
Criando Rio Negro e a Colônia Jataí, João da Silva Machado, o Barão de Antonina, definiu a base das ações que as autoridades brasileiras e paranaenses deveriam empreender para a conquista do Oeste. Ao morrer, em 1875, ele encerrava uma extraordinária biografia, que inclui a criação do Paraná e o início da conquista de um interior então dominado pela cobiça estrangeira.
As ações de ocupação territorial adaptavam a antiga fórmula dos jesuítas, aplicada desde que iniciaram suas atividades no Oeste por meio da “República Comunista-Cristã dos Guaranis”, popularizada em livro pelo padre suíço Clóvis Lugon.
Consistia em edificar uma igreja no centro da vila, tendo nas proximidades uma instalação militar. Compreendia ainda um aldeamento indígena controlado pelo padre, estrutura social que permitia aos colonos produzir sem temer pela vida das famílias e pelo destino da produção.
A fórmula só foi interrompida porque os jesuítas não tinham uma estrutura militar e suas reduções foram destruídas pelos bandeirantes.
Rio Negro se formou em 1826. Três anos depois recebia a primeira leva de colonos alemães que iriam se ramificar pelos mais diversos pontos do interior paranaense, acompanhando as marchas de ocupação do Oeste do Paraná.
Por sua vez, a Colônia Jataí, que tem referência no Município de Jataizinho, começou pela iniciativa do Barão de Antonina de aplicar fórmula dos jesuítas ampliada pela força militar.
Autorizada por decreto em 1851 e oficializada em 1855, deu origem ao decreto n° 2.502, de 16 de novembro de 1859, que previa a fundação de duas colônias militares a ser estabelecidas a partir de Guarapuava.
Segundo relatório de 1862 feito pelo ministro da Guerra, Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, “à vista dos relatórios e plantas que estas comissões apresentaram, resolvi que as mencionadas colônias fossem estabelecidas, uma à margem esquerda, nas proximidades da foz do rio Chapecó, e a outra à margem direita do Chopim, perto da confluência deste rio com o Iguaçu”.
As colônias do Chopim e do Chapecó, segundo o decreto, estavam “destinadas à defesa da fronteira, à proteção dos habitantes dos Campos de Palmas, Erê, Xagú e Guarapuava contra a incursão dos índios, e a chamar os ditos índios, com auxílio da catequese, à civilização”.
Elas seriam criadas pelos capitães José Bernardino Bormann e Francisco Clementino de Santiago Dantas, designados em 15 de outubro de 1880 para chefiar “as explorações e os estudos relativos à escolha das localidades mais convenientes nos limites marcados pelo decreto”.
A importância desses feitos só pode ser devidamente avaliada quando se compreende suas amplas consequências para a formação do Paraná e Santa Catarina e a fixação das fronteiras no Sul do Brasil, ações relevantes que transformaram os dois capitães em vultos nacionais.
Bormann sabia que não bastava criar uma colônia militar – era preciso haver colonos para que além da presença dos militares ela cumprisse realmente sua finalidade.
Foi assim que ao explorar toda a região do antigo Sudoeste paranaense, atualmente Oeste catarinense, ele convenceu em 1882 quarenta famílias a seguir ao desconhecido, cuja única informação disponível era ser habitado por índios também desconhecidos, formando a Colônia do Chapecó (ou Xanxerê).
Sem achar na época um só imigrante europeu que ousasse se estabelecer nessa região de controle indígena, o sucesso na instalação da colônia levou Bormann ao cargo de vice-governador do Paraná, além de assumir o Estado interinamente.
Seu desempenho eficaz lhe valeu um lugar de destaque na política. Eleito deputado estadual em 1901, mais tarde foi chefe do Estado-Maior do Exército (1909) e ministro da Guerra no governo Nilo Peçanha.
Por sua vez, o fluminense Santiago Dantas também teve uma carreira notável. Destacando-se na política do RS, onde foi deputado, já estava na história do Brasil desde o desfecho da revolta dos Muckers, em 1874.
Engenheiro militar e brilhante estrategista, pegando a tropa desarticulada pela morte do comandante Genuíno Sampaio, percebeu as falhas nas forças militares. Armando e treinando civis, virou o jogo contra os fanáticos religiosos.
Essas qualificações lhe renderam o chamado para cumprir a difícil missão de criar a Colônia Militar do Chopim. A primeira comissão da Colônia Militar do Chopim partiu completa de Curitiba em direção a Guarapuava em 3 de novembro de 1881. De lá havia uma picada até o Rio Iguaçu, mas a partir daí só havia o sertão desconhecido.
A equipe comandada pelo capitão Francisco de Santiago Dantas tinha como integrantes o escrivão, alferes Saturnino Augusto de Mendonça Lobo, o capitão Antonio Tertuliano da Silva Mello e o também capitão Belarmino Augusto de Mendonça Lobo, que futuramente será chamado a instalar a Colônia Militar do Iguaçu.
