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O barão assinalado

O comerciante gaúcho que usou a guerra para criar o Paraná e iniciar a conquista do Oeste – João da Silva Machado, o Barão de Antonina

02/11/2025 às 10h03
Por: Tissiane Merlak Fonte: Alceu Sperança
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O Barão de Antonina tirou a passagem do gado de Curitiba para Rio Negro, de onde partiram imigrantes rumo ao Oeste  
O Barão de Antonina tirou a passagem do gado de Curitiba para Rio Negro, de onde partiram imigrantes rumo ao Oeste  

“As armas e barões assinalados” é o verso de abertura do Canto I de Os Lusíadas, de Luís de Camões, destacando os grandes vultos da história portuguesa. De todos os barões importantes da história do Brasil, provavelmente o Barão de Antonina é um dos principais, ao lado do Barão do Rio Branco e do Barão de Mauá.

Filho de imigrantes açorianos, João da Silva Machado nasceu em 1782 na Freguesia de Taquari, região caracterizada pelo transporte de gado, que reunido no Cone Sul era levado à Feira de Sorocaba, onde fazendeiros paulistas, mineiros e nordestinos compravam animais de criação e montaria. 

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Machado, já aos 18 anos, fez a sua primeira viagem a Sorocaba e, no caminho, encantou-se com a região Sul de São Paulo, que corresponde ao atual Paraná, onde passou a trabalhar como feitor de fazenda nos Campos Gerais.

Em 1809 fez sua primeira viagem como proprietário de gado e em 1813 se casa em Palmeira com Anna Ubaldina, filha do coronel português Manoel Gonçalves Guimarães e da parnanguara Maria Magdalena de Lima, neta de Domingos Cardoso de Lima, capitão-mor de Paranaguá.

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Sargento-mor em 1816, manifestou desagrado com o caminho difícil trilhado pelos comerciantes de gado: a Estrada da Mata, trilha aberta pelo próprio gado, de trânsito difícil e perdas de animais pelo trajeto.

Em setembro de 1820, atendendo à queixa dos transportadores, d. João VI baixou carta régia ordenando ao governador paulista, capitão general Carlos Augusto Oyenhausen, para construir uma estrada de fato.

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Das minas de ouro à grande riqueza

Embora estivesse mais interessado em abrir minas de ouro nas montanhas de Itaió, Machado recebeu do governador o convite para abrir o caminho, trabalho que teve duração estimada em seis anos.

Foi criado um imposto de 100 reis por animal para financiar a turma de 60 trabalhadores do corpo de Ordenanças da vila do Príncipe, de Castro e Curitiba, apoiados por soldados e oficiais das milícias de Curitiba se defender dos ataques indígenas.

 Vereador na Vila do Príncipe (Lapa) em 1821, logo depois da declaração de Independência do Brasil ele tomou a iniciativa de propor a formação de um núcleo de imigrantes para trazer mão de obra substituta do trabalho escravo.

As obras da Estrada da Mata se arrastavam enquanto a guerra no Sul, em torno da Província Cisplatina, favoreceu o aumento dos preços do gado. Já com diversas propriedades conquistadas desde os 18 anos, Machado passou em 1826 a vender muitas delas para fazer capital

Para manter em ordem o caminho do gado, diante da crescente oposição indígena, Machado propôs mesclar a iniciativa empresarial com a estratégia militar: idealizou uma comunidade com imigrantes estrangeiros apoiada pelos soldados e fornecendo meios para a manutenção da força militar.

Rio Negro, modelo colonial

Seria um pouso seguro e uma frente de vanguarda para a plantação de mais e mais núcleos a ser distribuídos pelo Sul do Brasil. Foi assim que naquele 1826 colonos europeus, de origem predominantemente alemã, foram estabelecidos na Capela da Mata, posteriormente Capela Rio Negro, situada no caminho de tropas que fazia a ligação de SP-RS.

Parte do plano, Machado recebeu em 1828 a incumbência de dirigir a colônia de Rio Negro, que abarcava as duas margens do Iguaçu, ligadas por balsas. A margem Sul recebeu depois o nome de Mafra.

Em outubro de 1829, ao anunciar a conclusão da Estrada da Mata, Machado já figurava entre os três maiores criadores do Sul brasileiro. Eleito conselheiro da presidência de São Paulo na legislatura de 1830-1833, Machado usou sua influência para mudar o registro de passagem de animais de Curitiba para o Rio Negro, que justamente nessa época se tornou o principal meio de enriquecimento do Sul paulista.

Com a reforma constitucional em 1832, que iniciou o pacto federativo (um governo central no Rio de Janeiro e várias províncias autônomas), surge o esboço da ideia de separar o Sul paulista em uma nova Província.

Grande poder, muito dinheiro

Com a Guerra dos Farrapos, em 1835, Machado aceitou a função de Comandante Chefe de Legião de Guardas Nacionais, para barrar o avanço dos farroupilhas.

Mais poderoso, eleito deputado provincial paulista por várias legislaturas, em 1939 foi eleito por unanimidade pelo parlamento como vice-presidente da Província de São Paulo.

Ganhando muito dinheiro, até porque as turbulências e guerras criavam viés de alta para os preços dos animais, Machado se tornara o maior negociante de animais da primeira metade do século XIX.

