Os protestos dos professores por más condições de trabalho no Paraná são uma tradição iniciada pelo mestre-escola Jerônimo Durski ao reclamar de salários atrasados ao imperador Pedro II, em 1880.
Migrando para o Brasil com a família em 1851, Durski aprendeu rapidamente o idioma português e dois anos depois já estava no Sul do Paraná, iniciando aquela que seria a Colônia Cruz Machado, criada em 1911 para receber milhares de imigrantes provenientes do Leste polonês.
Cruz Machado se tornou distrito de União da Vitória e ali nasceram a poeta Helena Kolody (1912), o líder cooperativista Roberto Wypych (1928) e o megaempresário Assis Gurgacz (1941). Cruz Machado é Município irmão de Cascavel, criado pela mesma lei 790/51.
Roberto era o primogênito do casal Ladislau e Estefânia Wypych. Em Cruz Machado, depois em União da Vitória e Curitiba, o pequeno Roberto passou as dificuldades dos filhos de imigrantes de famílias pobres.
Vivendo até na rua, sobreviveu como engraxate e rompeu o ciclo da pobreza ao ser levado ao Colégio Militar, onde poderia desenvolver a carreira militar, mas parou no posto de sargento.
Sua vida civil se desenvolve a partir da formação como contabilista, na Escola Técnica Coronel David Carneiro, em União da Vitória, onde mais tarde foi também professor.
Crescente força política
Wypych se transferiu para Cascavel em 1964, onde se estabeleceu com a esposa, a cartorária do Registro de Imóveis Nelsy Pereira, já com três filhos. Futuramente, de sua união com Irma Vieira Borges, Roberto teria mais dois filhos.
A participação política de Wypych começou no Partido Democrata Cristão (PDC), que em Cascavel contava com os destacados líderes Itasyr Luchesa, João Miotto e Ozíres Santos.
Com a extinção dos partidos políticos em outubro de 1965 e a instauração do bipartidarismo, pelo qual a ditadura pretendia imitar o sistema estadunidense Democratas x Republicanos, Wypych se tornou membro da Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido pelo qual se elegeu deputado estadual em 1966.
O destaque de Wypych na Assembleia Legislativa foi a proposta de criar em Cascavel as faculdades de Educação, Agronomia e Filosofia, Ciências e Letras, feita lei (6.160/70) sancionada pelo governador Paulo Pimentel.
Como em tempos de ditadura não havia interesse em cumprir promessas, Wypych enfrentou o desinteresse dos governos federal e estadual pelo ensino superior no Oeste e com a promessa sempre repetida, em todas as eleições, de construir a Ferrovia do Oeste, completando a ligação por trilhos entre Paranaguá e Foz do Iguaçu.
Wypych não desistiu do projeto de levar o ensino superior a Cascavel e região enquanto se concentrava nas atividades empresariais, sobretudo na estruturação do agronegócio, a partir do nascente cooperativismo.
Decepção com a I Expovel
Além de fundador, Wypych foi o primeiro vice-presidente e segundo presidente da Coopavel, criada em 15 de dezembro de 1970 no contexto do Projeto Iguaçu de Cooperativismo, reunindo 42 produtores rurais. O primeiro presidente da Coopavel foi o agropecuarista Adolpho Cortese, que partiu para expandir seus negócios ao Paraguai.
Assim que assumiu a direção da Coopavel, Roberto Wypych iniciou uma escalada de reivindicações. Sob o fio da navalha, sustentou sérios atritos com o governo ditatorial, especialmente pelo descaso frente ao projeto da Ferrovia da Soja.
Ganhou ainda mais força ao idealizar e fundar a Cooperativa Central Regional Iguaçu (Cotriguaçu), representando cerca de 30 mil agricultores e atuando nos mais variados setores, desde produção, armazenamento, transporte, comercialização até exportação, culminando com a construção de um terminal portuário em Paranaguá.
À frente da Cotriguaçu de 1975 a 1979, quando foi presidente da Ocepar, Wypych teve uma decepção com a controversa realização da I Expovel (Exposição Feira Agropecuária e Industrial de Cascavel).
Feita pela Prefeitura em área da Madeireira Sbaraini, em 1975, período em que a ditadura acobertava a corrupção, ocorreram flagrantes irregularidades, embora a mostra fosse um sucesso de público e negócios.
Sociedade Rural surge forte
Wypych não aceitava que a Expovel fosse cancelada por conta de problemas de gestão da Prefeitura de Cascavel e decidiu que iria resgatar a feira em melhores condições.
Nesse ínterim, a Cotriguaçu se tornava uma potência. Ainda em caráter experimental, seu terminal graneleiro exportou 600 mil toneladas de produtos agrícolas em 1976.
“Como o embarque poderá ser realizado num fluxo de 1.500 toneladas/ hora, o porto de Paranaguá tem duplicada sua capacidade. Só a correia transportadora do terminal custou Cr$ 22 milhões e foi construída por um consórcio de três empresas brasileiras” (Aramis Millarch, O terminal de Wypych, 1º/3/1977).
