
Guarânias e polcas são sempre ouvidas entre Foz do Iguaçu e Guaíra. Muita MPB se ouve no dia a dia de Toledo, culminando em agosto último, com a promoção do 1º Festival da Música Brasileira. Cascavel, por sua vez, tem uma longa tradição nesse campo e os eventos que mais favorecem a atração de turistas, incluindo o Oeste paranaense no mapa cultural, são os festivais de jazz.
O jazz, música mundial de origem afro-americana, está além do tempo e do lugar. Foz do Iguaçu, pelo caráter de sua tríplice fronteira, formada por 95 nacionalidades, vem de sacudir o universo cultural brasileiro ao promover no início de novembro o 100fronteiras Jazz Festival.
Tendo como atração mais conhecida o guitarrista britânico Robin Banerjee, ligado à cantora Amy Winehouse (1983–2011), o festival 100fronteiras já tem a segunda edição programada para abril de 2026 com uma pauta ainda mais abrangente.
A tradição dos festivais começa em 15 de abril de 1950, quando o sargento José Rufino Teixeira, da Aeronáutica, propôs um para arrecadar fundos e construir a primeira sede do Tuiuti Esporte Clube, que ele fundou em Cascavel no ano anterior.
O festival foi organizado pelo comerciante Estanislau Schervinski e se realizou em 1º de maio seguinte. O sucesso dessa edição pioneira abriu caminho aos próximos.
O mesmo Tuiuti, por proposição do líder estudantil Dione Wanderley Martins, da Aces (Associação Cascavelense dos Estudantes Secundários), promoveu em janeiro de 1971 um festival que logo caiu no gosto popular e teve edições anuais: o Festival Regional da Canção Popular, que mais tarde seria promovido a nacional, dividido nas categorias interpretação e composição.
O primeiro lugar do festival de 1971 coube, na categoria Interpretação, à cantora Eleuza Pereira Godoy. Em Composição venceu Jeanine De Bona, de apenas 12 anos, com sua “Cantiga pela Paz”.
O festival evoluiu ao longo dos anos e se manteve enquanto se enquadrou nos interesses comerciais da televisão, até dezembro de 2002, com a 27ª edição, realizada no Centro Cultural Gilberto Mayer, mas obscurecida pelo sucesso do festival de jazz, que nessa temporada teve a sua mais concorrida edição.
A história do Cascavel Jazz Festival, por sua vez, começou com o Encontro de Bateristas do Oeste do Paraná, proposto pelo professor William Fischer e realizado 13 a 15 de novembro de 1993 no Centro de Desenvolvimento Som & Ritmo, escola de música na qual pontificavam as professoras Consuelo Spoladore e Denise Beal
Denise se notabilizou pela formação do Quarteto Sollare e variações. Consuelo se destacou na Secretaria Municipal da Cultura de Cascavel como diretora do Centro Cultural Gilberto Mayer. Participaram da iniciativa, dentre outros, também o compositor e instrumentista Luciano Veronese e o jornalista Paulo Martins.
Já crescendo, dois anos depois acontecia o Encontro de Bateristas do Cone Sul, no Centro Cultural Gilberto Mayer. O original Encontro de Bateristas evoluía no próprio andamento dos workshops, estudos de videoaulas, partituras e métodos para instrumentos musicais.
No desenvolvimento das atividades iniciadas em 1993 surgiu a ideia de em próximas edições chamar músicos destacados de outros instrumentos, ampliação que por sua vez evoluiu para o Cascavel Jazz Festival, assim denominado a partir de 1999.
Já em 1996 o Encontro de Bateristas teve paralelamente o Encontro de Baixistas e Músicos. Para se consagrar como um dos mais importantes eventos do país, em 1997 uma nova ideia surgiu: além de apresentar destacados nomes da bateria brasileira em apresentações solo, rechear o festival com a participação de bandas, o que foi acontecer em 1998, com outra inovação: o Concurso Nacional de Instrumentistas, para descobrir novos talentos.
Juntando vários elementos complementares, o Cascavel Jazz Festival virou o milênio como um dos mais atraentes espetáculos da música instrumental no país. Em 2001, um novo salto: parceria com o Conservatório Souza Lima (SP) selecionava revelações musicais para se apresentar em Cascavel.
O auge chegava em 2002, na edição especial comemorativa de 10 anos da promoção, com a presença de ícones da música instrumental nacional e internacional, tais como Hermeto Pascoal (1936–2025) e Robertinho Silva.
Já um grande nome da música brasileira, dominando vários instrumentos – piano, flauta, baixo, escaleta e até um surpreendente copo d’água –, Hermeto passou a ser mundialmente reconhecido entre os maiores desde o I Festival Internacional de Jazz, em 1978, em São Paulo, ao lado de Chick Corea, John McLaughlin e Stan Getz.
