
A recente polêmica nas redes sociais envolvendo a campanha de fim de ano da Havaianas, estrelada por Fernanda Torres, trouxe à tona o histórico da marca em utilizar superstições populares como mote publicitário. Enquanto a peça atual é alvo de críticas por militantes da direita, por supostamente alfinetar o eleitorado conservador ao evitar a expressão "pé direito", a empresa já havia feito exatamente o caminho inverso em 2014, utilizando o "pé esquerdo" como piada central.
Na época da Copa do Mundo no Brasil, a marca veiculou um comercial protagonizado pelo ex-jogador e atual senador Romário (PL-RJ). No vídeo, o craque aparecia assistindo a uma partida de futebol vestindo apenas um chinelo. Ao ser questionado por um amigo sobre onde estaria o outro par, Romário explicava com bom humor que havia despachado o "pé esquerdo" para a Argentina, especificamente para seu histórico rival, Diego Maradona (1960-2020).
A frase "tá com quem merece", dita por Romário na ocasião, brincava com a crença popular de que o lado esquerdo estaria associado ao azar, reforçando a rivalidade futebolística sem levantar, à época, bandeiras ideológicas partidárias.
O que mudou? Em 2014, a Havaianas lançou uma campanha com Romário Faria usando o trocadilho: “o pé direito é nosso”. Não houve crise, boicote ou barulho político. Pelo contrário: foi bem recebida tanto pela esquerda quanto que pela direita... pic.twitter.com/SfCeMb8VGC
— Felipe de Vargas (@felipedevargas) December 22, 2025
O cenário, no entanto, mudou drasticamente para a campanha de 2025/2026. No novo vídeo, Fernanda Torres afirma que não deseja que o público comece o ano novo com o "pé direito", mas sim com "os dois pés", sugerindo uma postura de ação e movimento. A fala foi suficiente para detonar uma onda de reações entre políticos e militantes da direita.
Parlamentares como o deputado federal Rodrigo Valadares (PL-SE) e Nikolas Ferreira (PL-MG) interpretaram o roteiro como uma provocação política velada e sugeriram boicote à marca. A comparação entre as duas campanhas, a de 2014, que "descartava" o pé esquerdo, e a atual, que "minimiza" o pé direito, demonstra como a polarização política passou a influenciar a interpretação de peças publicitárias que, historicamente, buscavam apenas o humor baseado em costumes brasileiros.
Até o momento, a Alpargatas, dona da marca Havaianas, não se manifestou oficialmente sobre as acusações de viés ideológico na nova campanha.
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