Em 1841, nomeado para o comando superior da Guarda Nacional, passou a se interessar pela abertura de frentes de penetração colonial com o apoio de grupos indígenas, cujos aldeamentos serviam de base para a demarcação das terras do interior brasileiro.

No ano seguinte, temendo a disseminação da Revolução Liberal, irrompida em 1842 em Sorocaba, o desesperado presidente provincial, José da Costa Carvalho, o Barão de Monte Alegre, chamou Machado para negociar o apoio de Curitiba ao governo.

Machado reportou um clima de forte adesão dos curitibanos à Revolução. A movimentação revolucionária de Sorocaba, contou Machado ao governador paulista, terá a adesão dos curitibanos caso a negociação para criar a Província de Curitiba não fosse imediatamente iniciada.

Manobra vitoriosa

Conseguiu com essa ameaça que o governador paulista lhe remetesse “cartas de conciliação”, nas quais prometia que a Quinta Comarca seria emancipada e transformada em Província independente. Com isso, festejou Machado, os curitibanos “ficaram satisfeitos e desamotinaram-se”.

Em 29 de junho de 1842 o acordo foi concluído. Machado escreveu nesse dia ao governador paulista: “Os curitibanos estão firmes como uma rocha, nada há a temer; porém minha palavra está empenhada; tendo-lhes prometido (debaixo da proteção de V. Exa.) que esta Comarca em breve será separada por um Decreto”.

Já no dia seguinte o governador Monte Alegre recomendava a emancipação do Paraná ao ministro Cândido José d’Araújo Viana (1793–1875), futuro Marquês de Sapucaí.

Conseguindo unificar a elite local em torno do governo central com a promessa de emancipar a futura da província, Machado recebeu em 1843 o título de Barão de Antonina. Nesse mesmo ano já aparecia na lista dos cinco maiores capitalistas da Província de São Paulo.

Agora a penetração rumo ao Oeste passará a ser o foco de suas atenções. Em 1845, o já Barão de Antonina dá mais um passo na consolidação de seus negócios: passa a explorar os rios Paraná, Ivaí, Verde, Paranapanema e seus afluentes Tibagi e Pirapó, a pretexto de procurar vestígios das antigas reduções jesuíticas de São Xavier e Vila Rica.

Tão poderoso quanto o governador

O Barão de Antonina tinha delegação das autoridades imperiais e provinciais paulistas para a missão de “descobrir o caminho para o Mato Grosso”, ligando o litoral paranaense ao Oeste brasileiro.

Em 1851 as instalações espanholas não são encontradas, mas o barão já havia identificado não as pesquisas feitas por sua equipe as áreas mais propícias para seus empreendimentos.

É quando d. Pedro II assina o Decreto nº 751, criando a Colônia Militar de Jataí, proposta por Machado. A motivação seria prover a região de defesa em caso de conflitos com países vizinhos e abrir ali uma frente de colonização.

Em 1853, com a criação da Província do Paraná, Machado, aos 70 anos, é eleito senador. É a figura provincial mais importante e divide a cena principal com o presidente (governador) Zacarias de Goes e Vasconcelos.

Ao morrer de tifo, em 1875, com 93 anos, o Barão de Antonina deixava iniciado o processo de marcha da colonização para o Oeste. Da comunidade criada por ele em Rio Negro/Mafra partiram os pioneiros da colonização oestina, tais como os irmão Baraba (Rio do Salto) e Schiels, da primeira família a se radicar em Cascavel, em 1922. Também em Rio Negro nasceu o ministro Amaury de Oliveira e Silva, que ao apoiar a criação do Município de Cascavel em 1951 evitou que se tornasse um distrito de Toledo. 

A primeira família: Surge a Encruzilhada dos Gomes

 Classificadas entre as mais férteis do mundo, as terras vermelhas do Paraná se estendem pelos vales e entre os rios Tibagi, Paranapanema, Paraná e Ivaí, atraindo o interesse dos fazendeiros paulistas e estrangeiros que usam testas de ferro para estender ainda mais domínios anteriores.

Quarto ano da I Guerra Mundial, 1917 se caracterizou também por crises e rebeliões por todo o planeta. O Brasil vivia uma escalada de movimentos grevistas e repressão policial.

Apesar dos conflitos, o ano de 1917 foi decisivo para o avanço das obras preparatórias da rodovia que virá a ser a BR-277.

O engenheiro João Moreira Garcez (1885−1957) já comandava a reconstrução de um caminho carroçável ligando Foz do Iguaçu a Catanduvas quando foi retomada a construção da Rodovia Estratégica Guarapuava−Foz do Iguaçu, aos cuidados do engenheiro Francisco Natel de Camargo.

Em 1917 ainda não se dava importância alguma à Encruzilhada dos Gomes, futura Cascavel, então apenas um ponto de passagem de ervateiros. Antes que a cidade de Cascavel brotasse ainda viriam duas revoluções.

A Encruzilhada resultou da estrada ervateira aberta em 1895 pela família do coronel Augusto Gomes de Oliveira, ligando Catanduvas a Lopeí. Por isso, “dos Gomes”.

Mais próximo dos antigos traçados estava o antigo pouso tropeiro do Rio Cascavel, também cortado pela estrada dos Gomes, que para construí-la receberam cinco mil alqueires de terras em pagamento, a serviço da obrage Nuñes y Gibaja.

 

Francisco Natel de Camargo deu sequência à rodovia Guarapuava-Foz do Iguaçu 

 

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