A vinda de Hermeto Pascoal para um tour pelo Paraná se deve à sua companheira, a cantora Aline Morena, mas é provável que sua participação no festival de jazz de Cascavel, de 30 de outubro a 2 de novembro de 2002, tenha pesado na decisão de vir morar no Paraná, já que antes de fixar residência em Curitiba, em 2003, ele morou vários dias em Cascavel durante e depois do festival.
O 10º Cascavel Jazz Festival foi extenso, com 12 concertos, seis workshops, uma palestra e a participação de mais de 60 músicos. A jornada começou no fim de outubro e além de invadir novembro se estendeu durante o ano de 2003, quando se completou a internacionalização do festival, ao receber uma comitiva francesa.
No período em que esteve participando do festival, Pascoal não só participou da vida cultural da cidade como até compôs novas canções ao lado de sua banda, que além da cantora Aline Morena era formada pelo baterista Márcio Bahia, pianista André Marques, baixista Itiberê Zward, Vinícius Dorin no saxofone e o filho Fábio Pascoal na percussão.
Como se não bastasse a presença de Hermeto Pascoal e sua banda, nessa mesma temporada o festival também recebeu a participação sempre brilhante do esmerado violonista Yamandu Costa, no início de sua arrancada como virtuose no instrumento de sete cordas que o levaria a conquistar o Prêmio Grammy Latino de 2020.
Um dos participantes mais festejados foi o baterista Robertinho Silva, parceiro de longa data de Milton Nascimento, que trouxe a família de músicos para acompanhá-lo: os filhos Ronaldo, Vanderlei, Pablo e Thiago. Outro baterista aplaudido foi o quinteto de Dudu Portes, com passagem pela ótima banda de Elis Regina.
O guitarrista e compositor Juarez Moreira trouxe seu trio e o guitarrista Miguel Mega e quarteto participaram da jornada em que a emoção maior ficou na conta do baterista Pato Romero, convidado especial da edição por ter participado da primeira, em 1993.
Argentino, Romero desde 1984 integrava a banda Blindagem, ligada ao escritor Paulo Leminski, que fez muito sucesso no Brasil e no exterior.
Enquanto o Cascavel Jazz Festival chegava em 2002 à consagração como evento de destaque na cultura nacional, o ano de 2003 traria o último ano do Festival Nacional da Canção Popular (Fercapo).
Toledo também teve um importante festival de jazz, em abril de 2015. Inspirado no sucesso da promoção de Cascavel e fazendo parte de suas etapas, uma das principais atrações do Toledo Jazz Festival, promovido pelo Ministério da Cultura, Copel e Viapar com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura, foram Rafael Heiss e seu trio.
O baterista Heiss, nascido em Toledo, começou a carreira ao participar das aulas do Cascavel Jazz Festival e em seguida se tornou um astro de seu instrumento no Brasil e exterior.
Também participou com destaque da edição do festival em Toledo o grupo Sala de Música, do baixista Bira, conhecido por participar do sexteto de Jô Soares na TV, também integrado pelo cantor fluminense Marcos Hasselman, já bem conhecido no circuito internacional.
Não há por que estranhar que a Prefeitura de Toledo não tenha promovido outras edições do festival de jazz. A expansão nacional e internacional do festival de Cascavel criou etapas em diversas cidades, dentre as quais Toledo, Curitiba, Maringá, Campo Mourão, Natal (RN), São Paulo, Rio de Janeiro e Recife (PE), como foi destacado no CD comemorativo aos 10 anos do CJF. A repetição de nova etapa em cada cidade depende mais de arranjo que de improvisação.
As iniciativas de colonização pararam devido à Gripe Espanhola, em 1918. A peste mostrou com especial agressividade a tremenda escassez de recursos médicos com que os pioneiros trabalhavam no eixo Guarapuava−Foz do Iguaçu.
Mesmo assim a estrada que viria a ser a BR-277 estará plenamente concluída de Leste a Oeste do Paraná em novembro de 1919, em ritmo acelerado e com muitos sacrifícios.
O Paraná assim encerrava a segunda década do século XX ligando via rodoviária o litoral à fronteira. Estava oficialmente concluída a Estrada Estratégica – também chamada de Transbrasiliana, por cortar o Brasil de Leste a Oeste.
Com uma ávida busca pelo pinheiro paranaense no pós-I Guerra, logo os caminhões vão testar a trafegabilidade da Estratégica em 1920.
Para estimular a construção de vias férreas, o governo paranaense contratou a Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, oferecendo em troca dos trilhos o direito de uso sobre uma vastíssima área de 2,1 milhão de hectares.
Esse direito, que também deveria levar embutidas as obrigações referentes à construção do ramal Guarapuava-Foz do Iguaçu, foi cedido pela companhia ferroviária à colonizadora Braviaco (Companhia Brasileira de Viação e Comércio).
Em 18 de fevereiro de 1920, a lei estadual 1.909 atribui à Braviaco a execução da Estrada de Ferro Oeste do Paraná.
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