Sempre ativo politicamente, obteve a suplência da candidatura de Affonso Camargo Netto ao Senado nas eleições de 1978, que foram apenas parciais. Tão parciais que se elegeu sem um só voto: Camargo foi nomeado por um mecanismo ditatorial que lhe valeu o apelido de “senador biônico”.
O renascimento da Expovel
Com o fim do bipartidarismo, Wypych migrou para o PP de Tancredo Neves e logo se integrou ao PMDB com a fusão PP/ MDB.
Em paralelo à atividade política estava o fortalecimento da agropecuária na região. Para retomar a bem-sucedida, mas interrompida Expovel, envolvida em escândalo de desvio de recursos municipais, foi criada em 1980 a Sociedade Rural do Oeste do Paraná.
Evitando usar o nome “Expovel”, ainda negativizado pelas bandalheiras de 1975, em 12 de dezembro de 1980 se realiza na Fazenda Mocotó, da família Wypych, no Km 26 da BR-467, a 1ª Expoeste (Exposição-Feira Agropecuária e Industrial do Oeste do Paraná).
Mesmo abaixo de muita chuva, a mostra registrou a comercialização de 415 animais e movimentação financeira de US$ 330 mil, dando aval à SRO para retomar o nome Expovel a partir da edição seguinte.
Wypych seguiu à frente da Sociedade Rural até 1982, quando concorreu à Prefeitura de Cascavel pelo PMDB e seus votos somaram para eleger o prefeito Fidelcino Tolentino, o que permitiu a Wypych voltar prioritariamente às bandeiras ao agro.
Ainda havia um longo caminho a percorrer, entretanto. Quando Affonso Camargo foi chamado ao Ministério dos Transportes, em março de 1985, uma nova etapa se abria: Wypych assumiu a cadeira no Senado disposto a concretizar os sonhos de criar a Universidade do Oeste, que pretendia federal, e a extensão da ferrovia à região.
“Senador biônico” e mágico
Suas publicações como senador sintetizam suas preocupações: “A democracia chega ao agricultor”, na qual expõe o esforço da agropecuária para ter voz nas decisões; “Por um paranaense no Supremo Tribunal Federal”, antecipando a situação atual, em que os ministros Luiz Edson Fachin e André Mendonça se consideram paranaenses; e “Universidade para o Oeste do Paraná”, esforço completado um ano depois de deixar o Senado, com a volta de Camargo à sua cadeira no Congresso, em fevereiro de 1986.
A volta de Wypych às lidas agropecuárias foi um retorno à resistência, pois até 1995 o governo explorou impiedosamente os agricultores.
Dedicado em tempo integral às suas fazendas em Cascavel até 1995, São José do Rio Claro (MT) até 1997 e Barreiras (BA) em 1998, sua contribuição ao desenvolvimento do Oeste do Paraná estava encerrada.
A lamentar, declarou que gostaria de ter dedicado mais tempo às artes mágicas, os truques de ilusionismo que encantavam seus admiradores desde os tempos de escola.
Sua grande magia, no fim das contas, foi participar da transição do país da ditadura à democracia, período em que o agronegócio saiu da situação de patinho feio do regime para assumir o status de vanguarda produtiva nacional.
Morto em Anápolis (GO), em 19 de agosto de 2020, não pôde ser sepultado em Cascavel devido às restrições da pandemia do Novo Coronavírus.
A primeira família: licença para combater os índios
Aos colonos que se interessassem, o governo oferecia licença para matar e escravizar os índios. Entre os colonos que foram a Rio Negro havia pessoas que combateram na Europa porque a perspectiva de ataques indígenas assustou quem progredia com a erva-mate, criava gado com sucesso e não sofria ataques indígenas.
Os paranaenses preferiam criar gado e exportar mate a ir para uma região de conflito. A agricultura, aliás, era uma atividade tida como desprezível, reservada aos índios e africanos escravizados:
“Trabalhar no cabo da enxada era considerado uma atividade de baixo status social, digna apenas de escravos e libertos. O homem comum estava cheio de preconceitos com relação ao trabalho agrícola. Preferia ser peão de tropa, cavalgar à procura de reses nos Campos Gerais ou colher erva-mate a dedicar-se ao serviço da agricultura” (Ruy Christovam Wachowicz, História do Paraná).
A colonização só começou a andar quando o Império autorizou as Províncias a promover a imigração por conta própria para seu povoamento.
Com o povo revoltado na Europa, triunfa em 1830 a Revolução Liberal na França, mas multidões passavam fome. Houve entendimentos com o governo brasileiro para a transferência de grupos de famílias europeias para substituir a mão de obra escrava.
Assim começa a transferência de imigrantes europeus para o Brasil. Inicialmente alemães, eles virão principalmente para o Sul do país – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A família de Antônio José Elias foi empurrada a Rio Negro depois de uma série de combates no interior de Santa Catarina. “Os Elias eram gente esquentada”, escreveu Fernando Tokarski em O Homem do Contestado na ocupação e na Colonização da região de Cascavel https://x.gd/L7qUH).