Em janeiro de 1882, o ministro das Relações Exteriores, João Maurício Wanderley (1815–1889), o Barão de Cotegipe, bradava no Senado: “Não se pode consentir que o território argentino adiante-se até o centro de três províncias brasileiras, comprometendo para sempre a nossa segurança nacional”.
Dantas foi apressado a partir de Curitiba para o interior logo que conseguiu reunir o pessoal mínimo necessário para instalar a colônia. Eram 104 pessoas: 40 militares, 17 esposas de militares, 24 filhos de militares e 23 civis (5 casais de colonos e seus filhos, além de dois solteiros).
Depois de muitos dias de viagem o grupo chegou à propriedade do coronel Frederico Virmond, junto ao Rio Iguaçu, conhecida na época como a última moradia daqueles sertões, além da qual poucos se aventuravam, contou Evilásio Fussiger em Chopinzinho, suas Histórias suas Lendas:
“Ali acamparam as mulheres e crianças, enquanto os soldados e colonos abriam trilhas para a passagem dos cargueiros, desmatavam a floresta e procuravam um local adequado para a sede da Colônia”.
Santiago Dantas então declarou: “Aqui, neste pedaço de solo brasileiro, sob este céu sempre nosso, que declaro fundada a Colônia Militar do Chopim”.
Consolidadas as duas colônias, o governo do Paraná decidiu em 1884 iniciar a abertura de uma estrada ligando Porto União a Palmas. As obras estavam a cargo do capitão Belarmino Mendonça Lobo, auxiliado pelo tenente Augusto Porto Carrero.
Lobo, fluminense, havia se destacado na Guerra do Paraguai em combates como os de Tuiuti e Lomas Valentina, onde foi ferido. Ao contrário de acabar ali sua vida de combates, em junho de 1885 Lobo passou a fazer parte do Estado-Maior do Exército, que o designou em 1888 para instalar uma frente avançada em Guarapuava.
Dali ele enviou uma equipe de confiança para instalar a Colônia Militar do Iguaçu, que sob o comando do tenente José Joaquim Firmino após uma jornada penosa de abertura de picada por todo o território completaria a missão em novembro de 1889, já na República.
Além da fundação da Colônia Militar na foz do Rio Iguaçu, o comandante contava com um destacamento de 80 praças do Batalhão de Engenheiros, acrescidos dos soldados que já trabalhavam na regularização da estrada União–Palmas, mais 40 praças de cada um dos corpos da guarnição do Paraná incluindo ainda “as praças do contingente atualmente às ordens da Comissão de Reconhecimento e Exploração do Território Litigioso” para a construção de uma estrada de ligação entre o Paraná e a Província do Mato Grosso.
Portanto, não se trata só de conquistar o Oeste do Paraná: “A ligação destas províncias seria um caminho misto com o reconhecimento e construção de um trecho terrestre e o reconhecimento, mapeamento e balizamento de um trecho fluvial, ligando Palmas a Colônia de Foz do Iguaçu e esta ao Distrito Militar de Miranda, no Mato Grosso”, detalha documento militar datado de 1889.
“Além de interiorizar a colonização, este caminho poderia ser uma alternativa mais ágil de comunicação do restante do país com a Província do Mato Grosso, diminuindo a dependência do acesso pelos rios Paraná e Paraguai, que periodicamente apresentavam problemas à livre navegação brasileira como consequência das tensões políticas no Prata”.
Completava-se na futura Foz do Iguaçu o trio de colônias militares definidas como essenciais para impor o domínio brasileiro na região. Mas Lobo não parou aí, nem mesmo ao ser eleito pelo Paraná à Assembleia Constituinte de 1890. Quatro anos depois ele decidiu voltar à vida militar, fiscalizando a navegação dos rios Iguaçu e Negro, parte importante dos esforços para a interiorização.
Os fatos desmontam, assim, a falsa história de que a ocupação do Oeste foi “espontânea”.
A Rodovia Estratégica, que em breve iria passar pela Encruzilhada dos Gomes em um novo traçado, encontrava-se no mais completo abandono, não oferecendo condições nem mesmo ao tráfego de carroças. Eram tempos, definitivamente, muito ruins.
O engenheiro Francisco Natel de Camargo começou as obras da Estratégica em Guarapuava e seguiu em direção à Colônia Mallet (futura Laranjeiras do Sul), onde já havia um pequeno povoado, com estação telegráfica e alguns estabelecimentos comerciais.
Ao avançar pelo interior, constatou que o primeiro traçado da Estrada Estratégica passava pelos afluentes do Rio Iguaçu, tornando as viagens bastante penosas. Não raro os viajantes eram obrigados a acampar junto a atoleiros.
Um novo trajeto foi projetado em função do divisor de águas e é praticamente o mesmo da atual BR-277. Foi o que deu à antes desprezada Encruzilhada dos Gomes seu caráter estratégico, fonte da futura cidade que ali se levantou
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