deveria estar se organizando. Governo, secretários de estado, todos deveriam montar comissões e iniciar contatos com Canadá, México, União Europeia, Norte da África, onde for possível ampliar mercado, além do governo federal. Não vejo solução a curto prazo.

Preto no Branco – Estamos falando de um impacto real na vida das pessoas?
Rui São Pedro – Sim. Estamos falando de cerca de 600 milhões de pessoas — somando as populações dos EUA e do Brasil. Não dá para tomar decisões com base em vaidade pessoal. Isso é abuso de poder. Um líder não pode colocar seus interesses acima dos milhões de americanos e milhões de brasileiros. Em regiões aonde a economia gira de forma diferente, e no nosso caso falo também em metal mecânica e outros setores, todos serão afetados.

Preto no Branco – Mas diante disso tudo, há saída?
Rui São Pedro – Sempre há saída, mas exige ação imediata, visão estratégica e muita diplomacia. Não podemos ficar parados esperando que o mercado se ajuste sozinho. É preciso ir atrás, negociar, se posicionar e proteger a economia brasileira, a economia regional, os empregos, o desenvolvimento. Logo isso pode impactar empregos. Algumas empresas já adotam férias coletivas, estocam produtos, mas precisa ter ação. Se no mercado alguns produtos podem baixar de preço, aqui no Brasil, logo isso impacta a economia porque quando se exporta se vende com maior valor agregado. Gerando emprego e renda. Não é nada positivo e extremamente preocupante. A economia e as pessoas devem se preocupar com o que está acontecendo.

Preto no Branco – O que esperar agora?

Rui São Pedro –Não dá para esperar. É preciso agir. Demorou muito para iniciar um canal de comunicação entre governos e não acredito que a negociação vira de forma tranquila. Houve uma sinalização para exploração e minerais no Brasil, tudo no fim é uma questão e vantagem e interesses. Trata-se de um momento delicado.

 

 

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