
A conquista da primeira Copa do Mundo de Futsal Feminino organizada oficialmente pela FIFA não representou apenas um título inédito para o Brasil. O feito coroou uma trajetória construída ao longo de décadas por profissionais que ajudaram a estruturar, fortalecer e dar identidade ao futsal feminino no país. Entre eles, um nome se destaca pelo currículo vitorioso, pela influência no cenário estadual e nacional e pelo papel direto na conquista mundial: Márcio Coelho.

Ligado ao futsal paranaense e referência no Stein Cascavel, Márcio construiu uma carreira marcada por títulos, continuidade de trabalho e formação de atletas. Ao longo de sua trajetória, soma cinco Campeonatos Paranaenses, quatro Copas Mundo de Futsal, duas Ligas Femininas, duas Libertadores, duas Supercopas, além de Taça Brasil, Copa do Brasil e, agora, o feito máximo: campeão da primeira Copa do Mundo de Futsal Feminino da história.
Apesar dos números expressivos, o treinador faz questão de dividir os méritos. “As conquistas parecem individuais, mas são totalmente coletivas. Sou apenas um grão de areia nessa construção”, afirma. A declaração traduz um perfil que sempre marcou sua carreira: trabalho silencioso, estudo constante e foco no crescimento da modalidade.
Disputada na Ásia, a Copa do Mundo teve um peso especial. Além de ser a primeira organizada pela FIFA, colocou sobre o Brasil a responsabilidade de transformar hegemonia histórica em título oficial. A Seleção vinha de conquistas em competições extraoficiais e sabia que apenas o ouro validaria toda a trajetória construída até ali.
Dentro de quadra, a resposta foi contundente. Mesmo inserido na chamada “chave da morte”, o Brasil superou adversários como Itália, Espanha e Portugal, além de um confronto duríssimo contra o Irã, apontado por Márcio como o jogo mais difícil da campanha. “Foi a partida em que erramos mais, estávamos tensos por ser a estreia. O Irã aproveitou e nos colocou em dificuldade”, avaliou.
A partir dali, a Seleção cresceu em rendimento e, com força coletiva, passou a se impor rodada após rodada. Na semifinal e na final, venceu seleções consideradas potências mundiais com autoridade. “O Brasil descomplicou jogos que poderiam ser muito mais difíceis. Venceu porque estava pronto”, resumiu.
A emoção do título ainda está sendo assimilada. Foram 52 dias longe da família, em uma rotina intensa de treinos, estudos de adversários e jogos decisivos. “Quando recebi a medalha, passou um filme na cabeça. Todo o esforço foi recompensado”, contou. O sentimento, segundo ele, é de gratidão e pertencimento. “A gente não venceu por acaso. Venceu com autoridade.”

Estrelas do Stein brilhando na seleção. Luana,Marcio Coelho e BIanca Foto:Redes sociais
O título mundial trouxe um símbolo histórico: a primeira estrela na camisa da Seleção Brasileira Feminina. Diferentemente do masculino, as mulheres ainda não exibiam estrelas no uniforme. A missão era clara: conquistar aquela estrela e eternizar o feito.
“Daqui a 100, 200 anos, vão lembrar quem venceu a primeira Copa do Mundo. Atletas, comissão, staff e gestão. Somos privilegiados”, destacou Márcio, emocionado.
A Copa do Mundo também foi uma imersão cultural. Antes da fase decisiva, a Seleção passou pela Tailândia, onde realizou período de adaptação, treinos e amistosos, antes de seguir para as Filipinas, sede do torneio. A adaptação não foi simples: clima extremo, alta umidade, alimentação diferente e até um surto de gripe entre integrantes da delegação.
A presença de um cozinheiro brasileiro foi fundamental para manter o equilíbrio físico e emocional das atletas. “Feijão, farofa, bacon… isso fazia a gente se sentir um pouco em casa”, relembrou. Apesar dos desafios, a estrutura oferecida foi de alto nível. “Só quem esteve lá entende a grandiosidade. Foi diferente de tudo que já vivemos”, afirmou.
Paralelamente ao sucesso com a Seleção Brasileira, Márcio Coelho segue consolidando um trabalho de referência no Stein Cascavel, clube que se tornou uma das maiores potências do futsal feminino nacional sob seu comando. À frente da equipe cascavelense, ele é pentacampeão paranaense, além de acumular títulos nacionais e internacionais, sempre com forte investimento na formação de atletas e na construção de um modelo de jogo competitivo.
O Stein, hoje presença constante nas decisões do cenário brasileiro e sul-americano, reflete a filosofia do treinador: planejamento, continuidade e valorização do coletivo. Um trabalho que conecta o sucesso em Cascavel ao reconhecimento mundial.
“O futsal e Deus me deram muito mais do que eu sonhei”, resume Márcio — agora, com seu nome definitivamente gravado na história do futsal femininomundial.
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